Paulo Santos
Já ouvi de tudo, nos últimos dias, para qualificar essa tal de neutralidade. “Perfeito exemplo de covardia”, dizem uns. “Lição de prudência e sabedoria”, dizem outros. O gosto do freguês determina o sabor do prato. Creio que neutralidade representa demonstração de amizade e respeito de uns ou a mais perfeita tradução do ódio entre rivais.
Esses dois lados da neutralidade foram marcantes, por exemplo, nas decisões tomadas pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) e pelo ex-candidato a prefeito pelo PMDB, José Maranhão. Os dois foram buscar auxílio na mesma reação aparentemente por motivos díspares, supostamente sem relação entre um e outro.
Aos ouvidos dos mortais comuns as explicações de ambos foram perfeitamente plausíveis e assimiláveis, digamos assim. O que Luciano Cartaxo e Cícero Lucena têm dito de Coutinho não justificaria que publicamente o Governador tomasse partido por qualquer um neste segundo turno.
O mesmo não se aplica a Maranhão que adotou uma posição dita “pessoal” para justificar uma atitude política. Conseguiu minimizar o desgaste de mais uma derrota para cargo majoritário amparando-se no fato de não estender essa depreciação da imagem pública com um posicionamento que desagradaria a um dos lados e, principalmente, a setores do seu partido. Diante das circunstâncias foi buscar inspiração em Pilatos e abominou Salomão.
Há controvérsias, contudo, quanto ao distanciamento das duas neutralidades. Há quem ache que, na realidade, houve um précio acerto entre Maranhão e Ricardo Coutinho para que ambos se mantivessem alheios aos dois candidatos neste segundo tempo da disputa pela Prefeitura da Capital.
A centelha que acendeu a fogueira de vaidades, na presunção desse acordo entre o peemedebista e o socialista, foi o encontro nada casual de Maranhão com a candidata derrotada do PSB no primeiro turno, Estelizabel Bezerra, num encontro reservado na casa do líder do PMDB, em conversa que ganhou contornos de “segredo inconfessável”.
É um direito de ambos manter sigilo sobre o tema que motivou a reunião. Também é um direito dos outros políticos e da imprensa especular a respeito do que levou a representante do arque rival do PMDB à casa do ex-candidato cerca menos de 72 horas depois do desligamento das urnas eletrônicas.
Só lidera – ou manda – quem produz segredos. Este é um dos trunfos para arrasar possíveis inimigos próximos ou distantes. O sigilo é um trunfo que oxigena ações dos que querem manter o controle sobre determinada organização, mantendo companheiros e desafetos como reféns de ações decorrentes de algo que só o líder pode manipular. É uma qualidade, antes de tudo, de quem se julga bem informado.
Se houve algum preâmbulo de acordo entre Maranhão e Ricardo Coutinho vê-se que a tal neutralidade foi a senha com que ambos se nivelaram no tabuleiro do xadrez político da Capital. Quem não fez acordo com o Governador foi para o hotel Littoral “fechar” o apoio a Luciano Cartaxo para salvar pelo menos alguns cargos na futura administração.
Os segmentos políticos, mesmo com algumas restrições, reconheceram as qualificações e os méritos no desempenho de Estelizabel Bezerra durante o primeiro turno das eleições na Capital e esse efeito a tornou uma privilegiada interlocutora para começar a fazer o “meio de campo” político de Ricardo Coutinho. Ninguéum se admite se, nos próximos dias, a ex-secretária de Planejamento escander a um posto político de prestígio no Governo do Estado.
Maranhão, com a perspicácia estimulada pela experiência, deve ser um dos que confiam, a partir de agora, na capacidade de articulação de Estelizabel. O contrário disso não o estimularia a recebê-la para tal conversa da qual só escondeu o assunto.
O fato inconteste é que até 2014 não haverá calmaria política e as neutralidades serão enterradas no dia 29 deste mês. A partir de então recomeça a busca pelos posicionamentos que irão culminar com as convenções do próximo período eleitoral. E o melhor que podemos fazer é esquecer tudo que vimos – e ouvimos – até agora.
GOVERNO DE QUEM?
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, esteve nesta quarta-feira (17) em João Pessoa e concedeu entrevistas à imprensa. Em praticamente todas as respostas o Sr. Falcão se referia ao Governo Dilma Roussef como “nosso Governo”. Alguém precisa lembra-lo que o Governo “não é deles”, mas do Brasil. Ele, Lula e seus companheiros de mensalão podem ser donos do PT, mas do Brasil, não.
ALIÁS…
Poucos sabem, mas o esquema federal abriu desavergonhadamente as comportas na campanha do segundo turno em João Pessoa. Altos funcionários do Governo estarão se deslocando para a Paraíba, nas próximas horas, desembarcando com um tsunami de benesses que ninguém vê em tempos sem eleição. O investimento é na área da saúde. Alô, Justiça Eleitoral.
CALOTE DO SEBRAE
Demorou, mas a atual direção do Sebrae da Paraíba conseguiu manchar uma tradição de tantos anos de bons serviços prestados. O pessoal contratado para trabalhar no projeto Caminhos do Frio (cantores, assessores, etc.) sofreu um calote de mais de R$ 60 mil. De acordo com algumas pessoas que foram enganadas o Estado repassou R$ 200 mil para o Sebrae, mas o dinheiro dos que trabalharam sumiu.