Rubens Nóbrega

Fosse repórter, tentaria ganhar um Prêmio AETC de Jornalismo fazendo uma daquelas entrevistas impactantes e reveladoras que faz tempo não vejo na imprensa paraibana.
Minhas chances de receber um Oscar das mãos do Doutor Mário Tourinho aumentariam exponencialmente em razão do entrevistado. Afinal, o meu eleito seria ninguém menos que o Doutor Coriolano Coutinho.
Jornalisticamente falando, o irmão de Ricardus I é sem dúvida uma das figuras mais fascinantes do girassolaico reino que tomou conta do poder no Estado, começando pela Prefeitura da Capital, em 2005.
Até pelos mistérios e sortilégios que acompanham sua trajetória e desempenho desde que o mano foi entronizado, Cori, assim chamado pelos mais chegados, é decidida e positivamente um grande personagem.
Acompanhemos um pouco a história recente do atual superintendente da Emlur, autarquia de limpeza urbana de João Pessoa.
Escalado pelo irmão – na época prefeito da Capital – para dirigir a Emlur, volta e meia o nome de Cori ilustra o noticiário sobre escândalos no governo municipal.
Este ano, por exemplo, descobriu-se que a Emlur deve ter virado mesmo uma mina, ao ponto de proporcionar uma formidável evolução material, sobretudo patrimonial, de um de seus mais humildes servidores.
Pois não é que um gari ganhou uma licitação na Emlur por ser ‘dono’ de uma empresa contratada por R$ 600 mil para alugar caminhões à coleta de lixo!
Mas o Escândalo do Gari não abalou um tico a posição de Sua Alteza.
Tanto é assim que na única vez em que especularam sobre sua saída do cargo, o irmão do Ricardus I mostrou que Lucianus Agra, o alcaide de espera, não tem poderes para tanto. O próprio Cori descartou ser demitido da Emlur.
Bife mais caro que filé

Na sequência das proezas do gênero, viria o Escândalo do Bife, título que pode ser dado à denúncia segundo a qual a Emlur estaria comprando 28 toneladas da carne de segunda ao preço de R$ 395,4 mil.
Conforme matéria publicada pelo ClickPB, graças à competência investigativa do jornalista Clilson Júnior, a Emlur de Cori faria o contribuinte pagar R$ 12,48 por um quilo do bife de acém ou músculo.
Por esse valor, a carne supostamente adquirida para alimentar o pessoal da Emlur ficaria mais cara no atacado do que se fosse comprada no varejo.
Se comprasse o bife de acém ou músculo em uma daquelas boutiques de carne, bandeja por bandeja, ainda assim seria mais barato.
Não é só. O ClickPB também revelou que a empresa vencedora da licitação da carne era um desses fenômenos que vez por outra incestuam as relações do público com o privado nas aquisições de grande monta.
A tal empresa, a Wy Representações, foi fundada em fevereiro deste ano e sequer funcionava no endereço (em Campina Grande) com que foi registrada.
Nessa pisada, indiferente a essas e outras do gênero, o poderoso Cori segue inabalável e imexível, surfando elegantemente sobre as ondas de todos os escândalos, sem levar um caldo sequer.

 

Fama agora é nacional

Por todo o exposto, não vejo ameaça alguma ao seu cargo pelo fato de o superintendente da Emlur ter sido citado como ‘mentor de superfaturamento e de caixa dois’ em uma revista de circulação nacional.
Refiro-me à revista Época, que esta semana exibe ao Brasil e ao mundo como teria sido engenhosamente abastecido o caixa de campanha do candidato do PSB ao governo da Paraíba na campanha de 2010.
Trata-se de mais um escândalo envolvendo os Coutinho. Dessa vez, o Escândalo do Livro, denunciado pelo empresário Daniel Guimarães, vencedor ano passado de uma licitação para fornecer R$ 2,3 milhões em livros à PMJP.
Daniel ganhou, mas não levou. Segundo disse à Época, o dinheiro foi pago irregularmente pela Prefeitura a um ex-vendedor de sua empresa, amigão de Coriolano, que teria representado o empresário na tal licitação.
O pretenso enganado afirma categoricamente em vídeo que o amigo de Cori pegou boa parte daquela grana e doou à campanha de Ricardo.
A revista buscou ouvir todos os acusados. Praticamente todos, incluindo o governador, pronunciaram-se para rebater as acusações. Mas Cori, até onde pude apurar, mais uma vez ficou em silêncio e deu calado como resposta.
Fazer o quê? Mais do que somar-se às próprias circunstâncias, pessoas como o nosso protagonista são extremadamente fiéis ao seu estilo. São coisas assim que diferenciam um Cori do comum dos mortais.
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Se o Doutor Coriolano Coutinho quiser, estarei à disposição para entrevista ou qualquer outra forma de depoimento ou esclarecimento que queira fazer.