Confronto

PM usa gás de pimenta e bomba de efeito moral em protesto contra PEC

img_4165A possibilidade de aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos na tarde desta terça-feira mobilizou milhares de manifestantes que se reúnem no gramado do Congresso Nacional em protesto contra o texto. No auge, a Polícia Militar chegou a estimar 12 mil pessoas. Os manifestantes falavam em 50 mil. Parte da multidão, que reuniu grupos heterogêneos, entrou em confronto com os policiais. Houve excesso dos dois lados. E, de acordo com a PM, oito pessoas foram presas.

No fim da tarde, um tumulto começou a se formar, e a multidão chegou a virar um carro de uma emissora de TV. Eles foram dispersados pela polícia militar com gás de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha e recuaram no gramado da Esplanada, se concentrando na alameda dos Estados. Mais tarde, um segundo carro foi virado por manifestantes mascarados.

Por volta das 21h40m, a votação da PEC ainda não havia começado. Mas, uma hora depois, o processo foi concluído, e o texto-base da proposta, aprovado em primeiro turno.

O capitão Michelo, da PM, disse que os manifestantes pretendiam incendiar um dos veículos virados. Ele relatou também que participantes do ato jogaram coquetel molotov e chegaram a disparar uma flecha contra a equipe de segurança.

— Por isso que tivemos que atuar — justificou o policial.

No início da noite, um grupo empurrou cabines de banheiros químicos para a pista da Esplanada.

Em nota, o governo de Brasília repudiou os atos do protesto, que classificou como “de vandalismo e de barbárie”.

Ainda de acordo com o texto, “quatro pessoas foram conduzidas à delegacia, cinco ocorrências de dano foram registradas na Polícia Federal”.

‘CLIMA DE TERROR’

Os manifestantes também quebraram vidros da entrada do Ministério da Educação, que ficou destruída. Houve danos, ainda, nas paredes, e até os caixas eletrônicos que ficam na recepção do prédio foram atingidos.

No MEC, imagens do circuito interno estão sendo avaliadas para tentar identificar os manifestantes. Muitos que invadiram o local com barras de ferro estavam encapuzados, segundo funcionários da pasta. Além de tocar fogo em pneus e no lixo, o grupo é acusado de usar coquetel molotov. De acordo com pessoas que presenciaram o quebra-quebra, de 50 a 100 pessoas participaram dos atos de vandalismo.

O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que os funcionários viveram “clima de terror” durantes os atos de vandalismo no prédio da instituição. Segundo a pasta, foram atingidos o térreo e os dois primeiros andares do edifício. O gabinete do ministro fica no oitavo pavimento. “Os servidores do MEC viveram clima de terror. Isso é inaceitável. Como democrata que sou, entendo o direito de protestos, mas deforma civilizada, respeitando o direito de ir e vir. O que vimos hoje foram atos de violência e vandalismo”, disse Mendonça, em nota.

OPOSIÇÃO APONTA TRUCULÊNCIA

Dentro do plenário, os senadores mal escutavam o tumulto do lado de fora. Após a confusão no gramado do Congresso, vários parlamentares da oposição, como as senadoras Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Grazziotin (PC do B-SC) e o senador Lindbergh Farias (PT-PB), acusaram a polícia de truculência e pediram para que Calheiros liberasse a entrada das pessoas para assistirem a sessão dentro do plenário.

— O pleito que fazemos a Vossa Excelência é para que abra as galerias, e terá nossa solidariedade e apoio total e irrestrito, para que, na hora em que for descumprido o Regimento, as medidas cabíveis sejam adotadas. Então, não é possível votar uma emenda constitucional de 20 anos, que interfere na vida das pessoas, no cotidiano de todos os brasileiros e brasileiras com as galerias vazias — disse a senadora Vanessa.

O presidente Renan Calheiros afirmou que as galerias estão abertas mas não para que as pessoas tumultuem a sessão e não deixe os senadores deliberarem.

INTERRUPÇÃO NO SENADO

No plenário do Senado Federal, uma mulher que se identificou como Gláucia Morelli, presidente da Confederação Nacional das Mulheres do Brasil, foi retirada à força e encaminhada, junto a outras duas pessoas, para a Delegacia de Polícia Legislativa após interromper o presidente da casa, Renan Calheiros, com gritos contrários à proposta.

A PEC que fixa um teto para a despesa pública por 20 anos tem forte resistência social sobretudo pelas mudanças no cálculo do mínimo constitucional para as áreas de saúde e educação. Hoje, o piso de recursos para essas áreas é calculado como um percentual da receita.

A proposta quer mudar essa metodologia a partir de 2018. Ela determina que o piso de recursos para essas áreas deverá ser correspondente ao gasto no ano anterior mais a inflação do período. O texto encontra forte resistência entre estudantes, que estão mobilizados há várias semanas.

A entrada de pessoas no Congresso Nacional está sendo controlada para qualquer pessoa sem o crachá do local por conta das manifestações. Após a invasão no plenário, Calheiros proibiu a circulação também nas galerias.

A mulher que invadiu a sessão não disse como entrou no prédio. Ela interrompeu Calheiros no início da sessão plenária e afirmou que a PEC é “contra o povo” e vai prejudicar a área da saúde. O presidente interrompeu a sessão para escutá-la por alguns minutos, até que a polícia legislativa retirasse a mulher e dois companheiros à força. Senadores petistas acompanharam os manifestantes até a delegacia, onde devem prestar depoimento.

Fonte: O Globo