Oposicionista caseiro

Paulo Santos

Quem diz que o prefeito Luciano Agra nada tem de ingênuo está coberto de razão. Todos os procedimentos do alcaide pessoense, de poucas semanas para cá, têm demonstrado muito mais do que bipolaridade, desequilíbrio ou outras coisas do gênero. Há muita racionalidade em todo o processo disparado por Agra nessa guerra interna fratricidade do PSB.

À parte dessa observação vale lembrar o adágio popular: na luta do rochedo contra o mar quem sai perdendo é o marisco. Nesse caso, com a luta entre o Governador e o Prefeito a candidatura de Estelizabel Bezerra – a preferida do Palácio da Redenção – está definitivamente comprometida. A ex-secretária municipal de Planejamento pode resistir por uma questão de coerência, mas perdeu poder de competitividade;

O prefeito Luciano Agra nunca deixou de ser candidato. Na aurora do processo, quando corria sozinho a maratona, tinha o primeiro lugar. A cada etapa da corrida definhava e fez com que o então responsável único pelo processo – Ricardo Coutinho – ligasse o pisca-alerta recomendando cuidado;

Agra, marinheiro de primeiro viagem, desistiu devido à pressão para que transferisse seu prestígio administrativo para o da viabilidade eleitoral. Aparentemente fez o que Ricardo e a maioria do PSB queria – seu recuo – e afastou-se sem convicção. Durante quatro meses de 2012 foi uma espécie de “zumbi”, um (com todo o respeito ao povo de Israel) judeu errante, uma nau sem rumo, um carro desgovernado ou, como ele mesmo definiu em emocionado depoimento perante a imprensa, um ser solitário.

O que encasqueta a cabeça dos observadores é o que teria encorajado Agra, reduzido à senzala decorada com girassóis murchos, a enfrentar a casa grande faltando poucos dias dos prazos finais para o registro de candidaturas. Há inúmeras teorias para explicar essa possível ciclotimia do Prefeito de João Pessoa. Todos se bandeiam para o campo da Psicologia porque ninguém acredita que Agra conheça política. Pode ser, mas era o morto doido pra pegar o coveiro.

E pegou. O governador Ricardo Coutinho provavelmente subestiumou Luciano Agra. Poucos dias depois da substituição de pré-candidatos do PSB, um integrante do partido me confidenciava, num supermercado da Capital, que podia compreender as dificuldades de Agra nas pesquisas, mas não compreendia a mudança por uma pessoa de fino trato, conhecedora da cidade, mas com visibilidade ainda menor do que a do Prefeito, Ponderei que Ricardo apostava na força da mídia, pois ele mesmo foi produto desse fenômeno. Meu interlocutor contra-atacou com um chavão: ruim com ele, pior sem ele. Ele, no caso, o alcaide. Sábias palavras.

O segundo momento em que Agra foi “renunciado” ocorreu quando o governador Ricardo Coutinho anunciou o fim do célebre Coletivo Girassol. O que era bom para RC não poderia continuar sendo bom para continuar fabricando candidatos ao Governo do Estado; 2014 está logo ali.

Agra está fazendo política ao seu modo aparentemente incompreensível. O tempo conspirou a seu favor para ver o processo como a oposição vê há mais tempo: confrontar Ricardo Coutinho pode catapultá-lo para um ponto capaz de fazê-lo pronunciar alguns discursos que ficariam melhores se saíssem da boca de Luciano Cartaxo, de Cícero Lucena ou de José Maranhão.

Esses três, aos olhos do eleitorado, eram os únicos desafiantes do poderio bélico-eleitoral de Ricardo Coutinho, mas sem originalidade pois são meros adversários. Agra, ao contrário, se auto-intitulou de “anjo rebelde”, aquele que abandona o destino traçado do mandato-tampão para rivalizar com o protagonista. Conhece o terreno socialista por dentro e por fora e ao colocar seus planos em prática tem contado com apoio sistemático de dirigentes do PSB, por ele mesmo considerados “inábeis”.

Agra sabe como esse arroubo vai terminar. Sairá derrotado do encontro-convenção que o PSB terá de realizar para ungir Estelizabel esse será o dia da explosão final. Quem chegar atrasado será testemunha de uma dura batalha campal. É provável que nem mesmo o pessoal da Emlur consiga juntar tantos casos de candidaturas.

DEGOLA

O confronto entre o governador Ricardo Coutinho e o prefeito Luciano Agra não poderia ter pior repercussão entre pessoas com cargos comissionados ou pro-tempores da Prefeitura. Há quem diga que cerca de 500 contratos de serviço foram revogados por ordem do Paço Municipal.

NEY

O senador Ney Suassuna não dá sorte. Por toda a vida foi do PMDB, de onde saiu depois de trer sobrevivido ao confronto entre José Maranhão e Ronaldo Cunha Lima. Virou girassol socialista e, de novo, está no meio do tiroteio entre Ricardo e Agra. Para quem foi amigo de Gadaffi, tá de bom tamanho.

INQUÉRITO

O vice-prefeito de Nova Olinda e jornalista Idácio Souto segue neste domingo (3), para São Paulo, a fim de se inteirar do andamento do inquérito que apura o atropelamento que culminou com a morte da mulher dele, Vanderly, no mês passado, pouco depois de deixarem o aeroporto de Guarulhos. Mesmo com algumas sequelas do acidente. Idácio não quer deixar o caso à deriva.

SOLON

Circulam rumores, nos ambientes onde se respira política, de que o advogado Solon Benevides teria sido convidado para coordenar a área jurídica da candidatura de José Maranhão (PMDB). Na tarde desta sexta-feira (1) o causídico disse ao locutor que fala que essa possibilidade não existe. “Só sigo a orientação de um político na Paraíba: Cássio Cunha Lima”, enfatizou. Maranhão não pode confirmar nem desmentir a informação porque estava com o celular ‘fora de área”. A propósito: Solon foi, por muitos anos, amigo e aliado de Maranhão, inclusive como secretário de Governo.

APOSENTADORIA

Não deixa de ser sintomático que o Jornal da Paraíba tenha aposentado o VEELHO Ibope de guerra Ibope de guerra e apresente neste sábado (2) – com data de domingo (3) – uma pesquisa feita por um instituto pernambucanoa. A ironia é se, a exemplo do que fez o Ibope em 2010, José Maranhão (PMDB) apareça em primeiro.

TUCANOS

Alguns tucanos paraibanos estão preocupados. Etêm motivos para tanto: Cícero Lucena vem perdendo terreno em pesquisas de consumo interno para José Maranhão, Luciano Cartaxo e Estelizabel Bezerra em João Pessoa, enquanto em Campina Grande a pré-candidatura do deputado Romero Rodrigues simplesmente não existe. Ruy Carneiro e Rômulo Gouveia – os coordenadores – terão muito trabalho nos próximos dias.

PERGUNTAR NÃO OFENDE

Com quem vai ficar, nesta eleição municipal de João Pessoa, o jurista Roosevelt Vita? Cartas para… Deixa pra lá.