O silêncio que fala

Amadeu Robson Cordeiro

Rabiscar algumas linhas e torná-las pública requer um preço. Falar do subsídio da minha categoria e do salário dos funcionários em nada agrada o governo. Deprimidos, todos os paraibanos assitem a um triste espetáculo do mais puro e duro oportunismo político. No mínimo, é degradante o modo como se trata o estado da alma e os bolsos (vazios) dos servidores estaduais. Portanto, diante da minha insistência em denunciar o que acho errado, tentam me convencer de que a melhor forma de viver é passar despercebido, ser “silenciado”, comentar anonimamente para não ter qualquer relevância pública as minhas palavras. Talvez, ser um merda entre os demais deverá ser a regra número um para garantir às nossas existências o máximo conforto possível. Respeito o governo, mas sinto o corte que sangra na minha, na nossa pele de servidor público. Tudo tem um começo, tudo tem suas raízes. Tudo tem um fim.
Daí relembrar que desde minha infância, pequenos acontecimentos me faziam pensar em Deus como o grande provedor de projetos. O escultor e modelador de idéias, capaz de contornar o coração dos desesperançados.

E nesse trânsito da evolução, tinha dias em que a alegria me embriagava, e em outros, pedia licença à tristeza para trafegar nos seus campos, carregando um pouco de melancolia a tiracolo. Foi assim que pensei ter nascido para alguma tarefa especial. Que, em algum momento, minha existência valeria um tanto mais. O tempo passa, e hoje, observando-me com atenção, percebo que se há realmente algo que me faça ocupar este posto, temo ter-se perdido dentro de mim. Daí me inspirar e reproduzir também Karla em suas belas crônicas.
Diante dos embates com um governo que tem o cabresto como lei, o chicote como ameaça, e vendo nossos projetos tornarem-se etéreos, enveredei algumas noites em claro, tentando uma conversa, um bate papo com Deus, sempre com o olhar voltado para o futuro, foram noites decisivas.

Estas noites me ofereciam o silêncio necessário para que eu refletisse também sobre os meus medos. Temia me tornar uma pessoa medíocre, calada, sem sonhos, sem buscas, acostumado demais com o que vivia que, mesmo insatisfeito, desempenharia sem pestanejar meu papel de conivente com a realidade. Precisei, como ainda precisamos colegas de algo mais, do bom estrume; da boa semente; da promissora colheita.

Acreditei, verdadeiramente, a partir daquele momento da vida em que acreditar é importante e essencial, e que unidos fariamos alguma diferença em nossa realidade. Que realmente faria grandes feitos, digno de uma pessoa que passa tanto tempo em companhia de reflexões; que pondera, mas não renega os desejos e impulsos. Que acredita no dia seguinte como se nele coubesse somente o melhor. Obviamente, até mesmo as crenças sofrem abalos.

Na verdade, com o tempo eu também fui me amoldando. E o tempo não desperta somente para necessidades, mas, também, para sabedorias. Daí lembrar com freqüência das colocações do amigo monteirense Jairo Romão diante das dificuldades e obstáculos: “tenhamos fé em Deus colega”.

E na frieza dos cálculos, hoje percebo que essa importância é uma conquista diária e que nem sempre está em grandes feitos, mas na sutileza e na simplicidade de cada experiência pela qual passamos e divulgamos em nossos textos. Que se trata de um estado de espírito que é construído aos poucos. Hoje não posso calar. Posso não ser a pessoa que idealizei na infância das minhas experiências e que se transportou à fase adulta. Talvez nunca chegue perto de ser este alguém. Mas o que torna este pensamento tão ambíguo e ao mesmo tempo revelador, é que podemos nos tornar pessoas bem melhores do que, dia desses, fomos. É não permitir que o governo alimente sua metralhadora política, de domínio estéril. Pior: mentiroso. Se assim o fizermos acho que isso já é uma possibilidade. Governador, reveja suas raízes, reveja o engatinha, os primeiros passos da sua carreira política. Reveja…!