Os peritos criminais da Polícia Federal em Curitiba identificaram dois mil codinomes em meio a 100 milhões de itens encontrados nos sistemas Drousys e Mywebday, utilizados pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – chamado por investigadores de “departamento da propina”. As informações estão em HDs com a cópia dos 54 terabytes encontrados em endereços virtuais hospedados em data centers na Suíça e Suécia.
O material contém e-mails de executivos com solicitação de pagamento a políticos e a membros da administração pública identificados pelos codinomes, planilhas com detalhes dos repasses, recibos de depósitos e mensagens entre funcionários da empresa e os operadores de propina responsáveis pelas entregas de valores, entre outras milhares de informações. O material é relacionado a mais de 100 obras em 10 países.
Os sistemas da empreiteira estão sendo analisados por 10 peritos de duas especialidades distintas, informática e contabilidade. O jornal O Estado de S. Paulo entrevistou dois desses peritos, o especialista em informática Rodrigo Lange e Ricardo Hurtado que atua na área contábil-financeira.
Eles trabalham na sala cofre com cerca de 25 metros quadrados, feita em concreto, com janelas bloqueadas por grades de ferro e porta blindada. O acesso é liberado mediante a confirmação de identidade por biometria e os registros de entrada são auditáveis. A área é monitorada por câmeras e não há qualquer tipo de conexão com redes externas.
Para Hurtado, se fosse criado no Brasil um museu da corrupção os sistemas do departamento de propina da Odebrecht seriam itens em exposição. Atuando em grandes investigações da PF há 11 anos, Lange afirma nunca ter se deparado com uma tecnologia como a utilizada pela empreiteira baiana. “E duvido que algum investigador no Brasil tenha tido contato com algo desse nível de sofisticação.”
Os peritos especializados em informática encontram, desbloqueiam e organizam as informações. O trabalho com a enorme quantidade de dados só é possível com a utilização do Iped, ferramenta desenvolvida pelo perito Luis Nassif para uso na Lava Jato. O programa indexa dados e permite a busca com filtros aos milhões de arquivos.
Os financeiros-contábeis interpretam esses dados catalogados e produzem os laudos para responder às perguntas do juiz, dos investigadores e das defesas. “Nunca tinha visto um sistema de pagamentos indevidos assim, geralmente são caminhos mais simples. Talvez no caso Banestado, mas em sofisticação e profissionalização de um departamento eu nunca havia visto algo dessa forma”, diz Hurtado.
Até o momento, os peritos produziram dois laudos a pedido do juiz Sérgio Moro e outros quatro solicitados por investigadores que conduzem inquéritos cujos alvos são políticos e, portanto, tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).
Um dos laudos indicou o caminho do dinheiro utilizado na reforma do sítio de Atibaia, pivô de denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O laudo 808/18 mapeia por meio dos itens encontrados nos sistemas o dinheiro saindo de contratos da Odebrecht no exterior e no Brasil para abastecer um “caixa único”. Foi desse caixa que o engenheiro da empresa responsável pela obra recebeu R$ 700 mil que, segundo o MPF, pagou parte das obras.
O Drousys é um aplicativo utilizado na comunicação entre os funcionários do departamento, executivos da empresa e operadores. O Mywebday era o sistema de contabilidade em si, onde ficavam armazenadas todas as informações sobre os pagamentos – desde o e-mail enviado pelo executivo para liberar o repasse, passando pelas planilhas produzidas com base nos pagamentos até os recibos das transações.
Os peritos ainda não conseguiram acessar os arquivos do Mwwebday. A PF ainda não conseguiu quebrar o sistema de segurança. Entretanto, os especialistas em informática encontraram dentro dos arquivos um backup que começou a ser analisado. Desde que assinou acordo de leniência, a Odebrecht afirma que colabora com a Justiça.
Fonte: Notícias ao Minuto
Créditos: Notícias ao Minuto