Os fanáticos estão se matando coletivamente

Gilvan Freire

Com sua natureza e talento inteiramente voltados para os conflitos e confrontos, o governador Ricardo Coutinho perdeu o controle, os freios e os limites, e agora avança para testar o Coletivo com a sua capacidade provocativa e desafiadora.

Mas ele sabe que o Coletivo foi formado e educado para discutir suas idéias e obedecer às suas ordens. Lá, ninguém nunca imaginou que a suposta, decantada e violentada democracia participativa possa inverter esses papeis, ou seja, o Coletivo subjugar seu criador.

Mas esse tal de Coletivo pressupõe que entre eles haja um mínimo de lealdade, ainda que seja no sentido de que todos professem alguns dos princípios da vida social normal, sob pena de converter-se em organização extraterrena, alienígena. Não é isso.

De outro modo (e isso não seria esquisito, mas seria inusitado) o Coletivo poderia ser uma seita exótica, dessas que vez por outra surgem no mundo pregando idéias malucas, fanatizando as pessoas e ministrando o suicídio coletivo como solução para conflitos psicológicos não resolvidos em grupo. Mas, nessas seitas, o líder não tortura apenas seus liderados. Mata mesmo. E, depois de conferir tudo, se mata também. É pacto. A gente não tem uma sorte dessas.

Parece que foi Shakespeare quem afirmou que a normalidade psíquica é uma ficção. Estudos mais recentes da psicanálise estão indo nessa direção. A prevalecer a tese, os normais é que devem tomar remédios e fazer tratamento, porque os anormais é que não estão sendo compreendidos e nem aceitos.

Mas, enquanto ainda estivermos certos e convencidos de que a normalidade não é doença e de que a anormalidade revela-se por meio de distúrbios exteriorizados, é bom agirmos pensando que não precisamos deitar no divã ou nos submetermos a choques elétricos só porque os anormais acham que não somos normais.

Essa questão de RC e seu Coletivo só deveria interessar a eles, mas termina influenciando na vida da população e habitando o imaginário coletivo porque RC é um grande líder popular – é o governador do Estado. Quem sabe, com essa crise interna do Coletivo, alguns estejam pensando que o Coletivo é a Paraíba toda. E seriamos todos nós paraibanos, por causa disso, que estaríamos dentro desse conflito psicológico grupal da seita de RC. E, em caso de suicídio dos fanatizados, todos deveríamos morrer abraçados.

A ORDEM É PARA QUE TODOS MORRAM DE MEDO
Na prática, o que está acontecendo, a partir da candidatura natimorta de Agra, que não tinha olhos para vigiar sua própria sombra e suas companhias, é o começo de um pacto suicida da seita oficial dos cognominados girassóis, um símbolo vegetal que parece com um cogumelo de bomba atômica. A diferença é que RC quer matar os outros, mas não garante que também vai morrer. E é ai onde os fanáticos desconfiam que ele quer matar alguns para escapar com outros. E, neste momento, querem que ele morra primeiro para dar o bom exemplo. A ideia não é desprezível. Eles não são loucos de tudo têm segundos de lucidez..

Quais são os padrões sociais de conduta política do grupo chamado Coletivo? Quais são os interesses que movem essas pessoas? Porque os costumes normais da população não são considerados como paradigmas para esse setor político que tem regras próprias e anormais de atuação interna e externa?

Para quem conhece a formação política dos últimos tempos, a partir de Marx e Engel e da experiência soviética espalhada para boa parte do mundo, durante quase todo o século XX, não despreza essas anomalias baseadas em ideologias, que são ideias formadores de uma teoria política ou de uma classe pensante. Mas que asneiras são essas agora que só geram conflitos e são incapazes de responder às demandas da sociedade, à melhoria dos costumes políticos e à inovação dos métodos da administração pública?

Não tem explicação lógica. O que resta é considerar essa experiência de laboratório político como uma aventura de resultados desastrosos, em que só os fanáticos descobrem que estão refazendo a história provinciana, enquanto toda a província está chocada achando que tudo é obra de mentes desequilibradas que celebram rituais de culto à loucura.

Mas as coisas, ao que parece, estão se esgotando antes do tempo previsto. Agora são os comandados pelo líder fanatizador, chefe supremo de todos os altares da magia alucinógena, que estão se rebelando contra o mestre de cerimônia e guia espiritual dos suicidas grupais. O problema é que ele tem a força e a autoridade da entidade diabólica que submete os frágeis: dinheiro e poder. Além do mais, ele doutrinou seus fanáticos para não morrerem a não ser de medo. Medo dele. Será assim. Não adianta espernear.