Polêmicas

Papa admite uso de contraceptivos durante epidemia de zika

Risco de microcefalia reacendeu o debate sobre aborto na América Latina e Caribe

El papa Francisco toca su crucifijo mientras lo conducen a través de la multitud durante su audiencia general inaugural, en la Plaza de San Pedro, en el Vaticano, el miércoles 27 de marzo de 2013. Francisco pidió el miércoles que se ponga fin a la violencia y los saqueos relacionados con el golpe de estado del fin de semana en la República Centroafricana, en su primera apelación de ese tipo por la paz desde que se convirtió en papa. (AP foto/Andrew Medichini)
El papa Francisco toca su crucifijo mientras lo conducen a través de la multitud durante su audiencia general inaugural, en la Plaza de San Pedro, en el Vaticano, el miércoles 27 de marzo de 2013. Francisco pidió el miércoles que se ponga fin a la violencia y los saqueos relacionados con el golpe de estado del fin de semana en la República Centroafricana, en su primera apelación de ese tipo por la paz desde que se convirtió en papa. (AP foto/Andrew Medichini)

O Papa Francisco flexibilizou o uso de métodos contraceptivos, como preservativos e a pílula anticoncepcional, para mulheres ameaçadas pela epidemia de vírus zika. O pontífice, contudo, pediu para que não realizem abortos. Nesta quinta-feira, quando retornava do México, Francisco disse que o aborto é um “crime”, mas a contracepção pode ser excepcionalmente “menos pior”.

— O aborto não é uma questão qualquer, é um crime. Evitar uma gravidez não é um mal absoluto — disse Francisco à imprensa, em alusão aos métodos contraceptivos.

O vírus zika pode estar relacionado ao aumento de casos de microcefalia em bebês, no Brasil. Francisco afirmou que há uma diferença moral clara entre abortar e prevenir uma gravidez. Ele citou o Papa Paulo VI (1963-1978), que autorizou de forma excepcional o uso da pílula a religiosas do Congo que temiam ser estupradas por grupos armados do país.

— Não se deve confundir o mal que representa evitar uma gravidez com o aborto. O aborto não é um problema teológico. Matar uma pessoa para salvar outra é uma maldade humana, não um mal religioso — declarou.

Franciso também fez uma apelo para que vacinas sejam rapidamente desenvolvidas:

— Peço aos médicos que façam de tudo para descobrir as vacinas contra esses mosquitos. Que se trabalhe para isso — disse.

O risco de microcefalia reacendeu o debate sobre aborto na América Latina e Caribe. No início de fevereiro, a ONU pediu que países afetados pela epidemia garantam o acesso a contraceptivos e ao aborto. “As leis e as políticas que restringem acesso a esses serviços devem ser urgentemente revistas em consonância com os direitos humanos, a fim de garantir na prática o direito à saúde para todos”, declarou a organização.

ONG LANÇA MANIFESTO EM FAVOR DO ABORTO

A organização não governamental Católicas pelo Direito de Decidir, que milita pela descriminalização do aborto no país, lançou um manifesto em defesa do direito da mulher interromper a gestação se for contaminada pelo vírus zika. Como o diagnóstico da microcefalia só ocorre por volta do 7º mês, quando o procedimento se torna inviável, a ONG defende que as grávidas diagnosticadas com zika possam fazer o aborto.

O movimento se uniu ao grupo de especialistas que planeja apresentar uma ação no Supremo Tribunal Federal para que, entre outros serviços, o Estado garanta o acesso ao aborto no caso de zika. O pedido que será levado à Corte, ainda em fase de elaboração, focará também no difícil acesso a políticas de planejamento familiar e na necessidade de melhoria dos serviços voltados para a saúde feminina.

Para Rosângela Talib, uma das coordenadoras do Católicas pelo Direito de Decidir, as mulheres não podem “pagar a conta” do descaso do Estado:

— Elas terão de arcar com o ônus da falta de saneamento, de coleta de lixo, de exames, de remédios? É uma questão de saúde mental, psicológica. Defendemos também a obrigação do Estado de dar toda a assistência às mulheres que quiserem levar a gravidez adiante.

NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA

A partir de hoje, o zika entrou na lista de doenças de notificação compulsória no Brasil. Diante do avanço de enfermidades graves relacionadas ao vírus, como microcefalia e Guillain-Barré, profissionais de saúde das esferas públicas e privada são obrigados a informar casos suspeitos e confirmados de infecção por zika. A determinação foi publicada no Diário Oficial da União.

Também nesta quinta-feira, o Banco Mundial divulgou que vai liberar US$ 150 milhões (cerca de R$ 600 milhões) para auxiliar o combate ao vírus na América Latina e no Caribe. Os valores estão disponíveis para todos os países da região que sofrem com a epidemia e podem cobrir, por exemplo, o envio de equipes de especialistas aos países afetados. O banco deixou aberta a possibilidade de aplicar mais recursos para o combate à doença.

O Globo

Fonte: O Globo