O rei do chapéu alheio

Rubens Nóbrega

Alguém aí saberia me dizer se existe na Paraíba, em andamento ou concluída, alguma obra pública de médio ou grande porte que seja iniciativa própria do Ricardus I?

Se alguém souber e puder me informar, mesmo que seja o próprio governador, agradeço bastante. E se pergunto e peço que me informem e atualizem é porque procuro e só encontro ou vejo o nosso imperador faturando com o chapéu alheio.
Isso mesmo. Sua Majestade não tem a menor dificuldade (alguns diriam pudor) em jactar-se de estar construindo o Centro de Convenções da Capital, obra que todo mundo sabe ter sido projetada por Cássio, destravada e iniciada por Maranhão.
Recorde-se, ainda, que a gestão anterior só não deixou o Centro de Convenções em estágio avançado porque uma providencial ação de ambientalistas ligados ao então prefeito da Capital cuidou de travar a construção por quase todo o Maranhão III.

Já obras como a Translitorânea (que estaria 95% pronta quando o atual governo assumiu) e o recapeamento ou asfaltamento de dezenas de estradas no interior também foram planejadas, licitadas e financiadas com verbas captadas pelo governo passado. A participação real do absoluto nessas obras limitou-se a assinar ordens de serviço e às festivas inaugurações pro homem sair bem na fotografia.

Evidente que obra pública não tem – ou não deveria ter – DNA, mas… Custa dar o crédito a quem realmente a projetou, buscou e conseguiu o financiamento para construir ou, melhor ainda, construiu e a deixou prontinha da Silva?

Comportamentos como esse do monarca me fazem pensar que, além de tudo, o cara é de uma enorme falta de grandeza ou é tão obcecado por sua própria figura que acredita mesmo estar refundando a Paraíba. Vai ver, está convencido de que a nossa história começou do zero a zero hora do dia 1º de janeiro do ano da graça de 2011.

Dá pra reverter?
Por tudo o que digo e escrevo sobre o Ricardus I, a maioria dos meus amigos acha que estou ‘fazendo onda’ quando digo que o governador ainda tem chances de superar nos próximos dois anos a sua atual popularidade, inegavelmente baixa nos grandes centros urbanos, e se credenciar com candidato super competitivo à reeleição.

Se os eleitores pretensamente mais politizados e independentes ainda resistem ao ‘charme’ real, nos grotões e pequenos municípios ele começa a reinar. Sabem como é… Uma pontezinha aqui, um tapa-buraco ali e uma laminha de asfalto acolá costumam dar boa fama e simpatia popular aos governantes.

De qualquer sorte, se nessas localidades Sua Majestade até estaria bem na fita, no resto… Segundo me passaram fontes acreditadas, pesquisas de opinião encomendadas pelo próprio governo colocariam o absoluto como alvo da aprovação de apenas 26% dos seus súditos campinenses e de 40% dos ‘pessoenses’.

Mas, se depender da leitura de Gosto Ruim e outros da qualidade dele, esses números seriam ainda piores porque na verdade as pesquisas indicariam que em Campina a reprovação do monarca ascende a 74% e na Capital chega a 60%. “Mas têm aqueles que acham o governo regular, Gosto, e eles não são poucos. A rejeição não essa danação que estás dizendo, não”, ponderei.

Ele não aceitou o argumento. “Conversa, Rubão. Esse negócio de regular é pra quem não tem opinião ou medo de dizer o que pensa e na Paraíba tem um bocado de gente frouxa com medo desse Mago. Com razão: pelo visto, ele segue a máxima segundo a qual homem realmente vale pelo mal que faz”, rebateu.

Ainda assim, mantenho a intuição, que um dia foi convicção, de que o nosso Bonaparte pode reverter com certa facilidade o quadro atual, inclusive porque, como disse, vem faturando barbaridade as realizações de obras adiantadas, em fase acabamento ou concluídas pelo Maranhão III ou que se arrastam desde o Cássio II.

Mais um feito ricardista
Se alguém tem dúvida de que o nosso rei não dispõe no momento de bom conceito junto à opinião pública, recomendo dar uma olhada no resultado de enquete promovida ontem pelo programa Polêmica Paraíba, da Paraíba FM, que em menos de meia hora colheu a opinião de 110 ouvintes.

Saibam os que ainda não sabem que à pergunta sobre quem seria hoje o maior líder político do Estado 36% dos que ligaram para o programa responderam que o senador Cássio Cunha Lima é o cara. Em segundo lugar ficou o ex-governador José Maranhão com 21% e em terceiro, o prefeito Veneziano Vital, de Campina, com 19%, seguido do deputado petista Luciano Cartaxo e seus 4%.

Durante a enquete, um único, solidário e solitário ouvinte ‘votou’ em Ricardo Coutinho como ‘maior líder político da Paraíba’. E olha que esse ouvinte não é a jornalista Estelizabel Bezerra, candidata do governador à Prefeitura da Capital, para quem Sua Majestade seria o maior entre os maiorais da política paraibana.

O ricardista que telefonou também não é sujeito arranjado pela produção do programa para mencionar o nome do generalíssimo, sob a lógica segundo a qual nenhuma menção ao homem poderia por em dúvida a credibilidade da enquete.

De qualquer modo, Ricardo Coutinho incorporou ontem novo feito à sua biografia: é o primeiro governador da história a ocupar a lanterna de um ranking dessa natureza em pleno exercício do mandato.