PERFIS E PAPÉIS DOS LÍDERES ATUAIS DA PB - POR GILVAN FREIRE

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RICARDO COUTINHO – É o líder que trabalha com maior afinco na desconstrução de sua própria biografia. O mau uso da máquina estatal e a surpreendente capacidade de não dar satisfação a ninguém sobre atos e abusos administrativos transformam seu governo num abismo onde ele mesmo deve habitar como inquilino. É desprezível o peso eleitoral que tem como governante, mas não é desprezível a força que o seu poder tem.

 

CÁSSIO CUNHA LIMA – É jovem ainda e até superou os desgastes de uso que vinha tendo em razão dos 30 anos de vida pública aos 50 de idade. Saiu vitorioso do cerco mortal que lhe fizeram o maranhismo irado e o reinido Sistema Correio de Comunicação. Escapou dos dois e ainda guindou RC ao governo, assumindo o risco previsível de está formando um terceiro inimigo. Vive junto ao povo da Paraíba o melhor momento de sua vida pública. Aprendeu com o sofrimento e o andor da vida que o povo constrói e desmancha o deus de carne que todo líder quer ser. Amadureceu, ficou melhor do que era e cresceu.

 

ZÉ MARANHÃO – É o líder partidário de melhor reputação no Estado. Tem a confiança da parte dos eleitores peemedebistas e respeitabilidade para atuar nas conversações com outras lideranças e legendas. É tido como um administrador capaz e seguro e mantém a imagem limpa em sua longa vida pública. É reserva técnica do PMDB nos acordos para 2014. Se não tivesse obsessão contra Cássio, teria despachado RC em 2010 e sobrevivido à tempestade. Melhor vivo com Cássio do que morto por ele. Entre Cássio e Zé, hoje, só há enigmas. Enigmas sujeitos a decifração.

 

VENEZIANO – É a revelação política no Estado nos últimos anos. Tem carisma decorrente de seu visual roqueiro e empolga pela presença nos palcos, arrebatando pela pregação desafiadora. É combativo e afirmativo, e criou na Paraíba, a partir de Campina Grande, o anti-cassismo fervoroso de massa, baseado na militância dos jovens e das mulheres. Ele e Cássio se parecem e se repelem, mas só até que e quando Campina os una. Veneziano pode ser tragado pela vendeta do cassismo, através de Romero Rodrigues e Ronaldinho, de volta ao poder em Campina. É uma questão em aberto. De qualquer forma, o crescimento vertiginoso de Cássio já é por si mesmo um eclipse que se forma sobre Veneziano. Mas o decrescimento de RC e a revolta contra seu governo, podem fornecer-lhe oxigênio. Na política é assim: uns morrem por asfixia para que os outros possam respirar.

 

VITALZINHO – É figura em ascensão. Sempre foi um parlamentar atuante. Por onde passou, deixou uma produção legislativa intensa – a começar pela Assembleia da Paraíba. No Senado, ligou-se à poderosa banda larga do PMDB. Pode ter muito futuro. Sua atuação começa a ter reflexos diretos no eleitor do Estado, que parece está atento ao noticiário nacional que positiva a sua imagem. Tem sérios problemas com muitas lideranças locais, que não querem confiar nele. Alguns, do próprio PMDB. Mas sua atuação, aparecida com muita visibilidade, pode render-lhe volumosos dividendos eleitorais. É mineiro: entende-se com Cássio, que é de sua geração em Campina, para ancorar o irmão em possível conjuntura política que possa exigir a união dos três. Ou, então para superar o próprio irmão, se for chamado a substituí-lo na arena. É um homem de olhos no dia seguinte. Olhos de lince.

 

AGUINALDINHO – É membro da côrte do reino da fantasia do governo Dilma, onde a propaganda oficial transforma miragens em obras que nunca terminam. No ministério mandam alguns petistas da gema e, cada vez menos, ele. Mas isso não retira seu mérito de ter chegado onde chegou depois de, em pouco tempo, ter também chegado à liderança do PP na Câmara. É perceptivo, tem talento político e senso de oportunidade. Puxa ao pai, que é águia. Ocupa o cargo que pode ter grande significado prático para interesses da Paraíba – o que ainda não se viu. Se não crescer nesse cenário, não crescerá mais. Dilma pode guindá-lo ou abandoná-lo, mas ela precisa antes salvar a própria pele. Aguinaldo tem sorte mas precisa de mais, e, se a sorte lhe abandonar com Dilma, ele voltará a andar em cima das próprias pernas. Mas é atento. Quem é do mar não enjoa. E ele sabe fazer a hora.

 

CÍCERO – Com o desgaste assustador da classe política no Brasil inteiro, o Senado passa a ser o melhor lugar para o político se esconder dos eleitores por mais tempo. Mas como a vida percorre e vence uma esfera de relógio a cada 12 horas, em 8 anos um Senador termina seu giro em volta do Senado, e todos têm que voltar aos eleitores. É hora de recontar os votos, mas muitos terão desaparecidos, e poucos lideres se lembram de fazer novos. É o dilema de quase todos – e o de Cícero, mas ele tem muita fé e, como se sabe, a fé remove montanhas. Mas a fé de Cícero terá que afastar umas montanhas adversas e aproximar outras a favor. E não custa lembrar que ele é maneiro de carregar e ainda transita pela poeira em JP.

