Gilvan Freire
Se os demais empresários da Paraíba fossem ajudados pelo poder público como Roberto Santiago, a economia do Estado estaria bem maior, e nós todos teríamos o orgulho de ver surgir não apenas um, mas vários ‘Roberto Santiago’. A menos que Roberto seja um filho especial de Deus, a quem o Soberano teria dado (somente a ele) os dotes geniais de ganhar dinheiro e prosperar na vida, afastando do cálice consagrado todos os que pudessem concorrer com o filho abençoado. Nesse caso, Deus também teria lhe dado um carisma extraordinário para conquistar pessoas e convencer homens públicos de que, além de filho único de Deus, deveria ser acolhido como filho primogênito de todos os governos que se situassem próximos de seus negócios, um monopólio urbano intocável construído acima das leis e das autoridades e imune ao controle do Estado e do Município, como estão sujeitos os outros mortais.
Em verdade, Roberto cultiva relações com os deuses políticos, divindades que não sabem onde mora o verdadeiro Deus e nem o consultam quando se trata de dar a todos os césares o que não pode ser dado a um César só. Ou, então, não querem essas divindades que Deus transite por esse lixão de lama e fezes humanas. Mas, se temessem ao Pai, por esse pântano também não andariam.
O terreno e o pecado
Essa questão da permuta dos terrenos não é uma operação isolada, é apenas um pedaço do novelo que será todo desenrolado daqui para a frente, com dados, provas e elementos confrontados com a versão oficial. É um escândalo monumental desses que a Paraíba não conheceria se não houvesse a negociata urdida, mas abortada na Assembléia Legislativa tão rapidamente quanto andou nos primeiros momentos da urgência suspeita que colocou a matéria escondida no meio de outras de relevante interesse público ou apenas governamental.
Mais que uma simples troca de bens com valores diferentes e compensação pela diferença, localização, infra-estrutura urbana, estratégia comercial, compromissos e reciprocidades políticas, promiscuidade, queima de biografias e lesão ao direito público, essa maracutaia reflete a necessidade de o povo cobrar de seu governador a transparência administrativa propagandeada mas viciada pela prática de um conluio descoberto abaixo do tapete palaciano. Se a população se levantasse diante dos primeiros sinais de desvio moral do poder público, os governos corriam até o risco de ser honestos. Mas, se houver silêncio, que é forma de cumplicidade, todos os governos estarão dispensados desse risco.
O shopping e o que ele comprara e não vende
A história desse shopping e o que ele já compra mas não vende e a ninguém é dado saber, é que ele tem duas faces, uma clara e outra escura, uma exposta e a outra escondida. Pelo lado mais clareado, ou seja, aquele onde o governo colocou os holofotes para mostrar, depois que a população achou a jóia escondida nos monturos, tratar-se-ia do segundo grande shopping para a Capital, pertencente a um santo do capitalismo selvagem e predador voraz, mas filho da terra, genial e talentoso como não há outro igual nessas bandas do atraso. Não há nada avaliado, projetado ou escrito, mas os dados falaciosos do improviso e das desculpas esfarrapadas da parte de quem foi achado com a mão na botija, é de que as cifras estão em 200 milhões de investimentos privados para remunerar os investidores, e mais de 2 mil empregos para trabalhadores. Afora, naturalmente (não contabilizam oficialmente os que ganharão com a defesa do projeto), os produtos que serão vendidos e comprados pelo shopping antes mesmo que suas plantas sejam colocadas na prancheta dos arquitetos. É o varejo da corrupção.
O lado negro
Pelo lado obscuro, aquele que ninguém nunca deveria saber, além dos cúmplices e interessados, esse terreno e o shopping são uma maquinação disfarçada para impedir que outros grupos empresariais locais ou de fora possam fazer um shopping três ou quatro vezes maior, com três ou quatro vezes os investimentos do de Roberto Santiago e seus sócios ocultos, gerando quatro ou cinco vezes o número de empregos e expandindo mais a cidade e os negócios imobiliários e comerciais locais. Tem outras vantagens: esses empreendedores não querem sequer os favores que o governo está dando a Roberto Santiago e a população ganhará pela concorrência limpa e livre os benefícios da quebra de um monopólio que encarece preços e escraviza lojistas. Mas o negócio limpa não interessa aos que ganham somente com o sujo.
Contando tudo
Depois do feriado, contaremos com provas, em vários artigos sequenciados, os pormenores dessa operação junina, certos que os traques de São João não podem desviar as atenções dessa bomba atômica moral que explodiu de surpresa a poucos centímetros dos nossos pés. Até terça-feira.