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Pizzolato poderá ficar mais de seis meses preso na Itália

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O Globo

Cinco minutos depois de uma juíza decidir manter Henrique Pizzolato na prisão por risco de fuga, o advogado italiano do fugitivo brasileiro, Lorenzo Bergami, disse na saída da Corte de Apelação de Bolonha que o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil poderá ficar “um, dois ou seis meses” na prisão. Ou seja, até que haja uma decisão final sobre a extradição de Pizzolato. Bergami disse, ainda, que vai esperar um “elemento novo” para tentar reverter a decisão desta sexta-feira e pedir a liberdade de seu cliente.

Confira, abaixo, a íntegra da entrevista dada na porta da Corte de Bolonha:

Lorenzo Bergami : Ele vai permanecer na Penitenciária de Modena até que eventualmente se modifique a medida cautelar (que determinou sua permanência na prisão) ou terá de esperar a medida da extradição.

Porque a Corte negou sua liberdade?

Não sei. Saiu um procedimento com um motivação muito dura. Provavelmente pelo perigo de fuga. Não falamos de extradição. Ele apenas negou que aceitaria a extradição. Eu pedi que não fosse aplicada nenhuma medida cautelar ou que, se tivesse de ser aplicada, que fosse prisão domiciliar.

Pizzolato falou?

Pizzolato falou, explicou as razões pelas quais ele veio do Brasil. Segundo ele, o processo não foi administrado de uma forma correta . Disse que era um processo politico. E disse que não cometeu o que foi dito que ele cometeu.

Ele explicou os documentos falsos?

Ele não explicou nada disso porque não tem relação com a jurisdição italiana.

O que ocorre agora?

O Ministério da Justiça brasileiro tem que transmitir ao Ministério da Justiça da Itália uma serie de atos que justifiquem um pedido de extradição. Tem um prazo de quarenta dias que precisa ser respeitado, ao final do qual terá uma audiência na Corte de Apelação quando se decidirá se o pedido de extradição pode ser aceito.

Ele fica na prisão até a chegada dos documentos?

Não necessariamente. Ele vai permanecer até que o juiz julgue suficiente a medida cautelar (que o mantém na prisão). Ele pode até sair antes.

Tem prazo essa medida cautelar?

(O prazo) são os quarenta dias que os documentos precisam chegar (documentos pedindo a extradição enviados pelo governo brasileiro). Ele não fica na prisão, não necessariamente. Pode ser que haja uma mudança na medida cautelar. Pode ser que a medida cautelar seja substituída.

E o que o senhor vai fazer para mudar isso?

Não sei. temos que refletir um pouco. O pedido de extradição ainda não chegou.

O que o juiz falou para justificar (a decisão de mantê-lo preso)?

Justificou dizendo que há o perigo de fuga para o estado italiano e portanto ele pensa que seja adequado permanecer na prisão. Foi um comparecimento diante de um conselho da Corte de Apelação. Não foi um decisão colegiada. Hoje, compareceu exclusivamente para perguntar se ele quer ou não a extradição.

O senhor esteve com a mulher (de Pizzolato)? O que decidiram?

Sim, mas não tem importância o que discutimos.

Vocês não decidiram a defesa?

Não. Falamos de outra coisa…Não falamos sobre a audiência desta manhã.

O senhor falou sozinho com Pizzolato?

Certamente. Ele está muito sereno, muito tranquilo e tem muita confiança na Justiça italiana.

Quanto tempo acha que vai ficar na prisão?

Não sei. pode ficar um mês, dois meses ou seis meses.

Ele poderia sair em uma semana?

Dificilmente. Mas pode ser. Na verdade, é bastante difícil.

Porque se pode mudar medida cautelar?

Porque o juiz tem que validar o argumento de medida cautelar. E com o decorrer do tempo, ou com a aparecimento de nova situação, ele pode mudar. Se num dado momento é necessária a custódia na prisão, passada um certo tempo e à luz, quem sabe, de novos elementos, que sejam apresentados ao juiz, pode provocar uma mudança na exigência de medida cautelar. Essa é uma prisão provisória baseada no pedido de prisão da Interpol.

A juíza explicou porque ela pensa que há motivo de fuga?

Não especificou, mas ficou bem claro no discurso da juíza que ele fugiu do Brasil e ele tinha um documento falso. A razão foi essencialmente essa.

Foi o que pesou o fato do documento falso?

Talvez não tenha sido decisivo, mas teve uma influência.

Quais próximos passos?

Agora vamos avaliar e ver se conseguiremos alterar ou ter a substituição da medida cautelar, é prematuro dizer agora (o que vamos pensar). Precisamos pensar um pouco.

Quais as condições dele no caso? Quantas pessoas na cela?

Ele está muito tranquilo em relação a situação do cárcere. Não está em isolamento nem tem medidas punitivas. Ele é um prisioneiro comum.

Ele está sozinho numa cela?

Não.

Quantas pessoas?

Talvez com duas ou três. Não há celas individuais. A situação das prisões na Itália é difícil ter cela para uma pessoa. Não sei com quem ele esta na cela.

E as visitas da família?

Penso que sejam de seis a oito visitas por mês. Não sei quais os dias porque (não soube explicar)

O senhor fez um pedido para libertá-lo e não foi aceito, é isso ?

Certo quando tivermos qualquer elemento novo para o juiz, que vai decidir se esses elementos novos são suficientes para substituir essa medida cautelar. Nao é amanha que vou fazer um pedido novo. Nao vou impetrar um recurso sem nada para adicionar.

Ela tem intenção de conceder entrevista à imprensa italiana. Aos italianos, sim. Aos jornalistas brasileiros ela não tem nenhuma intenção de falar. O motivo é que ela não está contente com o que escreveu a imprensa brasileira no curso do processo. É uma escolha dela. Ela me disse apenas: “eu com a imprensa brasileira nao tenho intenção de dar nenhuma declaração.”Ela não estava no tribunal porque não podia entrar.

Ele (Pizzolato) fala perfeitamente o italiano ? Ele falou muito tempo?

Não cronometrei, mas falou uma meia-hora.

Ele falou pra burro…

Não é muito.

Como ele estava? Emocionado? Com raiva?

Está absolutamente tranquilo. Sereno, lucido e respondeu detalhadamente todas as perguntas que foram feitas. (…) Não houve perguntas específicas sobre o caso. Não se entrou no mérito do processo brasileiro.

Que tipo de pergunta foram feitas?

Fizeram perguntas sobre o seu papel no Brasil, suas atividades no Brasil, o que ele fazia no Brasil, em suma, quem era ele.

Então ele admitiu ser a pessoa procurada pela policia…

Absolutamente, sim. . Disse que era a pessoa procurada e todo o seu percurso de trabalho no Brasil. Cargos públicos que ocupou no Brasil e também dentro dos sindicatos.

Ele insistiu que foi um processo politico?

Ele disse que se trata de um processo político, mas vocês têm que entender que a natureza de um ato politico é um conceito jurídico complexo. (…) A primeira coisa que disse é que não quer ser extraditado. Disse para responder a primeira pergunta da juíza depois de dizer o nome.

Ele falou das condições de cárcere no Brasil?

Não falamos.

O sr. tem ideia da estratégia de defesa ?

Não, é muito cedo. Temos que pelo menos esperar que o Brasil envie um ato porque não mandou nada até agora. Temos somente o mandado de prisão internacional.

O sr. disse que ele estava sereno, mas ele não ficou furioso com essa decisão?

Não. Muito tranquilo, não puxou os cabelos.