O pipoco do trovão

Rubens Nóbrega

Por vezes dá um desânimo danado, bate um pessimismo tão grande que me sinto levado a acreditar que a Paraíba não tem futuro, que enterraram uma ‘caveira de burro’ no solo da ‘brava e pequenina’.
Não há otimismo que resista se a gente liga o rádio e ouve um cidadão falando que onde mora, no interior, falta água até para matar a sede de criança e o prefeito nada faz além de perseguir quem contribuiu para sua derrota nas urnas de 7 de outubro.
Aliás, segundo a mesma pessoa, o prefeito faz outra coisa, sim. Ele permite que os dois carros-pipas que aparecem por lá uma vez por semana abasteçam baldes, potes e caixas d’água de seus ‘afilhados’. O resto que se dane!
Com essa desligo o rádio e abro o noticiário da Internet. Pra quê? Logo dou de cara com informação segundo a qual aquele ‘grande empresário paraibano’ montou uma farsa – e não uma fábrica – em sua terra natal.
Aliás, a ‘montadora da Paraíba’ vai para… Pernambuco! Pelo menos deve ir ano que vem, graças às gestões do diligente e prestigiado governador Eduardo Campos.
Ele esteve pessoalmente na China em maio deste ano e ofereceu todas as condições para a Great Wall, a montadora prometida à Paraíba, produzir carros em solo pernambucano.
Resta-nos aguardar o entusiasmo do governador da Paraíba diante das possíveis sobras do investimento no Estado vizinho, a exemplo do que fez quando da confirmação da Fiat em Goiana.
A ‘perspectiva’ me entristece tanto que fecho o computador e me dirijo ao cafezinho para jogar conversa fiada fora com amigos, na tentativa de tirar da cabeça essa ideia de que a Paraíba não tem jeito mesmo.
No caminho, encontro um dos donos do shopping que costumo frequentar mais assiduamente e lhe sugiro Internet sem fio nas praças de alimentação.
Ele manifesta o temor de que “muita gente fique ocupando as mesas só para usar computador”. Tento convencê-lo de que o wi-fi seria mais um atrativo do shopping, inclusive de clientes qualificados, potencialmente bons consumidores.
Dou-me como exemplo, cabotinamente. Digo que adoro escrever nos cafés dos shoppings, onde geralmente consumo um capuccino, um pastelzinho, depois compro vez por outra um livro pra minha filha, pago estacionamento…
O homem muda de assunto e logo arranja outro interlocutor, talvez para fugir do incômodo pidão. E me deixa pensando em Roberto Santiago como exemplo de empresário moderno.
Oficina? Agora, só genérica!

Em meio a pensamentos dessa ordem, dou-me conta que está na hora de, enfim, buscar o carro que recebeu alta da oficina ‘autorizada’ em que se encontra há quase três semanas para um serviço que levaria dois dias, no máximo.
Mas, disseram ao cliente impaciente, faltaram peças e tiveram que mandar buscar na caixa prego. “Vocês não fazem estoque de peças, não?”, perguntei. Pergunta imbecil. Claro que fazem, mas só daquelas que “têm mais saída”. Ah…
Concluo que serviço dessa qualidade e forma tão relaxada de tratar clientela é a cara de lugar onde o padrão de exigência dos consumidores é muito baixo, tal e qual a auto-estima da população em geral.
Encerro essa parte forçando-me a crença de que um dia isso vai mudar. Não se depender da maioria dos governantes e empresários que temos atualmente, claro.
Bom, após acertar o pagamento devido à concessionária, vou embora certo de que me salvou o dia voltar a dirigir um carro funcionando direitinho. Qual o quê! Dois quarteirões adiante, o bicho começa a engasgar…
Volto ‘com dois quentes e um fervendo’ pra oficina. O gerente percebe a minha irritação e trata de me acalmar. “A gente dá um jeito, Doutor. Nem se preocupe”, diz. Peço que me providencie um carro reserva, uma carona, um táxi, o que for.
– Ah, Doutor, a essa hora… Faça o seguinte, vá pra casa com ele assim mesmo, que ele não vai lhe deixar na mão. Isso aí é bronca safada. Aí, amanhã, o senhor traz que vou ver se lhe encaixo…
– Como assim, me encaixar? Quer dizer que não vou ter prioridade, é, mesmo depois de uma lambança dessa de vocês?
– Sabe como é, Doutor. Já tem muito carro agendado pr’amanhã e talvez não dê tempo de atender o senhor amanhã mesmo.
Revoltado, mas impotente, resolvo que em vez da autorizada vou levar o carro para uma oficina genérica, onde muito provavelmente o serviço será feito com mais cuidado ou mais competência e pagarei bem menos.
Falando em pagar, ligo para a operadora do cartão de crédito para cancelar o pagamento parcelado que acertei com a concessionária. Quem disse que consigo?


Ricardo só pode se sentir rei

Pensando bem, por essas e outras que a gente vê na vida pública e privada da Paraíba não admira um Ricardo Coutinho acreditar ser a excelência de gestão em pessoa. E, pior (melhor pra ele), fazer com que meio mundo acredite que ele é mesmo “o pipoco do trovão”, como diz espirituosa coleguinha de minha filha.