O ônibus de meio milhão de reais

Nilvan Ferreira

A gestão do prefeito Luciano Agra perdeu mesmo o senso da tolerância e dos limites da irresponsabilidade. Após o garí que ganhou uma licitação milionária, a compra superfaturada de gêneros alimentícios, a famosa desapropriação, compra e pagamento em tempo recorde da fazenda Cuiá e a contratação da SP Alimentação, eis que agora vem mais um escândalo, envolvendo as finanças da coitada da “viúva” sofrida, como dizem os mais “velhos”, lá no nosso sertão.

E hoje nos deparamos com um tal de “ônibus de ouro”, que envolve a licitação que oficializou um negócio estranho com a Empresa TOUR AZUL, aqui da capital, que sozinha ganhou a “parada” e vai receber a bagatela de mais de meio milhão de reais para percorrer um total de 120 mil km. Meu Deus do céu. O que é isso? Foi a primeira pergunta que me diz ao vez estampada a matéria, logo cedo.

Não estou aqui questionando a idoneidade da empresa que ganhou o certame. Agora, não me peça pra concordar com essa falta de lógica. A pergunta neste momento é clara: existe ou não demanda para que a empresa percorra 120 mil km? Existem realmente todas estas atividades esportivas, que possam justificar tamanho negócio? Que equipes esse ônibus irão transportar no período e qual o destino dos eventos esportivos?

Faço as perguntas para questionar de uma forma extremamente equilibrada a “lisura” do processo licitatório, que, na minha opinião, deveria ser imediatamente cancelada, sob a égide da probidade administrativa. Isto é um negócio nefasto, descabido, intolerante em qualquer sociedade que se diz séria e que prima pela transparência.

Ora, 120 mil km é o mesmo que, segundo uma rápida concentração matemática, fazer 120 viagens de ida e volta a cidade de Cachoeira dos Índios, localizada lá no sertão do estado, extremo com o vizinho Ceará, pouco depois de minha terra Cajazeiras. Seria o mesmo que passar quatro meses fazendo este percurso de ida e volta, trabalhando sábados, domingos e feriados. Outra vertente é muito mais grave e que pode servir de análise: o ônibus da TOUR AZUL poderia usar essa quilometragem e levar nossos atletas da capital para conhecer as maravilhas do planeta e dar quatro voltas em torno da terra usando como base a linha do equador que tem cerca de quarenta mil quilômetros.

Não existe argumento que possa minimizar a situação escabrosa dessa negociata injustificável do ponto de vista ético. Algo precisa ser feito para explicar o conteúdo da licitação e o seu devido resultado. Tem algumas coisas que fogem completamente a lógica quando o assunto é a coisa pública. E este é um deles. Agra, o prefeito, precisa tomar as rédeas de sua gestão. Precisa evitar que o seu governo termine antes do tempo, enlameado pelas denúncias que chegam diariamente na imprensa. Somente negar tudo não adianta. Providências devem ser adotadas para estancar a sequência de dúvidas.