O ex-presidente do PP, Pedro Corrêa, condenado no mensalão e envolvido no escândalo investigado pela Lava-Jato, chegou a um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR), ainda não homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), diz reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”, segundo a qual a denúncia foi negociada por quase oito meses.
O ex-deputado cita políticos de vários partidos e aponta esquema de corrupção desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – entre 1994 e 2002 – e também nas gestões petistas.
O ex-dirigente partidário cita ainda Andrea Neves, irmã do presidente do PSDB, Aécio Neves, como operadora de propina. Ela figura como uma das principais assessoras do senador e como a responsável por conduzir as movimentações financeiras do líder tucano.
Um dos motivos para a demora na negociação entre Corrêa e a Procuradoria Geral da República seria o fato de haver pouca prova documental nas informações trazidas pelo político contra os citados.
A delação de Corrêa é organizada em 70 anexos. O ex-parlamentar fala em mesada para o também ex-deputado e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes.
Os repasses teriam sido feitos entre 2003 e 2005, quando Nardes era deputado federal pelo PP, mesmo partido de Corrêa. A propina seria arrecadada pelo deputado José Janene (morto em 2010).
O delator afirma que quando Nardes foi nomeado ministro do TCU, em 2005, foi destruído um recibo que comprovava o pagamento da propina em valores entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
Nos anexos Corrêa diz que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu dinheiro de empresas para aprovar o projeto que permitiu haver reeleição no Brasil. Olavo Setúbal, do banco Itaú (morto em 2008), é citado como um dos que participaram do esquema.
De acordo com o jornal, o anexo sobre o tema diz: “Olavo Setúbal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos”.
Também há anexos sobre a presidente Dilma Rousseff e sobre o ex-presidente Lula.
Em um dos capítulos sobre Lula, Corrêa faz relatos sobre uma conversa entre o petista e o então presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra (morto no ano passado), para tratar da nomeação de Paulo Roberto Costa para ser diretor da estatal.
Também foram citados o ex-publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, e o empresário Benedito de Oliveira, o Bené, ligado ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, do PT, e investigado na Operação Acrônimo da Polícia Federal.
O jornal Folha de S. Paulo diz que os citados negaram as acusações feitas por Pedro Corrêa.
Aécio Neves afirmou que sua irmã Andrea nunca conheceu ou teve qualquer contato com o ex-parlamentar. Aécio repudiou as “falsas acusações mais uma vez repetidas, sem indícios que possam minimamente comprová-las”.
O ministro Augusto Nardes, do TCU, classificou as referências a seu nome como uma “retaliação” de Pedro Corrêa, de quem seria adversário político dentro do PP.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou de “ridículo” a citação a seu nome.
E o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, afirmou que seu pai era um homem “absolutamente ético” e que jamais se envolveu nas ações “covardemente” citadas por Corrêa.
O Instituto Lula reafirmou que não comenta falatórios e “quem quiser levantar suspeitas em relação a Lula que apresente provas”.
Fonte: O Globo