Pedro deve confirmar profecia de Ronaldo

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Nonato Guedes

Ganha vulto em Campina Grande a especulação de que o jovem estudante de Direito Pedro Cunha Lima, filho do senador Cássio Cunha Lima (PSDB), será candidato a deputado federal nas eleições do próximo ano, confirmando uma profecia atribuída ao seu avô, o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima, de que ele encarnaria traços legítimos de sua formação humanista e política. Pedro foi a sensação, no plenário do Senado, no último dia 18, na sessão solene proposta pelo senador Cícero Lucena para homenagear Ronaldo que, se fosse vivo, estaria completando 77 anos de idade. E impressionou a todos pela desenvoltura e serenidade com que se expressou, ao ser chamado entre oradores de renome como o próprio Cássio, os senadores Renan Calheiros, José Agripino Maia, Eduardo Suplicy, Vital do Rego, o poeta Diógenes Cunha Lima e o jornalista e escritor José Neumanne Pinto.

Em pouco mais de seis minutos, Pedro, filho mais velho do casal Cássio-Sílvia Cunha Lima, mostrou-se à altura do sobrenome que exibe. Ele falou, emocionado, da “luz” que o avô preenche em meio ao vazio da saudade causada pela sua perda, destacando a simplicidade do sorriso e o carinho do olhar de Ronaldo. “Nada mais vibrante do que tê-lo por perto. Do alto, e não poderia ser diferente, a nossa estrela-guia conserva, embora que com novos contornos, a mesma forma que por muito o acompanhou: um repertório imenso de gestos, um cenário repleto de amor. Homem da mais destacada presença de espírito, agora em plano distinto, usa tal intimidade para se fazer de espírito presente. Em alguns casos, quase que sempre. Sobrevive em versos, permanece em rimas (…) Meu amado pai Cássio é a chama viva de Ronaldo na política. Nossa eterna inspiração, agora de endereço incerto, decerto no infinito, ressurge com a certeza das multidões que guardaram parcelas do seu amor. Afinal, para Ronaldo, com toda a sua espontaneidade emocional e humanista, qualquer ser humano, ao mesmo tempo, era um só e multidão”, disse Pedro, na tribuna.

As palavras do neto de Ronaldo, filho de Cássio, irmão de Diogo e Marcela, deixaram entrever sinais de continuidade da vocação poética do avô. Foi assim quando ele sintetizou: “O poeta viveu na individualidade das multidões. E viveu com tamanha intensidade, em processo tão dedicado à doação, que em determinado momento o limitado corpo se entregou às passadas da irrequieta mente. Após o longo período percorrido, cheio de glória e conquista, chegara a hora do descanso, do repouso das incansáveis lutas. Sereno, o poeta subiu. E se foi como se ainda querendo dar algo mais. E se foi como se ainda tendo. E não se foi”. E prosseguiu: “Na falta que impõe a vida, no partir para a eternidade, Ronaldo, em sua lida, é presença na saudade. Na despedida houve quem tenha conseguido dizer adeus. Houve quem tenha acompanhado o seu partir. Houve a recusa de quem não quis nem ir. E quem sozinho, em casa, rogou a Deus. Termino na abrangência do poetinha em suas sempre lindas palavras do que vai ficar: “Não importa que da despedida não fique nada. Bastam as outras coisas que já vão ficar. Do muito que nos vimos, pelo menos um olhar há de ficar. De tudo o que dissemos, pelo menos uma palavra vai ficar. Do quanto nós fizemos, pelo menos um gesto vai ficar. E do tanto que nos amamos, pelo menos um pouco de amor há de ficar”.

O vídeo com a oração de Pedro em homenagem ao avô Ronaldo Cunha Lima tornou-se um dos mais acessados nas redes sociais e de compartilhamento na Internet. O neto que gosta de poesia e música, em contraste com o irmão mais velho, vocacionado para a atividade empresarial, praticamente debutou, falando em público e em alto estilo, na tribuna do Senado Federal. E estreou transmitindo carisma, tal como havia profetizado o avô. Os próximos passos, enveredando pela atividade política, são inevitáveis, na opinião de amigos da família e dos “experts” na genealogia Cunha Lima, a exemplo do deputado federal Ruy Carneiro, que sempre identificou em Pedro, mais do que em Diogo, a predestinação para a política. Numa família em que pontificam tantas expressões ilustres na carreira, a saga de Pedro desenha-se por antecipação. Deverá seguir o exemplo do pai, que começou como deputado federal, fazendo seu discurso de estréia na sessão de nove de fevereiro de 1987 na Assembléia Nacional Constituinte, quando chamou a atenção de notáveis como Ulysses Guimarães e Mário Covas ao externar a preocupação, o sofrimento e a angústia de um jovem que vê seu país, “às portas do século XX, na entrada do ano 2000, discutindo a organização jurídica do Estado”. Cássio tinha 23 anos de idade e o plenário parou para ouvi-lo dizer, com toda a ênfase: “Não podemos errar! Não podemos falhar, sob pena de sermos condenados pela História”. Foi bastante cumprimentado ao encerrar sua intervenção, e da Câmara alçou voos maiores, como o de governador do Estado eleito em dois mandatos consecutivos e, atualmente, senador da República.