PMDB: Golpe e contragolpe

Paulo Santos

Há muito não se via, na política paraibana, uma ação tão fulminante como a do final de semana passado envolvendo o PMDB. Um golpe foi engendrado no Olimpo e o contragolpe surgiu como um raio. Tudo aconteceu com rapidez estonteante, quase na velocidade da luz.

Há quem possa achar essas comparações irônicas, mas não são. O golpe saiu do Altiplano porque os radares de José Maranhão devem ter detectado qualquer coisa parecida com conspiração, síndromes que costumam acometer alguns políticos após desastres, cataclismas e hecatombes.

O golpe desferido pelo lendário líder peemedebista pode ter sido formulado pouco depois do sepultamento das urnas inglórias de 2012 e a abertura – na escuridão – de conversas para 2014. Se isso ocorreu, foi um salto e tanto no calendário próprio dos candidatos que se preparam para concorrer daqui a dois anos.

O contragolpe foi arquitetado quando os códigos do golpe ainda estavam a caminho da sede na avenida Beira-Rio. Informação é poder e os que acompanhavam os movimentos de Maranhão tinham mais do que suspeitas: viram a convocação de uma convenção praticamente fechar-lhes os caminhos e resolveram abrir picadas a fórceps.

Essas e outras crises peemedebistas que virão podem ser contabilizadas no arquivo das crônicas anunciadas. As escaramuças anteriores foram jogadas para debaixo do tapete na aurora da campanha deste ano. Manuel Júnior queria ser candidato a Prefeito de João Pessoa, Gervasio Maia foi para o confronto com Márcio Roberto, Trócolli Júnior inaugurou o vai-e-vem cabedelense, a dupla Wilson e Santiago ficou caladinha, etc.

Muitos desses fatos ficaram engasgados nas goelas dos pretensos rebeldes porque não tinham tamanho político, individualmente, para enfrentar o filiado-mor Maranhão. A musculatura do grupo ficou fortalecida, contudo, em face da derrota acachapante na Capital, inclusive incitando vereadores a se enfronharem na luta contra o domínio de um só ponto de vista.

Irônico, no desenrolar dos fatos, é que Maranhão “baixou o sarrafo” no comportamento do governador Ricardo Coutinho (PSB) para impor uma candidata, em João Pessoa, que era de sua vontade, mas não representava a totalidade das opiniões socialistas e deu-se o “racha” no meio da campanha. O PMDB, com Maranhão, agiu da mesma forma que Ricardo no PSB, mas manteve-se aparentemente unido.

Vingança é um prato que se come frio, disseram os botões dos que se sentiram escanteados em 2012 e começaram a projetar 2014. Maranhão deve ter concordado com seu umbigo quando ouviu insinuações de que os rebeldes teriam tempo para se amotinar até a próxima convenção, programada para dezembro. Ao tentar antecipar os prazos para manutenção da hegemonia, o mais ilustre morador do Altiplano aguçou os ímpetos de revolta.

Maranhão agora sabe que não senhor absoluto da “máquina” peemedebista nem mandato para abrir o cofre das benesses de troca. Fragilizado pelo inesperado quarto lugar na abertura das urnas da Capital do dia 7 passado, o ex-Governador achou que tinha imunidade, no intervalo de três dias, para receber a ex-adversária Estelizabel Bezerra em casa, com pompas e circunstâncias.

Não existe café de graça em política. Está custando caro a Maranhão perder duas eleições consecutivas e ainda ter oferecido água e café à representante do atual ocupante do Palácio da Redenção. Está ficando sem alguns anéis e arrisca seus dedos.

Um passarinho de boa memória sussurra, aqui ao lado, que Maranhão já não era o único estrategista do pedaço pois Gervásio Maia declinou, diante de Sua Majestade Michel Temer 1º, do pseudo-honroso convite para ser candidato a vice-prefeito. Os resquícios da vitória dada por Maranhão ao deputado Márcio Roberto, meses antes, aflorou na convenção em que o candidato peemedebista jogou as jangadas ao mar.

Líder, para ser bom, tem que vencer. O PMDB pode melhorar seu filme, em 2012, se Tatiana Medeiros vencer depois de amanhã em Campina Grande. Se a doutora não obtiver sucesso, lá na Borborema, os fantasmas da Borborema também virão arrastar suas correntes na sede da Beira-Rio. Vai ser difícil segurar a onda de cobranças por renovação e a transfusão com sangue novo pode ser o passaporte para o senador Vital Filho ser o próximo comandante. Pode ser o confronto de perdedores.