O político, a votação e a eleição

Amadeu Robson Cordeiro

Sabemos que em nossa sociedade há um culto ao poder. As críticas de alguns pensadores divergem sobre o que, fundamentalmente, motivaria as atitudes humanas, se seria a felicidade, a liberdade ou o poder. Assim, começo a indagar o que diria os grandes filósofos que tangenciavam suas idéias políticas se hoje estivessem entre nós.
A indagação vem à tona com a aproximação da eleição para novos prefeitos e vereadores, num paradoxo entre a atitude de futuros vencedores e vencidos. Para os primeiros, em face às distorções sociais e até culturais que permeiam por esta Paraíba a fora, preliminarmente, deve ser afastado o sentimento de milagre e de outras intervenções redentoras e supersticiosas, tão cultivadas numa sociedade que tem tido pouca oportunidade de participar da governabilidade e se manifestar sobre problemas que, sem combater as causas, não reduzem os efeitos – o próprio desgoverno do governo, a desigualdade social, o desemprego, a segurança pública, a usurpação dos direitos e conquistas de servidores públicos – a ponto de desequilibrar e desacreditar o próprio Estado.
Para os segundos, nesta nova eleição que ora se aproxima, como em todas as outras que presenciamos, o que vai continuar a impressionar vai ser a revolta e insatisfação de alguns que perderão e que, na convulsão da alienação pelo poder, já tinham suas eleições como fato sumariamente consumado.
Posso preludiar que, frustrados seus intentos, os menos perniciosos se recolherão ao mutismo das crianças contrariadas, e que outros serão perseguidos pelos credores do centro da campanha, a exemplo das gráficas, dos bancos e dos ex-colaboradores. Assim, muitos arribarão para lugares incertos e não sabidos, a entenderem que os prejuízos de suas derrotas devam ser compartilhados por todos, solidariamente.
O poder ditador que hoje impera, impõe um clima de agressão psicológica e muitos políticos ainda o reverenciam numa subordinação estúpida e vergonhosa. Em algum lugar deste país existe um governo se passa como um profeta com seu séquito de apóstolos vesgos. Vê o futuro ao avesso e para ele tudo acontece segundo suas previsões. Sua missão ilusória perante o povo é enxugar a máquina, demitindo trabalhadores país de famílias, ao mesmo tempo em que ele próprio a encharca com milhares de nomeações. O profeta chega a ser grosso, estúpido e insensível, implantando normas sem pensar as quais todos devem obedecer sem reclamar. Seu tipo é: eu mando e todos obedecem, do seu vice ao menor dos barnabés. O profeta esconde sua incapacidade, confusão, insegurança e dificuldade, através de gritos e ameaças aos seus subordinados diretos (secretários e políticos de sua base), no cumprimento de ordens e votações contraditórias, impondo a todos um verdadeiro temor reverencial.
Uma parte da classe política deve entender que se hoje estão ao lado do poder, amanhã podem não estar. A população está atenta; os servidores públicos em vigília permanente. Seus nomes serão muito bem lembrados no momento oportuno, mas, depois, serão descartados tal qual fraudas geriátricas ou mesmo os intocáveis lixos hospitalares. Se hoje o veneno é inoculado em outrem, amanhã poderá sê-lo em si próprio. Fiquem atentos.