PAULO SANTOS: SÍLVIO SANTOS E SEU BAÚ SUJO

Qualquer empresário faz o que bem entende em suas empresas. Contrata pessoas, demite pessoas, faz e acontece. Nas empresas de comunicação, sobretudo nos grandes condomínios, a lógica empresarial deveria ser diferente, especialmente devido á delicadeza do produto que oferecem ao distinto público.

Uso o tempo verbal “deveria” porque não há diferença de mentalidade entre a maioria dos empresários de comunicação e os que produzem penicos. Tantos uns quanto outros têm, por objetivo básico de sobrevivência, tirar proveito dos excrementos, daquilo que não serve nem para estrume.
No caso da comunicação esse processo se dá através de uma série de artifícios e o pior deles é a promiscuidade entre o setor privado e o setor governamental. E, levado nessa onda de cafetões e prostitutas, está o público, o consumidor, aquele que mantém toda a engrenagem maléfica através da audiência.
A promiscuidade dos meios de comunicação é mais flagrante nos grandes conglomerados, aqueles que auferem mais lucros e têm maior capacidade de investimento, no bom ou no mal sentido. Os métodos para atingir os objetivos são tão variados quanto sórdidos, tão avassaladores quanto mesquinhos. Também seria cansativo e asqueroso descer a exemplos em João Pessoa, na Paraíba e no Brasil.
O mais recente deles, contudo, está a merecer uma reflexão por parte daqueles que não estão comprometidos com projetos de poder político e econômico que visam, em suma, fazer desaparecer da superfície democrática o instituto do contraditório, daquilo que oxigena da crítica honesta, porém incômoda para os salafrários de plantão.
Jamais se saberá exatamente o que motivou o dono do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), Sílvio Abravanel (vulgo “Sílvio Santos”) a demitir sumariamente dois comentaristas de política (o paraibano José Nêumanne Pinto e Carlos Chagas) e Denise Toledo, da área econômica.
Sílvio está comprometido com o atual processo político e nem poderia ser diferente se levarmos em consideração que o condomínio empresarial do “Homem do Baú” caminha de braços dados com os eventuais ocupangtes dos principais cargos da República e cabeças voltam a rolar.
Nêumanne, Chagas e Denise – cada um com mais virtudes do que defeitos – cumprem os papéis de interpretar, da forma mais aproximada, a realidade dos fatos em suas respectivas áreas. E incomodavam, especialmente nesse período pré-eleitoral e quando a economia está claudicante, ao contrário do que tentam mostrar os discursos oficiais.
Algo de muito sujo e fedorento deve ter sido jogado para debaixo do tapete de Sílvio Santos para que ultrapasse até os limites de Salomé que, incomodada, pediu a cabeça de João Batista numa bandeja e a obteve. Abravanel entregou três. E não se pense que essas mal traçadas são fruto do corporativismo. Nada disso.
O problema é que, com essas demissões, praticamente se destrói o último nicho de análise existente na TV brasileira, impedindo que a população receba ajuda para melhor interpretar o que acontece na política e na economia. São maus exemplos que influenciam o resto do país e num contexto em que a Paraíba se inclui como destaque pelo silêncio imposto a vários profissionais.
Meu conterrâneo amazonense Thiago de Mello bradou um dia: “Faz escuro, mas eu canto”. O silêncio e a obscuridade não vencerão. Em João Pessoa, na Paraíba e no Brasil enquanto existirem profissionais que não passaram pela lavagem cerebral das universidades. A opinião, a crítica e o contraditório ainda não caminham para guilhotina.