Gilvan Freire
‘Enfrentar’ é um verbo que Ricardo Coutinho gosta de conjugar em quase todos os tempos, especialmente no passado, presente e futuro, e sempre na primeira pessoa do singular. É tudo no sentido de realçar o ‘eu’, que é o pronome mais usado na linguagem com que se comunica com os súditos de sua monarquia absolutista, agravada pelas feições mais modernas do totalitarismo de esquerda que está dando os últimos suspiros em regiões atrasadas do mundo.
Nas questões de enfrentamento RC age com a mais absoluta naturalidade, como se não passasse de um esporte predileto, desses que exercitam a mente e dão prazer. Parece até que ele não tem outras diversões, ainda que os hobbies que pratica não causem nenhuma alegria a mais ninguém. Tentando explicar esse fenômeno do comportamento humano, o deputado Ranieri Paulino esbravejou da tribuna da Assembleia nessa terça-feira de ebulição: “É sadismo, ele é um sádico…”, palavras que significam juntas prazer e aquele que tem prazer com o sofrimento alheio. Ou mais ao pé da letra, a crueldade que causa prazer à pessoa cruel.
Não se sabe ao certo porque entre os humanos as pessoas são tão díspares ao ponto de uma só ter prazer quando faz mal às outras da mesma espécie, uma contradição que se contrapõe à ideia de que todas derivam do mesmo tronco criador, Deus, a quem não é atribuída a prática da malignidade, e sim a prática do bem apenas. Isso não seria a prova de que o demônio existe, atemorizando, judiando e infernizando o povo de Deus? Mas por que esses tipos são nossos semelhantes e se originam da mesma raiz?
Entre os animais é possível se compreender que bichos de espécies diferentes se enfrentem e os mais fortes destruam os mais fracos para sobreviver ou para demonstrar apenas a superioridade de força ou de tamanho. Entre os da mesma espécie, contudo, há os que se matam na luta quando não existe lugar ou provisões para sobreviverem todos, ou até mesmo para que uns demonstrem aos outros a sua simples capacidade de matar – instinto puro de destruição de sua própria espécie. Mas nem eles sabem o que é o prazer, sentimento ou sensação reservado somente aos humanos, estranhamente aflorado diante da morte ou do sofrimento do próximo.
RC e a construção do bem
Não é possível que Ricardo Coutinho pense em fazer o bem medindo a força que o governo lhe dá para submeter a seu mando todos que estão abaixo de seu pedestal, desconfiando de cada pessoa quando a opinião alheia contrariar a sua. A submissão de pessoas livres, aprisionadas apenas na imaginação de um dominador cruel, obcecado pelos confrontos e pela arte da guerra, de onde tira o prazer da vida, pode significar a sua própria destruição, na medida em que tenha alcançado o poder pela via dos que nem sequer suspeitavam de suas surpreendentes más intenções. Nesse encontro de realidades assustadoras em que os bons descobrem que construíram em torno de si próprios objetos de adoração com grande capacidade de lhes fazer o mal, a mais branda das reações será combater o perigo e exorcizar as forças do maligno.
Se quiser governar em paz a Paraíba e retribuir o povo pelo voto de confiança que recebeu das urnas, RC terá de mudar o temperamento e abrandar essa natureza arisca e beligerante que lhe exigem demonstração de força quando está em questão apenas a razão alheia e a sua falta de razão.
Não se completa ainda um ano de governo e a população começa a ser armar para defender-se daquele a quem confiou seus interesses e a quem outorgou poderes para proteger-se. E só quem ainda não entendeu esse recado da manifestação popular foi o próprio e escolhido e suposto defensor. Certamente, porque rompeu com a sua própria história, ou porque a sua história está começando agora e o povo é que não tem a capacidade de entender.
Há de se registrar, neste momento, que a parte da população mais atingida pelos malefícios do governo de RC, e aquela que está pagando caro pelos seus atos de perversidade, tendem a unificar a luta e atrair uma opinião pública desconfiada e perplexa que está em pé de guerra. E esse povo todo vai se abrigar no Poder Legislativo para que a instituição não sucumba aos delinquentes, que financiados com dinheiro público, querem impedir que os representantes do povo se manifestem livremente por palavras, opiniões e votos. Está concebido o Fórum Popular em Defesa da Moralidade Pública e da Resistência Democrática. E para o governo, nem precisa fazer outdoor, porque os que já foram instalados têm a cara dele, embora com o retrato dos outros.