Operação Limpeza

Rubens Nóbrega

A Polícia Federal na Paraíba, o Ministério Público Estadual e o Governo do Estado merecem todo o reconhecimento pela verdadeira Operação Limpeza que fizeram ontem nas Polícias Civil e Militar, com a prisão de mais de 30 policiais envolvidos em crimes que vão da formação de milícias ao extermínio de semelhantes.
Batizada de Operação Squadre, a ação policial coroou na madrugada dessa sexta mais de um ano de investigações que convenceram a Justiça a expedir “35 mandados de prisão preventiva, dez de prisão temporária e buscas, 11 de condução coercitiva de pessoas e 19 de busca e apreensão de documentos”, conforme nota divulgada à tarde pela Assessoria de Imprensa do MPPB.
A operação mobilizou cerca de 400 policiais na região metropolitana da Capital (João Pessoa, Bayeux, Santa Rita e Cabedelo), estendendo-se a Alhandra, Mari e Cajazeiras. Até em Recife e Petrolina, no vizinho Pernambuco, foram cumpridas ordens judiciais que forraram a Operação de toda a legalidade possível, inclusive para não dar brecha à soltura imediata dos acusados.
Espera-se que entre os efeitos dessa Operação esteja uma longa – se possível eterna – pausa na incrível série de assassinatos praticados na Paraíba contra jovens e ex-presidiários que caíram no vício das drogas e não tiveram como pagar, a não ser com a vida, o débito com o tráfico. Será que, enfim, os homens da lei conseguiram botar a mão nos famigerados matadores da ‘moto preta’? Saberemos nos próximos dias.


Represálias e ameaças

De outro lado, não dá para não temer represálias das gangues desmanteladas pela PF. Afinal, entre os acusados tem gente ‘graúda’ de dentro das polícias que vinha enriquecendo e fazendo fortuna com corrupção, tráfico de armas e munição, serviços de segurança clandestinos e lavagem de dinheiro.
Basta ver que um dos presos teria ameaçado explicitamente a vida do secretário Cláudio Lima, da Segurança Pública do Estado, ameaça verbalizada a um dos policiais federais que participou da Operação Squadre. “Depois que eu sair da cadeia, duvido o secretário pisar mais na Paraíba”, teria dito o preso, frase recebida com serenidade por Doutor Cláudio.
Delegado federal de carreira, esse povo não tem medo de cara feia, não. Se tivesse, não pegava na rodilha, muito menos levantava pote assim tão pesado, como fez o secretário, que pela iniciativa de ter solicitado a ajuda da PF contra esses milicianos, justiceiros e extorsionários, merece o aplauso de todos os cidadãos de bem da Paraíba.
Bem, formiga sabe a roça que come e os bandidos têm consciência de que com a Polícia Federal o buraco é mais embaixo. Mas não dá pra facilitar nem baixar a guarda diante de pessoas tão perigosas. Ainda mais quando se sabe que, acuadas, viram feras e partem pro tudo ou nada, como andam fazendo os mandantes das chacinas que se sucedem quase diariamente em São Paulo há mais de um mês, justamente para vingar um dos comparsas mortos pela Polícia de lá.
Pelo sim, pelo não, e sem querer ensinar Padre Nosso a vigário, é bom o secretário tratar de se cuidar e andar sob escolta forte e competente.


O Padre Luiz também

Refiro-me ao deputado Luiz Couto, inimigo público nº 1 dos grupos de extermínio na Paraíba e em todo o Nordeste. Ontem mesmo, com a Operação Squadre ainda em curso, já tinha gente ocupando programas de rádio para atribuir as prisões ao ‘Padre Luiz’, forma de colocá-lo ainda mais na mira dos pistoleiros que poderão ser acionados para vingar o que aconteceu nessa histórica sexta-feira.
A luta de Luiz contra esses bandoleiros tem mais de vinte anos. Nesse percurso, poucas vezes ele viu a lei se impor à bandidagem como ontem. Deve estar satisfeito, mas igualmente apreensivo. Ele sabe que apesar de quase todo o tempo escoltado e protegido por policiais federais, agora, mais do que nunca, a sua eliminação física será perseguida como o mais valioso troféu dos protagonistas e incentivadores da barbárie e desrespeito continuado, impune, aos mais elementares direitos dos humanos.
E não deixa de ser curioso que uma das vozes que se levantaram em defesa dos presos pela PF tenha lembrado que os acusados deverão ter todo o direito à defesa e ao contraditório, ou seja, tudo o que justiceiros em particular e matadores de aluguel em geral sempre negaram às suas vítimas.
‘Esquadrões de ação’

Não à toa foi batizada de Operação Squadre a ação da PF. Conforme ensinou Íris Porto ontem no twitter, o nome da operação remete aos Squadre d’azione (esquadrões de ação), grupo paramilitar italiano que viria a se transformar em força militar regular a serviço da extinção dos adversários do regime fascista de Benito Mussolini.
O grupo atuou de 1925 a 1943, ou seja, da ascensão ao poder à deposição do ditador italiano que levou o seu país a compor o núcleo deflagrador da Segunda Grande Guerra, a mais sangrenta e alucinada aventura que um dia pretendeu dominar o mundo pela força das armas e à custa de 60 milhões de vidas humanas.