PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O corso carnavalesco e o frevo - Por Sérgio Botelho

Paraíba - O carnaval em João Pessoa, acompanhando o que acontecia no país inteiro, teve, entre seus destaques, durante décadas, um ruidoso, adornado e alegre destile de carros. Estou falando do corso, que, aos trancos e solavancos, conseguiu chegar à década de 1970, quase todo esse tempo, na Duque de Caxias. Em suas primeiras décadas, entre as de 1920 e 1950, alguns clubes da cidade até investiam em carros alegóricos, que disputavam prêmios. Majoritariamente, porém, eram carros particulares levando famílias inteiras ou grupos organizados em blocos que jogavam confete e serpentina e lança perfume uns nos outros, na maior elegância. No entanto, com o decorrer do tempo, seus últimos anos, em João Pessoa, foi marcado por muita água jogada uns nos outros, junto com pó e maisena, esculhambando tudo, embora de forma divertida. Ainda nas décadas iniciais, contudo, o corso, em João Pessoa, sofria críticas em função do seu caráter elitista. Em bem-humorada crônica, assinada por José Cordato, A União publicou, às vésperas do Carnaval de 1934, irônicas críticas à referida prática carnavalesca. É preciso assinalar que na década de 1930, em João Pessoa, foi introduzido o frevo, ou o “passo”, como se dizia, fortalecendo a massa. Dizia, em certo trecho, a zombeteira crônica: “Nós, os que brincamos com o povo e que, por isso, temos a alma alegre e simples, não pretendemos restringir o direito de ostentação dos importantes, que folgam com pose e fidalguia. O que desejamos, porém, é que essa gente fina e graúda não se julgue, no seu gordo egoísmo, como privilegiados foliões, com o direito de, dentro dos seus ricos autos, transitar pela rua Duque de Caxias, durante os folguedos. Assim, como lhe constrange se misturar com a turba – muita fervente, nós, os pobres e alegres passistas, lhe negamos o direito de nos esmagar, extirpar, aleijar e assustar”. Na crônica, os passistas, ao ritmo do frevo, reivindicavam que a Duque de Caxias tivesse tempos diferentes para o corso e para o “passo”. Há 90 anos.

Rua Duque de Caxias: Imagem dos carros no corso

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.