Rubens Nóbrega

Vou dar uma pausa de 30 dias nesta devoção, que às vezes é pura diversão. Mas o descanso para alguns leitores e sossego para outros só começa na quarta-feira (2), data em que iniciarei também férias regulamentares da minha obrigação de servidor público.

Ao mesmo tempo, abrirei a contagem regressiva para a aposentadoria com que venho sonhando. Aposentado, terei mais tempo para escrever e, sobretudo, para assumir e exercer as novas funções que me aguardam em futuro próximo.

Uma delas, a de motorista de madame. Da minha madame. Pode ser também do filho, das filhas, do neto Davi, dos meus pais, irmãos e parentes mais próximos e queridos que me demandarem para conduzi-los aos lugares da precisão de cada um.

Ainda dentro das atribuições de condutor, usarei minha perícia para pilotar carrinho de mão ou de supermercado quando a mulher for fazer feira. Aí, aproveito para acumular esse trabalho com o de entregador das nossas próprias compras.

Ah, e se a preguiça deixar, voltarei a lavar carro. Só pra tê-lo sempre limpinho e digno de servir às idas e vindas para deixar e pegar minha caçula na escola, na academia, no cinema ou nas festinhas que vez por outra a gente permite ela ir.

Mas um aposentado deve ter outras serventias, além das mencionadas. Imagino poder ajudar pessoas do meu benquerer guardando lugar em fila de banco, pastorando neto na casinha de brinquedos, madrugando na porta de loja em dia de liquidação…

Pretendo ainda fazer viagens ao interior e ao meu interior, indo a Bananeiras regularmente, se possível uma vez por mês, até encontrar por um lá um cantinho pra chamar de meu e que me faça matar um pouco as saudades da minha velha infância.
Preparação intensiva

 

Vou aproveitar este mês de férias totais para fazer o intensivão que vai me preparar pra tudo aquilo e algo mais. Como, por exemplo, seguir recomendações médicas e cuidar da saúde, que no meu caso significa comer menos e melhor, emagrecer a barriga e o fígado, caminhar um pouco e vez por outra ensaiar correr na praia.

Se algum condicionamento físico for readquirido no esforço, voltarei a bater uma bolinha e a me deslocar em cima de uma bicicleta.

Que me leve de manhã cedo à padaria e mais tarde um pouco às bancas de revista ou shoppings dos cafezinhos que se transformam em senadinhos de sessões ordinárias e extraordinárias.

De outra, talvez nesse janeiro conclua um livro que deixei para terminar quando tivesse disponibilidade de passar um pente fino no que já está pronto, que é para não passar vergonha diante de quem reconhece alguma qualidade naquilo que consigo criar e escrever.

Na mesma pisada, preciso concluir algumas leituras. Com prioridade a de ‘Garranchos’, coletânea de textos mais ou menos inéditos de Graciliano Ramos, que ao lado do velho Machado forma a minha dupla de melhores dos melhores escritores de todos os tempos.

Tenho mais duas leituras pendentes para dar conta nas férias. Uma, que estou quase terminando, a de ‘O pianista no bordel’, do jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, livro que me foi presenteado pelo Professor Arael Costa. O outro é o ‘Baú do anão’, de Ronaldo Monte, autor que é um presente de Alagoas à melhor literatura da Paraíba.
Muito, inclusive nada

 

Como se vê, os planos são muitos e muito há por fazer. Mas não descarto o fazer nada, imitando aqueles que após tanto trabalho na vida na aposentadoria enfaram-se de um jeito que refugam qualquer atividade além do calçar os chinelos e vestir o pijama.

Essa alternativa é a mais difícil de por ela optar. Tem pouquíssimas chances de acontecer, inclusive porque o vazio decorrente da desobrigação funcional há de ser preenchido com uma produção mais intensa da escrita diária, neste e/ou em outros espaços.
Só não posso é largar tudo de vez, como, acredito, uns poucos gostariam. Digo assim por também me acreditar positivo e operante neste ofício para continuar contribuindo, apesar de tudo, com a liberdade de expressão e de imprensa na Paraíba.

 

Quem me substituirá

Não poderia ser melhor.

Com a minha pausa, os leitores terão oportunidade de desfrutar diariamente do texto apurado, do intelecto privilegiado e conhecimentos aprofundados de Flávio Lúcio Vieira sobre Política (assim mesmo, com letra maiúscula).

O cara é analista político dos mais qualificados que temos atualmente. Na Paraíba ou no Brasil, vocês escolhem.

Os predicados vêm da história pessoal, política e profissional de Flávio Lúcio, uma história toda ela forjada na experiência de quem já liderou movimento estudantil e docente e militou em partidos de esquerda desde a juventude.

Ele é ainda protagonista de uma carreira brilhante na UFPB, como professor, pesquisador, orientador e autor, além de acumulador de títulos acadêmicos que se estendem da graduação em História ao doutorado em Sociologia.