Rubens Nóbrega
“Ministro, se Deus criou coisa melhor, arrependeu-se e jogou no fundo do mar”. Foi com uma frase mais ou menos assim, dirigida em alto e bom som ao então ministro César Cals, das Minas e Energia, que o jornalista Tarcísio Cartaxo apresentou-me sem querer ao verdadeiro espírito campinense.
Aconteceu em um dia qualquer de 1979, ano em que fui testemunha privilegiada da manifestação do saudoso Cartaxo por me encontrar cobrindo jornalisticamente a visita do ministro e ex-governador cearense ao Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) da antiga UFPB, que naquele tempo incorporava a UFCG.
Ciceroneado por Lynaldo Cavalcanti, o magnífico reitor que dispensava o magnificente e cerimonioso tratamento, César Cals acabara de visitar o Núcleo de Couros e Tanantes do Campus de Campina Grande e articulava um elogio ao que presenciara quando foi interrompido pelo ‘campinismo’ fervoroso do velho Cartaxo de guerra.
A partir daquele momento, passei a compreender mais o que até então tinha na conta de não mais do que um bairrismo exacerbado de campinenses sempre exagerados nos adjetivos, loas e expletivos nas referências à cidade em que nasceram ou por ela foram adotados.
Passei, inclusive, a acreditar na lenda segundo a qual tomar água do Açude Velho é o mesmo que beber uma poção mágica daquelas que fazem o bebedor se perder de paixão por alguma mulher ou pelo lugar que elegeu para viver, criar filhos e raízes.
Estou contando essas coisas e ousando incursionar pela alma campinense para, primeiramente, afirmar a minha admiração e respeito pelo firme pertencimento que expõe e identifica o amor de um povo à sua terra.
Depois, para dizer que não me surpreenderam de modo algum histórias curiosíssimas e ilustrativas do melhor campinismo como aquelas que ouvi no correr da semana de um sertanejo reverenciado pelos campinenses pelo muito que fez pela cidade. E olha que tem nada a ver com o Amigão, com a sede da Fiep…
Não digo o nome do ‘santo’ porque ele não me autorizou; antes, pelo contrário, tentou-me dissuadir de reproduzir os episódios a seguir, temendo que o colunista pudesse sobre eles escrever de forma jocosa. Não é meu propósito. Confiram adiante e depois me digam se de alguma forma dei razão aos temores da fonte que me abasteceu desses exemplares do verdadeiro espírito campinense.
Maior do que a Epitácio
Enivaldo Ribeiro foi prefeito de Campina Grande entre 1976 e 82 e teve como um dos objetivos de gestão dotar a cidade de grandes corredores viários, semelhantes àqueles que Hermano Almeida implantara em João Pessoa.
Não bastava, contudo, parecer igual. Teria que ser maior. Maior, inclusive, do que a Avenida Epitácio Pessoa, a maior da Capital. Para tanto, veio até aqui uma equipe da Prefeitura campinense medir a nossa Epitácio. Pelas contas, deu 6,2 km de extensão.
Os medidores voltaram para Campina satisfeitíssimos, certos de que poderiam superar os pessoenses nesse quesito. E superaram. Daí nasceu a Avenida Floriano Peixoto com seus 12 km e bote força.
Maior do que o Tambaú
Cinco ou seis anos depois, com o retorno do pessoense Tarcísio Burity ao governo estadual, o núcleo campinense mais ligado ao círculo íntimo do poder convenceu o governador a construir um hotel de primeira linha em Campina Grande.
Dali nasceu o projeto do Garden Hotel, obra que Burity começou, mas parou. A construção foi retomada pelo sucessor, Ronaldo Cunha Lima, que terminou o centro de convenções do empreendimento. O hotel propriamente dito somente veio a ser concluído no primeiro governo de Cássio Cunha Lima (2003-2006).
Creio que Burity e Ronaldo foram embora sem saber um detalhe: antes de formatar o projeto, uma equipe foi ao Hotel Tambaú para contar e medir os apartamentos. Se não me trai a memória fraca, contaram 132. Por conta disso, o Garden foi projetado para oferecer 140 ou mais apartamentos aos seus hóspedes.
Uma rodoviária maior
Por fim, a história do terminal rodoviário de passageiros, a famosa Rodoviária que João Pessoa tem a sua na Cidade Baixa e Campina, à margem da alça que conecta as BRs 230 (rumo ao nosso Sertão) e 104 (para Caruaru), contornando a Vila Nova da Rainha.
Pois bem, quando o DER começou a construir a Rodoviária da Capital, alguém (um campinense, certamente) exigiu do Governo do Estado uma do mesmo porte para Campina. Pleito atendido, o projeto arquitetônico daqui foi copiado integralmente para que um terminal fosse rigorosamente igual ao outro.
Evidente que não foi. Apesar da semelhança dos prédios, o pessoal de lá deu um jeito de fazer a Rodoviária de Campina pelo menos 30% maior do que a de João Pessoa e, dizem, mais organizada, mais limpa e com serviços mais eficientes.
Sou nem doido de duvidar. Afinal, como diria um tipo bem popular que nos anos 80 andava pelas ruas da cidade cantando músicas de Roberto Carlos, “Campina é Campina e o resto é paia”.