Paraíba X Pernambuco

Rubens Nóbrega

Na coluna dedicada à ‘Inveja dos pernambucanos’, quarta última, registrei a vibração dos nossos vizinhos ao sul durante o show de Paul McCartney domingo último. Vibração com a própria terra, traduzida em inequívoco entusiasmo diante do ‘espetáculo do crescimento’ por que passa Pernambuco nos últimos sete anos.
No mesmo artigo, lamentei sinceramente não ver algo semelhante na Paraíba. Quis significar que em relação a Pernambuco estamos praticamente estagnados em termos sociais e econômicos e, como se fosse pouco, com baixíssima auto-estima. Mas já houve um tempo em que não era assim. Muito pelo contrário, garante a historiadora Lourdinha Luna, que sobre o assunto escreveu o comentário a seguir.

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Guardadas as proporções, a Paraíba assistiu a um espetáculo em que a emoção extrapolou do coração e se liquefez nos olhos dos paraibanos católicos. E não foram só as mulheres que derramaram seu pranto. Homens também choraram. Foi na visita de Nossa Senhora de Fátima à cidade de João Pessoa, em setembro de 1952, quando o Estado reconhecia e decretava a certeza da seca impiedosa em seu território.
O governador José Américo pronunciou sua oração, embora numa dicção defeituosa, que tocou a sensibilidade dos presentes. A prece de tanta unção bem merecia o imprimatur da Igreja, para ser evocada em nossas necessidades mais urgentes e quando a estiagem prolongada fosse sinônimo de fome para as populações interioranas.
O governador decretou que se armasse um altar na Praça João Pessoa para que todos os fiéis pudessem venerar a imagem da Santa de além mar. As caravanas vieram dos lugares mais próximos, carregando a sua fé e a certeza de que suas carências subiriam ao céu pela escada misteriosa de Jacob, que é a oração.

Os aplausos ainda hoje repercutem em minhas ouças e garanto que jamais esquecerei aqueles momentos de graças espirituais sobre a nossa Capital e nossa gente.
Surpreendeu o amigo a ilha de indiferença aos vivas a Pernambuco? Deviam ser paraibanos inconformados com a usurpação do vizinho ao nosso pequeno patrimônio. A cobiça não começou no atual governo de Pernambuco e na desídia da nossa chefia estadual, mas remonta ao ano 1755 quando, por obra e graça do Marquês de Pombal e por 40 anos, fomos escravizados a Pernambuco.
A Corte levava nosso açúcar, algodão, minérios e mandava em troca bacalhau, tecidos, perfumes… No Porto do Recife os gêneros eram entregues aos comerciantes portugueses.
Creio que seriam paraibanos os que não endossaram os aplausos a Pernambuco, no que fizeram bem. Desejamos, contudo, que avance e cresça e não tente aumentar em quantidade e volume o mal que vem nos fazendo.


Data vênia, Caríssima

Com todo respeito, não vejo Pernambuco nos fazendo mal. Não presentemente. Se a Paraíba está em baixa não cabe culpar ninguém, além dos próprios paraibanos. Somos nós que elegemos e entregamos nossos destinos às mediocridades soberbas.
Não devemos nos queixar nem debitar na conta alheia o passivo da nossa crescente inferiorização no Nordeste. Quem tem uma representação política fraca e dividida como a nossa e uma gestão de negócios públicos que quando atrai capital privado é para delegar-lhe serviços públicos essenciais, pagando os tubos pelo ‘serviço’, não pode reclamar de muita coisa, não.
Mas continuo acreditando que ainda vamos dar a volta por cima. Vamos nos levantar e sacudir a poeira. Com, sem ou apesar do governo que temos. Porque não é possível que a gente vá chegar ao fundo do poço e continuar cavando, elegendo ou reelegendo incompetências e inoperâncias responsáveis pelo atraso em que vivemos.
Uma chance imperdível
Este ano temos belíssima oportunidade de começar a virada. Nada melhor do que uma eleição municipal para o povo dizer com todas as letras que não é este o rumo, não é esse o caminho, não é por aí.
Nem foi esse o combinado na última campanha. Ninguém votou em quem está no poder para que o poderoso da vez faça do governo um fim em si mesmo e, do Estado, instrumento de personalíssimo projeto político feito o que está em cartaz.
Para reverter a situação e sinalizar futuro melhor, mais próspero e mais justo para o conjunto de nossa população, e não para uns poucos que se locupletam da coisa pública, já é tempo de começarmos a analisar os caras e as caras que se apresentam à escolha do eleitor para quando outubro chegar.
Pela história pessoal e política de cada um, pelo desempenho em cargos executivos ou mandatos eletivos e até pelas ligações políticas e partidárias que mantêm atualmente, dá pra gente chegar e se fixar em nomes que desde agora nos dêem garantia mínima de não nos envergonharem mais tarde, depois de eleitos.
Preste atenção, por favor. Não vá fazer besteira de novo ou mais uma vez. Não existe a menor dificuldade de acesso às informações que você eventualmente queira obter acerca desse ou daquele candidato. Informe-se, analise, discuta, avalie, compare.
E, se alguma dúvida restar, fique à vontade para recorrer ao colunista. Com sigilo absoluto e total confidencialidade, terei o maior prazer em dar a ficha completa de quem seja objeto da sua disposição de votar certo ou alvo da sua rejeição.