Paraíba em guerra

Rubens Nóbrega

Tem razão o jornalista Marcelo José: a Paraíba está vivendo uma guerra civil. São as próprias estatísticas oficiais sobre violência que nos colocam no mesmo patamar de nações que estão enfrentando ou já enfrentaram uma guerra civil.
Ano passado, por exemplo, pelo menos cinco pessoas foram assassinadas por dia na Paraíba. Este ano, a média de homicídios não apenas se manteve como até aumentou, a julgar pelos 145 homicídios registrados em janeiro último pelo próprio governo.
Por conta de números assim, o engenheiro Almir Laureano, coordenador do MovPaz na Paraíba, reconhece que em 2011 o nosso Estado aproximou-se perigosamente da criminalidade que estigmatiza Bogotá, capital da Colômbia.
A Colômbia, lembra Doutor Almir, “é a terra da cocaína e tem uma guerra civil permanente”, referindo-se à existência e atuação naquele país da guerrilha das Farc, grupo que se apresenta como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Ano passado, foram cometidos 2.632 homicídios em Bogotá (7 milhões de habitantes). Na Paraíba, com 3,5 milhões de sobreviventes, estima-se em mais de 1.600 o número de homicídios. É estimativa porque não há número confiável, fechado.
Causas da violência
Todo mundo sabe que a violência tem como causa maior a injustiça social associada à extremada concentração de renda em nosso país, ambas agravadas pelo consumo e tráfico de drogas que cresceram exponencialmente nos últimos dez anos.
Mas, focando particularmente as causas sociais, todo mundo sabe que com uma taxa de indigência de mais de 50 por cento da sua população não admira a Paraíba ter alcançado índices tão alarmantes de violência.
Assim, não foi surpresa para muitos ver o Estado assumindo, há dois anos, o segundo lugar no ranking dos mais violentos do Brasil, com uma taxa de 38,2 homicídios dolosos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Fomos e somos superados apenas pela insuperável Alagoas, que atingiu 68,2 homicídios para cada 100 mil habitantes em 2010.
Nessa dimensão, que tristemente faz do Estado um lugar onde o crime começa a se banalizar, não espanta a facilidade com que um jovem de 30 anos feito Bruno Ernesto é sequestrado na porta de casa e levado para a morte por bandidos que perderam por completo a noção e o valor de uma vida humana.
O que pode resolver
Como disse antes, a violência é um fenômeno social, um imenso problema tão complexo quanto difícil de resolver. E todos sabem, até o governo, que a solução demora, pois este é um processo longo e complicado, mas é nó que só desata com a formulação e execução de políticas públicas de inclusão e defesa social, entre as quais se sobressai o investimento pesado e qualificado em educação, saúde e segurança.
Todos sabem mais ainda que sem esse foco, sem essa mentalidade, sem a determinação do poder público de priorizar o que realmente importa para o povo crescer humana e materialmente, não vamos a lugar algum. Com educação, saúde e segurança de qualidade para todos, poderemos abrir as portas do mundo do trabalho e da ascensão social aos mais pobres, aos mais vulneráveis, aos excluídos de toda sorte, aos exilados da cidadania, como diria o Professor Cristovam Buarque, aí incluídos os dominados pelo crack que todos os dias saem às ruas para roubar, matar e morrer pelo vício.
Sinto dizer, mas do jeito que está e vai não sairemos sequer do canto. Ainda mais com o governo fechando escolas, quando deveria enchê-las de alunos, para daqui a pouco não ser obrigado a transformá-las em cadeias, se quiser ter onde botar tanto criminoso que por vezes se vangloria de prender, quando a glória seria não ter que prender seu ninguém.

 

O que não resolve
Desafortunadamente, nada do que tratamos até aqui é prioridade para os governos que temos e tivemos. Afinal, o que temos são governos que mal conseguem fazer pelo menos o óbvio e mais fácil que a maioria espera: um sistema minimamente eficiente de proteção às pessoas de bem, capaz de zelar pela integridade física e o patrimônio dos cidadãos.
Digo isso porque sucessivos governos na Paraíba vêm cuidando, quando muito, de fazer policiamento quase exclusivamente repressivo, necessariamente exibiocinista. Desse policiamento de exibição os bandidos devem gostar. Afinal, eles sabem exatamente por onde passa ou passou as viaturas policiais que desfilam se amostrando por grandes avenidas e locais de grande fluxo de motoristas e transeuntes.
Sem um policiamento ostensivo e preventivo digno desse nome, resta à população trancar-se dentro de casa, erguer muros, botar cerca elétrica e pagar aos guardas noturnos que substituem a Polícia nos bairros que mais precisam de Polícia.
Na Paraíba em guerra civil, essa é a segurança que resta para para quem não mora em condomínio de luxo fechado, altamente vigiado, ou na Granja Santana.
Greve justa em Campina
Vergonhoso o salário do magistério campinense, tema da coluna de amanhã.