 

LUCIANO CARTAXO – Está ainda menor do que o cargo que ocupa, porque nele chegou com o prestigio eleitoral de um fenômeno de ocasião chamado Luciano Agra. Enquanto estiver entregando ao povo o saldo de obras de seu antecessor, não estará perdendo nada, contanto que não queira fazer propaganda enganosa dizendo que é obra sua. RC fez exatamente isso e não eliminou Cássio nem Maranhão – pelo contrario, está morrendo e se assombrando com os dois. Se não for na onda do PT para trair Agra, pode fazer uma boa gestão, porque Dilma precisa fazer um canteiro de obras caras em João Pessoa para financiar os projetos nacionais petistas em 2014 no Nordeste. Isso é bom mas tem riscos. Se for cauteloso e não for ambicioso e afoito demais, Cartaxo pode justificar a sua eleição e crescer bastante no vazio que só ele e Agra ocupam.

 

LUCIANO AGRA – A eleição de Cartaxo deu a Agra áurea de líder sem ter votos. Mas ficou claro que a sua imagem de administrador perante o povo de João Pessoa rendeu-lhe prestigio político para oferecer e transferir votos. É fenômeno que acontece vez por outra em algum lugar. Mas é real. Depois de eleito, Luciano Cartaxo logo descobriu que era melhor reconhecer isso do que tentar isolá-lo. Efusivas salvas de palmas a Agra, quando os dois aparecem juntos, convencem Cartaxo de que o fenômeno não pode ser obscurecido, além de ser preciso quebrar o mau costume e a vetusta prática indecente de trair o benfeitor. O prestigio de Agra junto ao pessoense, na medida em que suas obras continuam aparecendo, é indiscutivelmente persistente. Ninguém melhor do que ele na atualidade pode ser um candidato a vice-governador tão bem talhado para qualquer chapa, ainda que não seja tão bom para outras funções eleitorais. Resta a Cartaxo compreender que os dois juntos são bem mais fortes do que qualquer um isoladamente, a não ser que os partidos e os velhos maus costumes políticos forçadamente os separem.

 

RICARDO MARCELO – É um líder emergente. Sabe usar o poder sem afetação. Fala pouco, medita muito e não gosta de entrar em bola dividida. Nem é radical nem submisso, e nem deixa que as forças políticas do poder executivo invadam os seus domínios no território legislativo. RC já tentou evitar sua eleição e quis esmagá-lo depois, mas perdeu as batalhas. Olha o processo pelas brechas da fechadura mas joga bem do lado de fora. É hoje a melhor turbina de Agra, com o apoio técnico de Nonato Bandeira. Sabe o que quer mas não diz. É um leitor atento das pesquisas de opinião e não descarta nada. Compreende que nos vazios políticos quem está por perto pode ser chamado e ocupar os espaços. Ou sumir dentro deles.

 

RÔMULO GOUVEIA – É jeitoso e hábil. Sabe escapar entre correntes marítimas que se agitam sem se machucar. Fez uma tentativa de correr em faixa própria fugindo dos partidos que têm donos, mas dentro de sua legenda não consegue fugir dos líderes graúdos que mandam de fora. Continua dependente da liderança dos maiorais para subir, estacionar ou descer. E o que tem eleitoralmente em Campina pertence também a outros donos. Está em sinuca. De bico. Mas o jeito faz o corpo e, apesar de gordo é leve.

 

OUTROS LÍDERES

RUI CARNEIRO é quadro próspero no PSDB. Quanto mais cresce no partido mais derruba Cícero. Mas é a lei da selva e a seleção natural das espécies. Não está imune às tempestades do processo nem as mudanças de rumo da política no Estado.WELLINGTON ROBERTO – Corre por fora na surdina. Tem dinheiro e conhece os jogos do xadrez. É profissional do ramo e sabe o momento certo de atacar. Já não tem a mesma motivação de antes e prepara os sucessores em casa. Mas é sempre bom olhar seus movimentos e sua destreza. WILSON SANTIAGO – Foi um dos projetos políticos mais prósperos do PMDB no Estado, formado à sombra do maranhismo no governo. É obstinado e furão. Infiltrou-se na cúpula nacional do partido e cresceu em varias latitudes, especialmente na financeira. É um Ney Suassuna de melhor qualidade. Tem uma história de vida extremamente vitoriosa, mas quis tomar de Maranhão o cachimbo do velho cacique e se deu mal. Ficou sozinho e isolado. Mudou de partido e de lado. E de destino. Ninguém sabe o que será no futuro, correndo todos os riscos de ser menor. Cássio esvazia-lhe o PTB e os erros das últimas atitudes esvaziam-lhe a sorte. Mas ninguém é dono da sorte alheia. MANOEL JÚNIOR – É o herdeiro do lugar que Wilson Santiago deixou no PMDB e do bafo que Maranhão empresta a seus sucessores na liderança futura do partido. É inteligente, combativo e divide com Veneziano e Cássio o acervo de beleza plástica que rende votos entre jovens e as mulheres no Estado. Resolveu distender suas difíceis relações com Cássio mas não admite distencionar com RC. Já teve gente falando, sem medir as dificuldades partidárias mas tentando superar outros tipos de dificuldades previsíveis, que a chapa ideal para 2014 seria: Cássio governador, Manoel Júnior pro Senado e Luciano Agra pra vice. Mas isso sem Vené e Zé. E pode? LEONARDO GADELHA – É um tipo discreto e sóbrio de parlamentar vanguardista, lembrando seu pai e Mariz. É qualificado e culto e não deriva para a desmoralização do eleitor ou para negação moral do voto popular. Mas precisa de estrutura partidária ou apoiamento de grupos políticos para liderar um projeto de maior dimensão. Se houvesse uma insurreição das ruas em ano eleitoral e a busca por um nome capaz de devolver dignidade a função pública governamental, a bola da vez poderia ser ele.