Pelo segundo dia consecutivo, mulheres e parentes de policiais militares permanecem acampados em frente a vários batalhões da corporação no Rio. O grupo reivindica o pagamento do décimo terceiro salário, do RAS, e melhorias nas condições de trabalho. No 6º BPM (Tijuca), houve um tumulto no fim da madrugada deste sábado. Cerca de dez manifestantes fizeram um cordão humano na porta do batalhão para impedir a saída de policiais. Um grupo só conseguiu deixar a unidade depois de mostrar as mochilas a elas. Em seguida, outros policiais conseguiram entrar no batalhão.
Por volta 7h, os veículos particulares começaram a deixar a unidade. Antes que isso acontecesse, no entanto, as manifestantes perguntavam se poderiam olhar a mala do veículo para, só depois, liberarem a passagem.
— O normal é eles chegarem do serviço e fazerem a troca aqui. Pegam a viatura, a farda e o armamento. Como estamos na porta, eles estão trocando os turnos na rua. O policial da UPP, por exemplo, precisa subir o morro sem farda e sem arma — afirmou uma manifestante, que preferiu não ser identificada.
As mulheres dos policiais estão revistando carros particulares e as mochilas de oficiais que deixam o local a pé.
— Estamos revistando todos os carros porque a ordem é fazer a troca de serviço na rua, então ninguém pode sair com farda. Quem sai precisa voltar para ficar aquartelado — conta uma das mulheres, que passou a madrugada na porta do batalhão.
A reportagem do GLOBO observou, por exemplo, uma policial de farda entrando no local com uma sacola contendo vários remédios.
— Os policiais estavam aqui há 48 horas, sem comida e remédio. Não queremos que fiquem para sempre dentro do quartel sem condições. Eles têm família. Acordamos com os policiais que eles sairiam sem farda e voltariam novamente para dar serviço aqui, aquartelados — conta a esposa de um dos policiais do 6° BPM.
Mesmo com a manifestação, o policiamento não foi interrompido em vários pontos da cidade – o perfil da PM no Twitter, por exemplo, mostrava os militares em serviço. Durante a madrugada, no entanto, o patrulhamento de alguns bairros da Zona Sul estava escasso. A equipe de O Globo circulou por vias de Botafogo, de Copacabana, de Ipanema e do Leblon e, num período de quase duas horas, não encontrou nenhum policial militar.
Na porta do 19º BPM (Copacabana), duas mulheres de PMs continuavam acampadas em frente aos portões da unidade. Elas completaram mais de 24 horas. Elas garantiram que nenhum veículo da PM havia deixado o local entre a noite de sexta e madrugada deste sábado.
— Está sendo muito produtivo esse protesto. A população aqui está ajudando bastante, estão trazendo muitas doações. A população está sendo muito solícita com a gente — contou a mulher de um PM, que se surpreendeu com a proporção que o ato tomou nesta sexta-feira. — Depois dessa mobilização, as pessoas vieram para participar. Era um projeto que não era tão grande e ficou falado em todo o canto.
Apesar de os protestes desta sexta-feira terem transcorrido pacificamente, ela contou que durante a noite houve um pequeno tumulto, quando um major da unidade teria empurrado umas das integrantes do ato, na tentativa de sair com uma equipe do batalhão.
No 23º BPM (Leblon), a situação era parecida. Haviam mulheres posicionadas em nas entradas e saídas. Segundo elas, uma ordem teria sido dada aos PMS para que eles “pulassem o muro” para que fossem trabalhar. As integrantes do ato relataram ainda que estavam bloqueando a saída de carros da PM do local.
— Cheguei ontem, à tarde. Cerca de 12 mulheres estavam aqui. Alguns (PMs) desciam à paisana e tentaram sair de carro. Outras mulheres vão chegar para a gente poder revezar. A ideia é ficar por aqui até que tudo que seja de direito dos policiais seja pago — disse uma mulher, que se identificou apenas como Tuane.
Em Rocha Miranda, na Zona Norte, teve gente que pernoitou em frente ao batalhão do bairro. Em duas tendas montadas em frente ao local, os manifestantes passaram as horas em cadeiras e bancos espalhados. O grupo estava até com uma televisão no local. Parte dos mantimentos foram doados por moradores, que, segundo o grupo, apoiam o ato.
— Estou com três contas de luz atrasadas. Aqui tem mais comida do que na minha casa — disse a mulher de um policial militar.
De acordo com elas, a entrada e saída de policiais não está ocorrendo no batalhão. O grupo, em uma ocasião, chegou a “fazer um cordão humano” para evitar que o veículo deixasse o local. O troca, no entanto, não é controlada quando acontece fora do batalhão, conforme informou uma manifestante.
Outros batalhões no Rio e da Região Metropolitana seguem com manifestações, como em Olaria, Méier e Mesquita.
Créditos: EXTRA