Placebos, mezinhas e garrafadas

Rubens Nóbrega

Fico a cada dia mais impressionado com a quantidade de informações espantosas que circulam no mundo, sobretudo no mundo virtual, divulgando supostos benefícios e pretensa capacidade terapêutica ou curativa de certos produtos, substâncias, simpatias, alimentos, hábitos alimentares e etílicos.

Temos remédio pra tudo e todos os gostos. Alguns inusitados, surpreendentes, quase sempre de duvidosa eficácia, principalmente aqueles que prometem milagres como emagrecimento a jato, secar e tonificar a barriga em uma semana, estancar ou reverter calvície, acabar em definitivo com rugas e celulite, melhorar o desempenho sexual e aumentar o…

É uma grandeza o que tem de propaganda ludibriosa em cima desses ‘milagres’. Na mesma proporção, não está no gibi o tanto de gente que adora ser enganada facilmente. Eu mesmo acreditei em algumas dessas promessas de paraíso e só fiz foi gastar dinheiro. Óbvio que não vou revelar o que comprei, muito menos se deu algum resultado.

O importante aqui é mostrar pra vocês como se dança o baião em meio a tantas possibilidades de longevidade saudável ou performances atléticas que nos convencem de que seremos capazes.

Nesse faz-de-conta, a depender da doença ou objetivo, a gente acaba apostando até na mais tradicional e inofensiva mezinha da vovó ou adere sem piscar aos placebos modernos vendidos como medicamentos revolucionários pela indústria farmacêutica mais gananciosa e picareta. Coisa de consumidor passivo, da categoria dos mais crédulos ou, diria Tião Lucena, dos mais bestas.

Tomate e babosa
Venho colecionando histórias e pesquisas curiosas, algumas hilárias, sobre as modernosas ‘garrafadas’. Como aquela de que o tomate ajuda no combate ou prevenção ao câncer de próstata. Dizem que é porque o bicho é rico em licopeno, a substância responsável pelo vermelho do fruto do tomateiro.

Mas, pra fazer efeito contra o câncer, tem que ser cozido, ensina um saite chamado Tudo Responde. Bem, lenda ou ciência, pelo sim pelo não eu como, no mínimo, duas rodelas por dia. De tomate, bem entendido.

Além do tomate, tenho como extraordinário o caso da babosa, pelo bem que a planta faria aos sofredores de hemorróidas. Um colega de UFPB que faz o tipo bem humorado e exagerado, por exemplo, disse que uma vez, numa crise braba, resolveu comprar dois hectares de babosa e em pouco tempo consumiu a safra inteira.

“E o resultado?”, perguntei. Ele: “Acabei numa mesa cirurgia paga pelo SUS e inda fiquei devendo o anestesista, porque gastei todo o meu dinheiro na plantação”.

Já o jornalista Duda Teixeira de Carvalho, outro estudioso dos poderes miraculosos de alguns elementos do reino vegetal, contou-me outro dia que um médico lá de Bananeiras andaria receitando suco de laranja como método contraceptivo.

“Tudo começou quando um casal, já no sétimo rebento, mas sem querer usar camisinha nem anticoncepcional, foi ao Doutor em busca de alternativa para parar de ter menino”, narrou-me Duda. “Tomem suco de laranja”, prescreveu o médico. “Antes, durante ou depois do sexo?”, quis saber o marido. “Em vez de”, orientou o Doutor.
Ô povo criativo!

O mais sensacional desses avanços supostamente científicos é a diversidade e a criatividade dos seus autores. Digo isso porque na quinta-feira (7), pleno feriado, dei uma olhada no portal da BBC e lá encontrei matéria com o seguinte e instigante título: “Troca de olhares com homens aumenta temperatura das mulheres, diz estudo”.

Segundo o respeitado serviço jornalístico britânico, “pesquisadores da Universidade de St. Andrews descobriram que a mera interação visual entre duas pessoas do sexo oposto pode causar um considerável aumento da temperatura do rosto das mulheres”.

“Uma das principais autoras do estudo, Amanda Hahn, disse que os pesquisadores mensuraram a temperatura da pele na mão, braço, rosto e seios das mulheres que interagiram com homens. Os resultados revelaram um aumento dramático de temperatura no rosto”, acrescenta o texto da BBC.

“Vou acreditar como se fosse verdade”, diria o Doutor Paulo Soares se lesse ou lhe contassem o que eu li. Leitura que me levou à natural checagem. Resolvi testar na prática a conclusão da pesquisa da Doutora Amanda. Mas o fiz em nome da ciência, aviso logo que é pra ninguém pensar nem falar bobagem.

Pois bem, na sexta pela manhã, durante o expediente passei a dirigir olhares melífluos para uma das mais jovens e bem apetrechadas colegas de repartição. Por alguns segundos ela retribuiu e me pareceu bastante incomodada, como que validando a pesquisa. Mas aí a moça veio até o meu birô e…

– Seu Rubens, o senhor por acaso está com o controle do ar condicionado? Preciso aumentar um pouco a temperatura da sala, que tá um gelo e atacando a minha sinusite de um jeito que só o senhor vendo. O senhor não se incomoda, né? – perguntou a bonitona, para a minha enorme decepção. Com a pesquisa e comigo mesmo.