Pesquisas e o governo

Gilvan Freire

Ninguém sabe quantas vezes, desde que foram utilizadas como balizadores eleitorais, as pesquisas foram manipuladas em favor de candidatos, especialmente em relação aos cargos executivos, onde são mais empregadas. Em alguns casos, poucos saberão de que forma foram maquiadas e os efeitos danosos que causaram na época em que foram divulgadas.

De um modo geral, os maiores fraudadores são os governos, que tem recursos inesgotáveis para bancar as operações estelionatárias, não só quanto às eleições mas também para obter avaliações do desempenho da máquina governamental em período de dificuldades administrativas. Quando os governos estão mal perante seus súditos, surge a tentação de fazer uma pesquisa maquiada, a fim de passar a impressão de que a gestão pública não está fracassada e nem sua administração está perdida.

A tese é de que se o povo acha que está tudo muito ruim mas uma pesquisa diz que não é bem assim, pelo menos ficará uma dúvida entre muitos. E a dúvida de certa forma ameniza as tensões. O preço envolve um instituto de pesquisa inidôneo e uma divulgação caríssima. Neste caso, é o povo que paga para ser enganado. Há sempre organizações criadas à sombra do Estado para prestar esses serviços escabrosos. Os serviços marginais, atuando nos esgotos da administração pública, valem algumas vezes mais que os serviços honestos.

A VERDADE SÓ DÓI PORQUE É VERDADE

A contratação de um instituto sério pelo Sistema Paraíba de Comunicação para realizar pesquisas em nosso Estado, a fim de coletar a opinião dos eleitores sobre candidatos às próximas eleições e sobre o desempenho do atual governo, que aos olhos da maior parte da população enfrenta restrições graves, é um grande instante para estabelecer uma decência mínima nessa questão das pesquisas.

Ao que sabe, o instituto IPESPE pertence a um dos grandes profissionais da mídia política brasileira, conhecido pelo profissionalismo e pela seriedade com que tem atuado em campanhas presidenciais no Brasil e no exterior. Fala-se em Antônio Lavareda.

De qualquer forma, o Sistema Paraíba de Comunicação está colocando seu capital moral em pesquisas de opinião pública no âmbito político, um setor delicado e promíscuo que já desmoralizou muita gente. É uma aposta de certo risco, porque os poderosos quando estiverem tão mal como estão, ficarão furiosos ao saber. E, além de tentarem comprar o silêncio de quem divulga, ainda comprarão outras pesquisas para confundir. Mas o maior risco mesmo é não ter compromisso com a verdade e com a decência.