O Palácio virou palanque

Rubens Nóbrega

No esforço para botar a qualquer custo e preço a sua candidata à Prefeitura de João Pessoa no segundo turno, o governador Ricardo Coutinho não poupa sequer o Palácio da Redenção, muito menos o decoro no exercício do cargo.
Na reta final do primeiro turno, a sede do poder estadual vem servindo de palanque para lançamentos de bondades administrativas e de palco para solenizar atos comezinhos de governo que a pompa girassolaica transforma em grandes eventos.
No vale-tudo para melhorar sua imagem e assim reduzir a rejeição à candidata ‘socialista’, o governador não se peja de entregar carteiras a motoristas formados (?) por auto-escolas que teriam ficha suja junto ao próprio Detran.
Como se fosse pouco, anuncia redução de taxas de serviços do Detran que deveriam ser gratuitos, porque afetam e interessam idosos de 65 anos pra cima e pilotos de cinquentinhas que no começo do reinado o monarca mandou multar e recolher.
Fora ações pontuais e campanhas educativas sazonais, o Ricardus I não tem uma política pública digna desse nome para enfrentar os elevados índices de violência e desastres no trânsito, mas não se envergonha de investir em pantomimas.
Da mesma forma, anuncia concursos em banda de lata sem combinar com muitos concursados que desde o Cássio II aguardam nomeação. Algumas categorias, vale lembrar, têm que brigar na Justiça pelo direito de assumir seus cargos.
Recorrem à mesma Justiça onde o Império ataca e contra-ataca pesado para impedir também que servidores já efetivos possam gozar os benefícios de seus planos de carreira ou continuar recebendo melhorias conquistadas judicialmente.
Auditores fiscais, professores e funcionários do velho Ipep são alguns dos segmentos mais fortemente penalizados pelo mesmo governante que em véspera de eleição acredita poder obrar o milagre do esquecimento geral de seus atos.
Mas não consegue por um simples motivo: a claque que reúne dentro de Palácio não lhe ovaciona suficientemente alto para abafar a voz rouca das ruas que sai da garganta irritada de preteridos como agentes penitenciários à espera de nomeação.
O entusiasmo de comissionados e bajuladores também não aplaca a indignação dos mais de mil concursados da Polícia Civil que desde 2008 pelejam para ingressar nos quadros do Estado pela porta da frente que o mérito lhes abriu em seleção pública.
A propósito do concurso da PC, recebi denúncia que encaminhei ontem ao governador Ricardo Coutinho e ao Ministério Público Estadual, com pedido de informações e esclarecimentos. Com ou sem resposta, volto ao assunto amanhã.


Pra nomear, só na Justiça

O modelito de governante empenhado em promover concursos públicos em larga escala fica meio apertado em Ricardo Coutinho quando a gente vê ou lembra que o seu governo é pródigo em ações judiciais – como réu ou autor – contra concursados e concursos do Estado realizados em gestões passadas.
Além disso, vez por outra o imperador se vê às voltas com ações do Ministério Público Estadual, como aquela ajuizada em maio último pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de João Pessoa para obrigar Sua Majestade a nomear de imediato pelo menos 12 classificados no último concurso para Procurador do Estado.
Já em novembro do ano passado, foi preciso o promotor Raniere da Silva Dantas mover ação civil pública contra o Estado para impor ao Ricardus I a nomeação dos aprovados no Concurso Público para Professor de Educação Básica 3 – Filosofia, realizado em 2009. O MP entrou na parada porque o governo da ‘Nova Paraíba’ vinha contratando pró-tempore para ensinar a matéria nas escolas estaduais, bem ao estilo da Velha Paraíba.
Pouco antes daquela intervenção, a Paraíba acompanhou a peleja da Promotoria de Defesa da Saúde da Capital para convencer a Secretaria Estadual da área a fazer concurso. Mas aí, também para driblar seletivos de provas e títulos que a Constituição manda fazer, o atual governo terceiriza a saúde pública e paga a peso de ouro organizações como a ‘Cruz Vermelha’ para gerir hospitais feito o Trauma da Capital.
Segundo outra denúncia que recebi (essa via Twitter), no Trauma sob a Cruz até médico concursado, super qualificado, é colocado à disposição pelo simples fato de reclamar das condições de um trabalho do qual dependem vidas humanas.
“Me engana que eu gosto”

Por essas e outras, torço para que os concursos anunciados ontem venham a ser realizados de verdade, a sério. Mas não me animo muito, conhecendo ‘a peça’, os antecedentes citados e outros que não caberiam neste espaço se tivesse que tratar de todos os concursos ou concursados confrontados pelo Ricardus I.
Com minha opinião e descrédito compartilha o amigo Gosto Ruim, que se infiltrou ontem na solenidade do Palácio da Redenção e ouviu atentamente o discurso do soberano. A cada frase do homem, contudo, Gosto resmungava um “me engana que eu gosto”. E pensou que ninguém estava reparando nele. Menino, quando deu fé…
Um girassolaico guardião chegou junto, perguntou “o que tu tá fazendo aqui, hem, seu cabra?” e ordenou de dentes trincados bem pertinho do ouvido do meu amigo: “Vaza!”. Gosto vazou, lógico, mas, só de ruim, foi insuflar a galera de concursados que protestava lá fora, chamando o soberano de “enganador” e outros adjetivos que ofenderiam o decoro familiar dos leitores desta coluna.