Polêmicas

O Rei, a gripe e os velhinhos

Amadeu Robson Cordeiro

Manhã de sábado. Aproveitando esta folga funcional resolvi colocar meu carro para uma pequena revisão que há muito vinha protelando. O dia amanhecera chuvoso e frio e, de blusão e guarda-chuva, sem lenço e com muitos documentos, peguei um transporte coletivo até o centro da cidade buscando minha velha companheira: a agência bancária.

Surpreendido com a boa qualidade do transporte público não pude esconder a curiosidade com dois velhinhos, ou seja, dois senhores da melhor idade que confabulavam com certa dose de desconfiança, ali, bem pertinho de mim.

Assim, depois de um breve telefonema ao colega Manoel Isidro e uma pequena via crusis bancária, empreendi uma parada rápida para degustar o apetitoso café expresso do Ponto de Cem Rés. Aí, caro leitor, pode até me achar bisbilhoteiro, mas, tamanho fora a surpresa ao ouvir o proseado de um grupo de senhores colocando dúvidas sob a eficácia das vacinas, principalmente contra a gripe. Por simbiose, o mesmo tema da conversa anteriormente ouvida no ônibus.

De relance me veio à cabeça a velha e antiga historia da Previdência Social que ouço desde os tempos de criança e que só agora constato a grande incerteza destes senhores que convivem com um mísero salário mínimo. Ora, eu estava ali, pacientemente sentado e não tinha como deixar de ouvir, e o que se arrolava entre eles me prendeu tanto a atenção que perdi o horário, me afogando em vários cafés. Dizia um deles: Vocês já sabem que segunda-feira será o pagamento do nosso salário mínimo? Já fizeram o recadastramento? Um outro respondia que sim. Mas também é dia de tomar a vacina contra a gripe, o senhor vai tomar? E o outro respondia: Eu não, porque dizem que o Governo inventou essa vacina para diminuir a sobrecarga da Previdência e da PB – Prev. O Rei quer economizar para investir na alimentação servida na sua granja real. Aí um outro: como assim? Não entendi! Muito simples, relatava o outro, essa vacina quando você toma, passa mal e logo morre e aí o Governo deixa de pagar os salários dos velhinhos.

O retrato do país na sabedoria dos antigos é fruto da inconseqüência dos que fazem as leis e dos que têm o dever de aplicá-las. A banalização do mal coloca em dúvida todas as ações, transformando-as em incaltas inverdades.

A constatação a que cheguei é que a ingenuidade destes velhinhos é compreensível. Com tantas operações cirúrgicas policiais sendo realizadas na terrinha do Rei, desconfiam até de uma singela agulhinha. O que dirão agora com a dengue ou a febre amarela? É de amarelar os girassóis!