Óculos inteligentes

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Rubens Nóbrega

Graças à CBN, a rádio que toca notícia, conheci, testei e comprei recentemente uma das mais incríveis invenções desse fantástico mundo das novas tecnologias da informação e da comunicação.
Refiro-me ao Google Glass, os óculos da realidade aumentada ou, como prefiro chamar, os óculos inteligentes. De tão extraordinário e futurista, o troço parece mesmo coisa de ficção científica. Mas não é.

Quem me garantiu e me convenceu foi o jornalista Guilherme Felitti. Ele apresentou-me ao Google Glass em abril do ano passado, quando ouvi pela primeira vez alguém falando da espetacular novidade.

Estrela do programa Conexão CBN-Época Negócios, Felitti falou tão bem do Glass que no final fui direto ao computador e de lá encomendei um. Pelo bicho desembolsei os 1.500 dólares que vinha juntando para estrear na vida de sacoleiro.

O projeto era investir a grana comprando celulares e tabletes de última geração em Miami para revender por aqui. Ganharia bom dinheiro, mas não me arrependo da mudança de planos. Está valendo muito a pena ter um Google Glass.

Pra começar, por suas lentes e dispositivos agregados, apenas falando ou olhando para alguém ou algo posso me comunicar com quem preciso ou quero, interagir com o ambiente onde me encontro e até escrever.

Esta coluna, por exemplo, foi feita assim. Como fiz? Primeiro, para que eventuais e indesejadas testemunhas não pensassem estar diante de um maluco, tranquei-me sozinho num quarto e comecei a ditar o texto.

Pois bem, além de captar e anotar todas as palavras pronunciadas, mesmo aquelas aparentemente desconexas, o Glass organizou tudo em períodos perfeitamente inteligíveis e compôs este escrito que, espero, faça sentido e tenha alguma serventia.

Minha produção tem sido assim desde quando inaugurei esses óculos mais sabidos do que gente de governo. Já reparou como esse povo fica inteligente demais da conta depois que chega ao poder? Mas isso é outra história. Voltemos ao que interessa.

Como vinha dizendo, para cumprir a minha devoção diária neste Jornal da Paraíba, depois que escrevo, isto é, depois que o Glass apronta o texto, vejo se ficou ao meu gosto e, se ficou, mando pra minha editora, a jornalista Angélica Lúcio.

Ela tem um Glass igualzinho ao meu, da mesma geração. Através dele, Angélica recebe a coluna que acabei de remeter e de onde estiver a colega repassa o material para a diagramação, que arruma o escrito nesta página e neste espaço, do jeito que você está lendo. Assim espero.

Por essas e outras, como diria a minha querida promoter Ana Gondim, esse Glass é um es-cân-da-lo! Inclusive porque faço tudo isso, quer dizer, o Glass faz tudo isso por mim obedecendo tão somente a minha voz de comando, da qual saem dos mais simples aos mais complicados comandos de voz.

Para quem ainda não está acreditando, devo dizer que entre outros recursos o Glass possui mil e um sensores e detectores que percebem todas as vontades, necessidades e humores do dono e até de quem está próximo ou tenta se aproximar.

Por exemplo: sabe lá o que é acordar de manhã cedo e ler na sua lente-telinha o aviso de que é aniversário da criatura ressonando ao seu lado?

Daí não dá pra esquecer de forma o cumprimento mais romântico possível, além de nem pensar em deixar de comprar o presente que lhe foi sutilmente sugerido outro dia.

Já pensou a felicidade que me trouxe o fim do drama da memória pouca e cansada que vez por outra me fazia passar batido em datas importantíssimas como essa do natalício da amada?

Deselegâncias sinceras ou descortesias involuntárias são coisas do passado, enfim. Agora, é só marcar na folhinha do Glass que quando for dia ou véspera ele roda, roda e avisa.

Soube ontem, contudo, que o pessoal do Google já está desenvolvendo a segunda geração do Glass. Pelo que disse o nosso Guilherme Felitti, o produto será ainda mais espetacular.

Pra vocês terem uma ideia, os novos óculos serão capazes de oferecer aos seus felizes proprietários uma nova visão da realidade. Êpa, como assim?

Ora, se o cara estiver no Sertão da Paraíba, por hipótese, pode trocar o que vê de miséria, seca e fome por açudes cheios, cisternas com água pela boca, lavoura brotando tudo do bom e do melhor que foi plantado, pastos verdinhos, gado gordo, governo prestando assistência técnica, arranjando crédito subsidiado…

E se o sujeito estiver diante de uma escola pública de Estado ou prefeitura? Oxe, problema nenhuma! Pode entrar que lá dentro vai ter professor ensinando na maior satisfação, aluno aprendendo direitinho, no maior conforto, sentadinho na sua carteira, só esperando a hora de traçar a merenda farta e nutritiva.

Podemos imaginar também você, morador de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo ou de Santa Rita voltando pra casa à noite, pegando atalho por bairros mais afastados da orla ou do centro, sem o menor perigo de encontrar algum perigo pela frente…

Não tenha receio. Pode substituir o medo e as ruas escuras e desertas por viaturas policiais rondando de verdade, protegendo todos e todas. Pode olhar pro lado que verá muita gente humilde, de cadeiras na calçada, conversando na maior tranquilidade…

E todo o resto da população na maior segurança, dentro ou fora de suas residências, a qualquer hora do dia ou da noite.

Teremos em breve, portanto, a maravilha das maravilhas em matéria de óculos inteligentes. E se o ‘brinquedinho’ oferecer mesmo a possibilidade de nos colocar diante de um novo mundo, pode apostar como certos governantes vão comprar todo o estoque para distribuir.

O que vai ter de eleitor usando esses óculos ano que vem…