OSTRACISMO É CENSURA por CARLOS CHAGA

Escorregar, todo mundo escorrega, uns mais, outros menos. Erros e acertos fazem parte do quotidiano, mas não se trata de medir na balança pecados e virtudes para saber se o cidadão é bom ou mau. Certas escorregadelas chocam, mesmo se contrabalançadas por um número maior de justas iniciativas.

Este preâmbulo se faz por conta das últimas declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Trata-se do grande artífice da luta contra a corrupção, vencedor do mensalão e campeão do combate à impunidade.

Mesmo assim… Mesmo assim, não dá para entender como o magistrado pregou o ostracismo para réus de crimes de corrupção e congêneres, chegando a criticar os jornais por abrir suas páginas para pessoas condenadas por tais delitos.

Primeiro por tratar-se de uma restrição à liberdade de imprensa, mesmo referida sob a forma de sugestão. Também porque os réus tem direito a defesa, antes e depois de condenados, tanto quanto se torna necessário conhecer as acusações feitas a eles. Sem esquecer a evidência de que a Justiça pode errar.

Imagine-se a opinião de Barbosa aplicada no julgamento de Nuremberg. Deveria a mídia mundial ter-se omitido diante das alegações dos réus, ou sonegar ao público o comportamento de cada um? Nem mesmo a forca evitou que milhares de reportagens e de livros fossem editados a respeito dos criminosos do nazismo, inclusive abrindo páginas para a versão de cada um deles.

No processo do mensalão acontece a mesma coisa. Dissecaram-se os crimes e a participação dos réus, suas explicações e até detalhes de como levam suas vidas na cadeia. São informações que interessam à população, qualquer que seja a reação do leitor, depois de conhecê-las.

Ostracismo, no caso, é censura, punição que ao contrário da manifestação do ministro, não faz parte da pena.

EXAGEROS DESNECESSÁRIOS

No ninho dos tucanos, o grande assunto da semana está sendo a escala da presidente Dilma em Lisboa, na viagem da Suiça para Cuba. Fazendo coro ao exagerado noticiário a respeito da passagem da comitiva presidencial pela capital portuguesa, para uma refeição em restaurante de luxo e pernoite em hotel cinco estrelas, o PSDB dá a impressão de não dispor de mais nenhuma crítica ao governo. Até Aécio Neves insurgiu-se contra a interrupção no trajeto da presidente e seus ministros entre os dois continentes. É por essas e outras que as pesquisas continuam vedando o sucesso ao candidato.