OAB vai exigir que o Brasil peça perdão pela escravidão no país

Comissão quer um decreto presidencial se desculpando pelo sofrimento que tantos negros passaram

igualdade racialA Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra, criada em março pela Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Rio de Janeiro (OAB-RJ), vai exigir que o governo brasileiro peça perdão pelo crime de escravidão no país. “Que a presidenta Dilma Rousseff emita um decreto ou encaminhe para o Congresso Nacional um projeto de lei para que seja aprovado esse pedido de perdão”, disse à Agência Brasil o presidente da comissão, Marcelo Dias.

Essa é uma das principais conclusões da primeira fase de trabalho e pesquisa da comissão, cujos resultados foram divulgados hoje (9), no Rio. Segundo Marcelo Dias, o governo fluminense terá de emitir decreto ou encaminhar projeto de lei para a Assembleia Legislativa (Alerj), reconhecendo de maneira formal o envolvimento da Corte Imperial, sediada na cidade do Rio de Janeiro, bem como do estado, no processo escravocrata.

Outra recomendação é que o governo federal ratifique a Convenção A-68 da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre discriminação racial e intolerâncias correlatas. A Convenção Interamericana Contra o Racismo, Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância foi aprovada pela assembleia da OEA, em 2013, na Guatemala.

Dias informou que a Convenção A-68 preconiza que em todos os espaços do Poder constituído seja observada a integração étnica e racial. “O Supremo Tribunal Federal é composto 100% hoje por representantes de somente uma etnia. A resolução da OEA exige a presença das diversas etnias que compõem a população de um determinado país. É fundamental a ratificação dessa resolução”, afirmou.

O presidente da comissão ressaltou que os principais entes apontados pelo relatório como responsáveis pelo crime de escravidão no Brasil são o governo português, que trouxe os escravos africanos para o Brasil; o governo brasileiro, que herdou os benefícios do regime escravocrata; e a Igreja Católica, representada pelo Estado do Vaticano, “que abençoou, avalizou o processo escravocrata”.

Como o relatório é parcial, a etapa de reparação pelo crime de escravidão será objeto de pesquisas no próximo ano, visando a identificar as políticas públicas que precisam ser implementadas para reparar esse período de 350 anos de escravidão, mais 127 anos de exclusão racial. “Mas a gente já aponta para o pedido de perdão por parte do papa, do governo brasileiro nos níveis federal e estadual, e do governo português”, disse Dias.

O relatório recomenda que tanto o Congresso Nacional como a Alerj aprovem a criação de um fundo de promoção de políticas públicas de igualdade racial.

Marcelo Dias vai reivindicar à presidência da OAB-RJ que mantenha a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra por, no mínimo, mais dois anos, com o objetivo de concluir a fase mais trabalhosa, que é a reparação. Lembrou que terão de ser consultados os 92 municípios fluminenses para ver quais são as demandas de cada região do estado.

A intenção do presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, é dar continuidade à comissão, cuja primeira etapa de trabalho considera o cumprimento do papel da instituição em defesa do Estado de direito. “É mais uma contribuição em prol de uma sociedade igualitária, autocrítica e de reconhecimento da diversidade”, afirmou Santa Cruz.

Agência Brasil