Paraíba estranha. E triste - Rubens Nóbrega

A cada dia fica mais difícil compreender, entender e aceitar a Nova Paraíba.   Como aceitar, por exemplo, o Ministério Público ter que recorrer à Justiça para obrigar que Governo do Estado e Prefeitura da Capital abram as 66 creches que mantêm durante as férias escolares?

Dá pra ficar calado vendo a Cagepa anunciar reajuste de quase 17% na sua tarifa para cobrir déficit financeiro ao qual o consumidor não deu causa e agora vai ter que pagar pela incúria ou incompetência de maus gestores?

E na saúde? Dá pra entender o desmantelo que está acontecendo na rede pública, mercê de atos, ações e atitudes dos novos dirigentes do Estado que só fazem piorar o que já era bastante ruim?

Não, não dá. E se vocês pensam que a ruindade, a maldade e a precariedade estão dando plantão apenas nos hospitais sob administração estadual ou municipal (em João Pessoa), estão muito enganados. Querem ver uma coisa?

Prestem atenção nas informações e comentários que me foram enviados ontem por Otomar Legorio e que vão reproduzidos adiante, para que o leitor tenha dimensão mínima do que vem acontecendo nesta estranha e triste Paraíba de agora.

Ah, e vamos chamar Otomar Legório assim. Temos que ter essas previdências. Afinal, mesmo não acreditando em bruxas, sei que elas existem na Paraíba. Se não existissem, não estariam sendo tão caçadas como estão sob a Nova Hegemonia.

Promessa cumprida

Prezado Rubens, a “Aldeia Tabajara” tem acompanhada indócil uma série de fatos e episódios que depõem contra a vã expectativa criada em torno de uma “Nova Paraíba” que se estabeleceria a partir do ano da graça de 2011. O que era esperança passou a ser um grande pesadelo que teima continuar apavorando, criando medo e até agonia nos paraibanos, natos ou não, que tão somente querem ver sua terra emergir de uma letargia desenvolvimentista que perdura há várias e várias décadas.

Um bom exemplo disso é o drama vivido por setores essenciais, como saúde, educação e segurança. No caso do primeiro, com propriedade de quem conhece razoavelmente o setor, podemos afirmar categoricamente que a Paraíba agoniza em leito de “quase morte”, podendo comprometer até eventual procedimento de captação de órgãos caso queiramos transplantar para outro sistema que não o em curso atualmente.

Comecemos pela atenção primeira à saúde, constituída basicamente pela rede do programa de saúde da família e agentes comunitários de saúde. Pois bem, nessa área, a nova ordem paralisou todos os convênios com os municípios, encerrou os cursos de capacitação das equipes e ainda acabou com a contrapartida regular para os municípios desenvolverem ações no campo de medicação básica, embora seja determinação legal prevista no Pacto pela Saúde e Pela Vida, política instituída pelo Ministério da Saúde desde 2005 e oficializada através de lei pelo presidente Lula no final de 2007.

Na chamada atenção de média e alta complexidade (chamada atenção hospitalar e ambulatorial), o drama é dez vezes maior. Isso mesmo! Inacreditavelmente, prezado Rubens, regredimos pelos menos 15 ou 20 anos. Um misto de irresponsabilidade e falta de compromisso com a causa pública tem dado o tom da relação do atual governo com o setor. A grita é generalizada, sendo que apenas os médicos esperneiam por formarem o lado mais forte da corda, já que as demais categorias temem o chicote dos capitães do mato da “Nova Paraíba”.

O descalabro é gigante. E se assemelha muito ao quadro existente em João Pessoa. Na capital, por exemplo, a gestão municipal fechou 63 leitos (infantis, adultos e intermediários) e ainda cometeu a proeza de dispensar outros 150, conforme avaliação recente do Ministério da Saúde atestada pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes). A gestão socialista avançou mais ainda na capital. Desativou e encerrou convênios vitais com clínicas e laboratórios, comprometendo setores como terapia renal substitutiva (hemodiálise), oncologia (câncer), cardiologia e traumatologia/ortopedia. O último deles, caro Ruens, foi na área de planejamento familiar, cujo programa foi suspenso sem qualquer motivo e um calote de 3 meses foi dado nos profissionais que realizaram, só em 2010, para edilidade municipal, mais de 70 cirurgias de vasectomia.

Pois bem, a “Nova Paraíba” experimenta os ares dessa “mudança” e o diagnóstico preliminar é nada animador. Faltam medicamentos excepcionais destinados a pacientes crônicos, apesar de a Secretaria Estadual de Saúde estar recebendo regularmente as transferências do programa nacional que já somam mais de 7 milhões de reais, isso de janeiro a abril (ele fornece um link onde tal informação está oficialmente disponível e quem quiser chegar é só acessar fns.saude.gov.br).

A assistência hospitalar e ambulatorial é o retrato mais assombroso desse verdadeiro pesadelo vivido pela “Aldeia Tabajara”. Convênios suspensos, repasses cortados e a total falta de planejamento e organização no controle assistencial estão fazendo com que os serviços hospitalares piorem a ponto de atingirem coma na escala 3 de Glasgow. O retrato dessa tragédia urbana é o Hospital de Trauma de João Pessoa. A unidade regrediu a ponto de se tornar um verdadeiro depósito humano. Condições mínimas de trabalho estão ausentes num ambiente que deveria salvar vidas.

Não fosse isso o bastante, os roteiristas desse verdadeiro filme de terror não admitem o diálogo, mesmo que isso seja em prol da melhoria dos serviços. Aliás, essa, prezado Rubens, talvez seja a última preocupação dessa gente. Para piorar, nada mais tendo o que fazer, a categoria médica caminha para a entrega irrevogável de seus postos, para assim não comungar com a política de quase extermínio dos menos afortunados que dependem dos serviços públicos de saúde, ou melhor, da limpeza étnica dos inservíveis, diria certo líder do passado.

Por fim, é bom que se diga que tudo isso foi prometido na campanha de 2010: “Ricardo vai fazer por todo Estado o que fez em João Pessoa”. Quem não lembra?

Autoritarismo contagiante

A delegada de Polícia Civil Maria das Graças Alves de Morais ‘solicitou’ anteontem à Direção do ClickPB que “determine” a presença do jornalista Clilson Júnior, estrela daquele portal, na Delegacia Especial de Serviços Concedidos da Capital.

Pelo visto, a postura do comandante-em-chefe das forças de segurança da Paraíba é contagiante e vem contaminando os mais diversos escalões da Polícia Civil do Estado.

Bem, de qualquer sorte, se atender à determinação, o Doutor Clilson deverá contar à Polícia – até por que vem apurando e revelando com grande competência – o que sabe sobre as tenebrosas licitações da Emlur durante o governo Ricardo Coutinho na PMJP.