"Padrinhos" vão bem e "afilhados" vão mal

Paulo Santos

É intrigante e instigante: os prefeitos das duas maiores cidades do Estado – João Pessoa e Campina Grande – ostentam altos índices de aprovação quando as pesquisas perguntam aos eleitores o que acham das suas administrações. E candidatos apoiados por eles não conseguem alcançar os primeiros patamares nesses levantamentos da opinião pública.

Coincidência ou não, os dois candidatos apoiados pelos prefeitos Veneziano Vital – a médica Tatiana Medeiros (PMDB) – e Luciano Agra – o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT) – encontram-se nos terceiros lugares das pesquisas realizadas na Capital e na Rainha da Borborema.

Nesse cenário, a situação mais aflitiva é a do representante do PT, Luciano Cartaxo, pois vem apostando obstinadamente num bom desempenho nestas eleições desde quando tudo era apenas sonho e teve que “dobrar o Cabo da Boa Esperança” várias vezes, submetendo-se a uma corrida de obstáculo dentro do Partido dos Trabalhadores de João Pessoa, tendo apoio das direções nacional e estadual.

A situação é distinta de Tatiana Medeiros que, mesmo sendo representante de um condomínio valioso – o PMDB – é uma neófita em política, estando nessa atividade há pouco menos de dois anos por obra e graças dos irmãos Veneziano e Vital do Rego, desbancando nomes tradicionais da política campinense para a disputa de 2012.

A pergunta que não quer calar é: por que Luciano Agra e Veneziano não conseguem transferir para o depósito eleitoral de Tatiana e Luciano os percentuais de aceitação que suas administrações vêm obtendo nas pesquisas de opinião pública? A resposta não pode ser simplória.

O processo de transferência de prestígio não é um fenômeno político. Está presente em várias outras atividades humanas e, ás vezes, envolve até pais e filhos. Um jurista, por exemplo, pode não transferir seu prestígio para o filho advogado mesmo “forçando a barra” de tentar mostra-lo quase como uma réplica do genitor. Acontece também com médicos, engenheiros, jornalistas e por aí em diante.

O problema de Tatiana, entretanto, é maior e se não conseguir reagir junto ao eleitorado pode criar sérios problemas para Veneziano. Qualquer eleição faz parte de uma caminhada e os tropeços impõem reflexos para as próximas paradas. Neste caso, uma derrota em Campina Grande em 2012 pode causar abalos na estratégia do “cabeludo” para 2014, quando deve se apresentar como candidato peemedebista ao Governo do Estado.

Uma ressalva: um insucesso do PMDB nas urnas de 2012 em CG não pode – nem deve – ser creditado majoritariamente à atual candidata. Ela foi ungida por uma escolha direta e pessoal do próprio Veneziano que, respaldado pelo irmão Vital, fez a opção consciente de que tinha todas as condições de vencer.

Resta saber se Veneziano, após mais de sete anos no poder municipal de Campína Grande, já dispunha de cacife suficiente para transferir prestígio – e principalmente votos – para uma iniciante. Outros líderes políticos, como José Maranhão, tentaram fazer o mesmo – leia-se Roberto Paulino – e não conseguiram e observe-se que o candidato maranhista à época tem tradição: era vice-governador e já havia sido deputado esradual e federal.

Na Capital é inverso. O candidato a Prefeito – Cartaxo – é um campeão de urnas, com carimbo de vencedor em vários pleitos proporcionais e agora se aventurando num pleito majoritário. Seu “padrinho” Luciano Agra, contudo, não tem qualquer tradição em eleições muito menos em política.

Agra criou-se e estabeleceu-se à sombra de Ricardo Coutinho, bafejado pelos atributos de arquiteto culto e competente, além de desfrutar da confiança do ex-petista que se tornou senhor do PSB na Paraíba. A fama do Prefeito só resplandeceu após o vai e vem para escolha do nome preferido do condomínio girassol, a preterição pelos socialistas e o rompimento.

Em analogia com o esporte pode-se dizer que, neste primeiro turno, Tatiana Medeiros e Luciano Cartaxo estão disputando uma espécie de “prova eliminatória” e o segundo turno seriam as “finais”. Ambos vão precisar de fôlego e força para superar os que estão nas primeiras colocações. O bom é que na política, como no esporte e na vida, tudo é possível.