Os cachorros do PSDB - Rubens Nóbrega

A pedido de um amigo comum, estive ontem na sede do PSDB na Monsenhor Walfredo Leal, em Tambiá, Capital, para ter uma prosa que pudesse acalmar Bolinha e Traíra. Os dois estão muito preocupados com o futuro deles no partido, em razão das agruras intestinas que o tucanato paraibano vem sofrendo há mais de um ano e, recentissimamente, em função de suposta cachorrada dentro da legenda.

Assim que a gente começou a conversa, Bolinha foi logo abrindo o jogo. Ele atribui o aperreio a Cícero Lucena, presidente estadual do PSDB, que teria usado verbas do fundo partidário para pagar alimentação, combustível e serviços de uma tropa que andou com ele no último trimestre de 2009, durante a malograda pré-campanha para governador do Estado.

“Às vezes, penso que Cícero não tem juízo, é irresponsável ou ingênuo. Digo isso porque Cássio (Cunha Lima) chegou pra ele naquele tempo e disse assim: Cicin, meu irmãozin, vai rodar pelo interior pra viabilizar o teu nome e deixa que eu cuido do resto. Tem mais: vou te arranjar um time de assessores de primeira pra te ajudar nessas viagens, nesses contatos”, lembrou Bolinha.

Traíra, que até então só escutava, fez pouso de especialista na matéria, pigarreou um pedido de aparte e mandou ver: “E Ciço acreditou! Meteu na cabeça que seria o candidato de Cássio e botou o pé na estrada, aceitando inclusive o time de assessores escalado por Cássio, todo ele de gente da mais absoluta confiança de Cássio”.

Segundo Traíra, enquanto isso o então ex-governador já se entendia com “o Mago Ricardo e, no final, Ciço levou foi uma bela patada de Cássio”. Mas, segundo Bolinha, o pior de tudo isso foi Cícero ter resolvido bancar os gastos daquelas viagens com a verba do fundo partidário, supondo que poderia fazê-lo porque a atividade seria em prol do partido.

“Achando pouco, Cícero também mandou pagar com o fundo partidário umas multas ainda da campanha de 2006, não da campanha dele pra senador, mas de uns outdoors que a Mix mandou fazer pra levantar a bola de Cássio, que era candidato à reeleição, e a Justiça Eleitoral entendeu que aquilo era propaganda fora de época”, relatou o amargurado e aflito Bolinha.

“Pra piorar, veio a história da ração, que João Fernandes (o secretário-geral do partido) autorizou comprar e, agora, taí o TRE glosando as contas do partido e todo mundo gozando a gente”, lamentou Traíra, que me pareceu mais conformado que o seu companheiro diante da possibilidade de serem dispensados pelo PSDB por conta de tão complicadas contas.

O dinheiro e os gastos

Depois de ouvir todas essas lamentações, pedi ajuda do nosso amigo comum para entender melhor porque o Tribunal Regional Eleitoral pode reprovar as contas do PSDB de 2009. Ele me explicou que o relator da matéria, o desembargador Genésio Gomes, já votou pela reprovação das contas pelos seguintes motivos:

– o partido gastou R$ 13.011,80 com alimentação e R$ 5.245,22 com gasolina, naquele ano, totalizando R$ 18.257,02 de despesas irregulares (mas o meu camarada tucano garante que o PSDB comprovou tudo com recibos e notas fiscais, embora isso não baste, reconhece ele, para convencer a Justiça Eleitoral da validade e legalidade desses gastos);

– o partido também pagou multas judiciais no valor total de R$ 13.075,06 dos outdoors de Cássio, mas isso esse tipo de pagamento não poderia nem deveria ter sido feito porque multa não está entre os gastos possíveis de serem cobertos com recursos do fundo partidário, de acordo com a legislação eleitoral (Lei 9.404/97);

– gastos de R$ 320 com ração animal (para todo o ano de 2009).

A votação da matéria no Pleno do TRE começou na sessão de segunda-feira última (25), mas não terminou porque a juíza federal Niliane Meira Lima pediu vistas. Talvez na próxima semana ela traga o seu voto-vista.

Vendo essa demora no julgamento, já sei: vai ser mais uma semana de agonia para Bolinha e Traíra. Os bichinhos vão ficar numa ansiedade de dar pena, coitados, pois estão certos de que, independentemente do resultado no TRE, serão dispensados dos serviços de vigilância da sede do PSDB.

Apesar de esse não ser exatamente o partido da preferência deles, na conversa que tivemos ontem ficou muito claro que eles gostam mesmo do trabalho que fazem, pois estão lá no PSDB há mais de quatro anos e durante todo esse tempo sempre foram muito bem tratados pelo caseiro que toma conta deles. “Além de tudo”, observou Traíra, “a ração que a gente come aqui é da melhor qualidade”.

 

Caos e prevaricação na Saúde

Fiquei absolutamente impressionado com o relato que ouvi ontem do promotor da Saúde da Capital, Doutor João Geraldo Barbosa, no ‘Polêmica Paraíba’ (Paraíba FM, 101.7), de longe e sem favor algum o melhor programa de radiojornalismo da imprensa paraibana no nobilíssimo horário do meio dia.

Além do desmantelo e ineficiência que tomaram conta de amplos setores dos sistemas de saúde gerenciados pela Prefeitura da Capital, Governo do Estado e iniciativa privada, ouço agora que autoridades da área tentam boicotar o fantástico trabalho de inspeção que o diligente representante do Ministério Público da Paraíba vem realizando em João Pessoa.

É de não acreditar. Não dá para acreditar mesmo que a pretexto de executar um plano próprio de fiscalização a Vigilância Sanitária do Município, por manifestação do seu dirigente, o Doutor Ivanildo Brasileiro, esteja se recusando a participar das fiscalizações empreendidas pelo Promotor da Saúde da Capital.

Tão ruim ou pior do que isso foi saber também, da boca do mesmo promotor, que na inspeção por ele realizada ontem pela manhã, no Hospital de Trauma de João Pessoa, o Governo do Estado, através de qualificados assessores, agiu para impedir que jornalistas pudessem registrar o que se passava lá dentro.

Mas o Doutor João Geraldo viu, registrou e o MPPB divulgou no final da tarde. E o que se viu? Corredores e salão de acesso ao elevador lotados de macas e birôs de enfermeiras, funcionando como enfermarias; agulhas e muito lixo espalhados no chão, uma sala de emergência com apenas um respirar pra todo mundo que chega, enfermarias funcionando (?) a uma temperatura de 35º, paciente internado desde 9 de fevereiro aguardando cirurgia, falta de prótese, falta de placa, falta de higiene, de termômetro…

Por aí dá pra ver que li todinho o texto que a Assessoria de Imprensa do MP distribuiu sobre a ‘visita’ ao Trauma e juro como não encontrei, entre as faltas anotadas e apontadas, a falta de vergonha.