PF suspeita de tráfico de influência por parte de ex-diretor da Petrobrás

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A Polícia Federal rastreia consultorias milionárias que o engenheiro e ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa – alvo da Operação Lava Jato – fechou com empresas contratadas pela estatal. A PF suspeita que Costa exerceu tráfico de influência na Petrobrás e abriu as portas para empresas às quais ele próprio prestava assessoria.

Os investigadores trabalham com a hipótese de que o ex-diretor, associado ao doleiro Alberto Youssef, o Primo, suposto operador de um esquema de lavagem de dinheiro, destinava parte das comissões que recebia a título de consultoria para custear campanhas eleitorais.

Documentos recolhidos na primeira etapa da missão e a interceptação de e-mails de Youssef reforçam a suspeita de que a organização por eles integrada repassava valores para deputados e partidos políticos, entre os quais o PP e o PMDB. A Lava Jato foi desencadeada dia 17 de março para estancar lavagem de R$ 10 bilhões, segundo estimativa da PF. Youssef e Costa estão presos em caráter preventivo.

O elo do executivo com as empresas foi revelado pelo programa Fantástico, da Rede Globo. Estão sob análise dos investigadores pelo menos 19 contratos firmados entre 4 de setembro de 2012 e 17 de janeiro de 2013 pela Costa Global Consultoria, que pertence a Costa.

Planilhas encontradas na casa de Costa mostram que 6 contratos foram firmados pela Petrobrás com a Astromarítima Navegação S/A em outubro de 2013 no valor atualizado de R$ 490 milhões. Os investigadores suspeitam que ele teria recebido comissão de 50% sobre o valor de cada contrato de afretamento de embarcações. Costa lançou em planilha intitulada “posição dos negócios Costa Global” o nome Astromarítima e as condições por sua participação -“contratos remunerados mensalmente mais a success fee (taxa de sucesso)”.

Sobre o contrato com a Astromarítima, o ex-diretor da Petrobrás anotou “validade de 2 anos, e ganho de 5% do valor bruto e mais 50%”. Os peritos da PF avaliam que a empresa pagaria comissão até o limite de R$ 110 milhões e mais 50% sobre o montante que superasse esse valor.

Frigorífico. A Astromarítima esclareceu que Costa tentou levar o controlador do frigorífico JBS (J&F) para investir na empresa. J&F e Astromarítima disseram que foram procurados por ele. As empresas fizeram uma reunião, mas não houve interesse do controlador do frigorífico em fazer o investimento. O ex-diretor da estatal chegou a assinar um pré-contrato de “intermediação de negócios” com a Astromarítima. O executivo cobraria, se o acordo fosse adiante, 5% de comissão – a “success fee”.

Caso o J&F pagasse mais que os R$ 110 milhões que a empresa calculou valer, Costa receberia 50% de comissão sobre o excedente. O pré-acordo foi assinado em 13 de novembro de 2012, sete meses depois de Costa ser demitido da Petrobrás. Alcir Bourbon, sócio da Astromarítima, mostra o documento que previa a compra das ações da Astromarítima, e não contratos com a petroleira. “Era uma proposta de investimento, não tinha nada a ver com a Petrobrás e sequer foi adiante. Há 30 anos prestamos serviço para a Petrobrás e todos os nossos contratos foram fruto de licitação. São negócios que não estão sujeitos à influência de ninguém.”

O advogado Fernando Fernandes, que defende Costa, negou que a comissão atingisse o montante sugerido pela PF, mas apenas 7,5%. A Petrobrás informou que mantém contratos com a Astromarítima desde os anos 1980. Do Estadão