O tombo de Gonzaga

Rubens Nóbrega

Venho clamando aos céus e aos homens de boa vontade, sobretudo à boa vontade do prefeito da Capital, por um esforço mínimo para recuperar, regularizar e nivelar o piso de nossas calçadas, especialmente calçadas das ruas, avenidas e praças por onde transita o maior número de pessoas.

Meus apelos têm sido inúteis até aqui. Mesmo quando apelei em nome de cidadãos idosos que já quebraram ossos nos buracos e desníveis das nossas calçadas esquecidas, além de sujas e entulhadas a maior parte do tempo por comércios tão irregulares e precários quanto o seu leito.

Volto ao tema e ao problema hoje porque agora tenho ‘santo forte’ como padroeiro (mesmo involuntário) da causa. Vem a ser o nosso amado e venerado cronista Gonzaga Rodrigues, vítima de um tombo semana passada que quase quebra o Neguin em plena Visconde de Pelotas, uma das principais ruas do centro de João Pessoa.

Por conta desse episódio, peço novamente o favor e a gentileza da atenção do Prefeito. E não pense ele que se trata de um problema menor. É do interesse de milhares de viventes e sobreviventes que diariamente demandam o comércio e o sítio histórico de nossa cidade. Pessoas daqui e de fora, que igualmente merecem o nosso acolhimento, muito mais o nosso respeito.
Falando nisso, Senhor Prefeito, desrespeitosa é a omissão ou indiferença do governo municipal diante de um direito dos moradores desta cidade. Isso mesmo: é nosso direito caminhar por calçadas seguras, bem cuidadas, bem preservadas, bem sinalizadas. Pra seu conhecimento e governo, direito previsto em lei, a lei que instituiu o Estatuto do Pedestre em nossa cidade.

Estimo que a lei, secundada pelo interesse dos nossos concidadãos, pode ser finalmente atendida (o Estatuto é de 2007). Pode ser por uma ação conjunta do poder público com a iniciativa privada. Se levada adiante, não imagino nem concebo, de outro lado, que os comerciantes da região central da cidade não se disponham a encarar um ‘IPTU Cidadão’ em favor das boas calçadas, de um passeio público sem sustos ou tombos quebra-pernas.

Na sequência, Excelência, leve a mesma proposta aos demais aldeões, seus munícipes. Dê-lhes um desconto, uma dedução nos impostos ou taxas que a Prefeitura costuma recolher e cobrar com tanta avidez e celeridade. Dê a todos nós o tratamento com que foram agraciados os donos de cartório, por exemplo.
Faça alguma coisa, Prefeito!
Reúna sua equipe, discuta a questão e encaminhe a solução. Aposto como o Ministério das Cidades financiaria um bom projeto de restauração das nossas calçadas. Até por que quem manda e dá expediente naquele órgão, por enquanto, é um jovem político paraibano, e coincidentemente um presumível aliado político seu.
Faça alguma coisa, meu Alcaide, antes que alguém morra (se já não morreu) em decorrência de uma queda provocada por calçada em péssimo estado de conservação. E se o senhor acha que estou sendo dramático, faça pelo menos para evitar que pessoas da importância e idade de um Gonzaga Rodrigues passem por vexame como aquele descrito no artigo que ele escreveu e publicou na edição de terça-feira (21) deste Jornal.
Se não quiser fazer por mim nem pelos outros, que o faça então em homenagem ao nosso cronista maior. Afinal, Gonzaga não merece de forma algum um tombo. Talvez um tombamento. Por ser o monumento mais vivo, mais lúcido e ainda hígido da mais bonita prosa que a Paraíba já leu.
Se quiser uma ajudazinha…

O Prefeito Luciano Cartaxo tem colegas em São Paulo que sancionaram recentemente nova legislação sobre calçadas. Pode recorrer a eles para tomar conhecimento detalhado da iniciativa, mas adianto que “as regras estabelecem que a responsabilidade pela construção, reforma e manutenção, antes apenas do proprietário do imóvel, agora cabe também ao usuário do local, seja ele comercial ou residencial”.
Soube disso através de rilise que recebi no meio da semana que passou de uma empresa de pavimentação. Evidente que a tal empresa distribui notas do gênero movidas pelo interesse de vender o seu peixe, mas o faz com elegância, sutileza e repassa informações úteis à inserção positiva de seu conteúdo em espaços como este.
É o caso da informação sobre existência de norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para garantir que o material a ser utilizado na pavimentação das calçadas proporcione “uma superfície regular, firme, estável e antiderrapante, que não provoque trepidações em cadeiras de rodas ou carrinhos de bebês, por exemplo”.
O material sugerido é o chamado piso intertravado, formado “por peças pré-fabricadas de concreto que se encaixam umas às outras, além de serem fáceis de colocar”. E as intertravadas podem ser coloridas, “mantendo uma estética diferenciada das calçadas comuns”.
Segundo o engenheiro Cláudio Castro, dos quadros da empresa, esse piso se diferencia ainda dos demais porque o espaço entre os blocos é permeável, “permitindo que a água da chuva escoe e corra naturalmente para os lençóis subterrâneos”.