O PMDB E CÍCERO MORREM A MÍNGUA - Por Gilvan Freire

É verdade que não há ninguém esperando dos líderes políticos uma atitude de coerência e firmeza em meio a esse pantanoso processo de dubiedade e fraquezas como se comportam todos nesta véspera de período eleitoral. Todos agora são compatíveis entre si em tudo, como se pertencessem a um partido único e nunca tivessem discordado em nada, parecendo uma classe hegemônica e harmônica. Assim, se há eventuais divergências ocasionais, isso está entre RC e Cássio. Melhor seria dizer-se que há apenas desarmonia entre eles, porque dias atrás estavam unidos, e só agora não estão mais.

A desagregação havida entre Cássio e RC, contudo – que deveria ter ocorrido muito antes, por causa das mesmas razões que são velhas – vão ainda render muito, pois são o móvel da disputa da eleição pra governador. Por enquanto a discussão é pobre, sem conteúdo e substância, mas logo mais descamba para o essencial: a capacidade comprovada de cada um governar com base na experiência de gestão pública, no temperamento e estilo de governante e nos resultados efetivos de cada administração, além do bem e o mal que cada um fez ou deixou de fazer. Como se sabe, governar é a arte de fazer o bem e evitar o mal. E só entra no Céu quem trocou o pior pelo melhor. Tá chegando a hora de os dois líderes enfrentarem o purgatório do julgamento comparativo, ali na antessala de duas portas que dão ingresso para as labaredas do inferno de um lado e para o paraíso do outro. Chama-se a essa antessala de paredão do voto popular, onde serão proclamados salvos os merecedores da justiça dos homens ou os beneficiários de suas indulgências ou erros.

O PMDB, PORÉM, QUE NOS ÚLTIMOS ANOS TEM SIDO PROTAGONISTA DAS DISPUTAS, caiu em estado de depressão e age como se fosse espectador da cena, tonto como se tivesse recebido um nocaute antes de começar a luta. Qual é a estratégia do PMDB para sair dessa situação vexaminosa de total e absoluta dependência do PT que cada dia que passa mais o desqualifica e o afronta? Quem ainda lidera o PMDB e lhe põe rumos no Estado?

 

Não bastasse o manifesto refugamento que o PT promove contra o PMDB, os próprios líderes peemedebistas, sem um mínimo de capacidade de decisão autônoma, ficam criando situações políticas que não se confirmam. Não só não se confirmam como são negadas nas horas seguintes, quase todas demonstrando interesse explícito com a candidatura de Cássio. É assim: quando os líderes se amofinam, os liderados se evaporam, somem, ou desertam. Na hora das grandes decisões, não há lugar para vacilações.

 

De outro lado, Cícero é vítima de afogamento forçado. Já está com água pelo pescoço em piscina enchida por Ruy Carneiro e Cássio. Com relação a Cássio é porque Cícero já teve o controle do PSDB, via Serra e o eixo paulista do partido, que não toleravam e nem confiavam em Cássio. Isso deixou muitos calos, que se agravaram com o apoio de Cássio a RC em 2010, o preço que Cássio vai ter de arrostar sozinho.

 

Nos últimos tempos, o prestigio partidário mudou de lado, e o apoio de Serra a Cícero transformou-se no apoio ascendente de Aécio a Cássio, saindo o eixo de São Paulo para Minas. Foi ai que Cássio triunfou sobre Cícero e adquiriu o controle partidário na Paraíba. O resto são apenas desdobramentos. Mas, para enfraquecer ainda mais Cícero, Cássio cooptou Ruy Carneiro, volúvel a todas as formas de poder e mando, exatamente o que Cícero lhe deu enquanto tinha. Ficaram, entretanto, duas lições inesquecíveis – talvez justas – aos dois grande amigos e aliados de duas décadas: todos os que são aliados em razão do poder são potencialmente desleais por causa dele, assim como ocorre a Ruy em relação a Cícero e RC em relação a Cássio. Mas, afinal, porque Cícero não mata logo esse suspense e conta o que Ruy teria lhe proposto recentemente?