Poder: o crack do Espírito

Dimas Lucena

Prof. da UFPB e Doutor em Educação

“Todos amam o poder, mesmo que não saibam o que fazer com ele” afirma Benjamin Disraeli, essa é uma reflexão importante. Ela nos leva a compreender que todos desejam uma forma ou um tipo de poder. Mas o que é esse fenômeno? O que fazer com ele? Existem diversos tipos de poder: o Poder Político do Estado, o Poder Econômico, o Poder Militar, o Poder Intelectual, entre diversos outros que se ramificam na teia do cotidiano humano e das relações sociais, esse último inspiradamente pensado por Michael Foucault na sua “Microfísica do Poder”.

A segunda questão (o que fazer com o Poder?) é filosófica e existencial. As pessoas tornam-se infelizes ou fazem a infelicidade dos outros justamente porque não sabem utilizar o poder que têm. Aliás, muitas vezes destróem suas vidas e / ou das pessoas que fazem parte da sua existência.

O Poder nesse caso é embriagante e o indivíduo fica totalmente dependente dele. Trazendo para o cotidiano, quantas pessoas você não conhece que ao adquirirem alguma forma de poder (assumiu cargos públicos, ascensão financeira, etc.) transformaram-se completamente? Mudam a forma de relacionar-se com as pessoas; abandonam a(o) Companheira(o) de uma vida inteira; tornam-se arrogantes e insensíveis.

Psicologicamente a sensação de poder faz a pessoa despreparada para lidar com ele sentir-se um Semi-Deus (ou o próprio). Por exemplo, ao assumir um cargo público onde passa é saudado, está sempre com agenda cheia, é bajulado, as pessoas querem saudar porque sentem atração pela Autoridade ou porque precisam dela. Mas esse fenômeno não é dirigido para o indivíduo, é para o Cargo que ele ocupa temporariamente. Frágil e temerária ilusão. O Poder é sempre um risco na água na dimensão da vida dos indivíduos, ele é sempre passageiro. Um lampejo apenas.

Enquanto vive-se momentos de Poder vale a pena trair? Vale a pena por um cargo destruir Amizades construídas por décadas? Vale a pena voltar-se contra as pessoas que outrora estenderam as mãos e abriram espaços no coração? No entanto, a luta insana pelo Poder, ou por sua manutenção, é feita “a qualquer preço”, perde-se totalmente a dimensão de uma Ética de respeito. Perde-se os valores pelos quais valham realmente a pena a vida e o viver.

Se não sabes o que fazer com o Poder que tens e o coloca acima de tudo, ainda que sejas poderoso, és motivo apenas de pena e de tristezas. Nesse caso podemos afirmar que o Poder é o Crack do Espírito. O indivíduo fica alienado, escravo do vício e torna-se um farrapo na dimensão dos essenciais Valores Humanos. A inevitável crise de abstinência será a sensação de fracasso e profunda solidão.