Jair Bolsonaro não tem nada para fazer em um governo normal. Não entende de nenhum assunto, não sabe fazer articulação política, nunca demonstrou interesse em um único problema brasileiro.
Seu interesse ao ganhar a Presidência era repetir o roteiro que os novos autoritários vêm seguindo na Hungria, na Polônia, na Turquia, e, sim, na Venezuela: destruir as instituições da liberdade pouco a pouco, de linchamento em linchamento, de fraude em fraude, tudo isso embrulhado na indignação pós-Lava Jato que soa tão mal na boca de um filho do centrão como Bolsonaro.
Se não o deixarem destruir a democracia, o Jair, repito, não tem nada para fazer.
Os militares têm. Como bem disse Demétrio Magnoli na Folha de sábado (11), os militares queriam fazer parte de um governo normal.
Mas como bem disse Reinaldo Azevedo na Folha de sexta-feira (10), dos militares Bolsonaro só quis a honorabilidade, não as opiniões.
É errado dizer que Olavo ofende os militares a despeito de Bolsonaro. Bolsonaro apoia Olavo exatamente porque ele ofende e desmoraliza os militares, assim como ofende e desmoraliza qualquer um que pretenda manter Bolsonaro dentro dos limites da normalidade institucional.
Depois de 30 anos, Bolsonaro aprendeu a terceirizar a colocação de bomba em quartel.
A propósito, é bom deixar claro que não é a filosofia de Olavo que interessa ao presidente da República ou a seus filhos. A influência dos livros filosóficos de Olavo sobre o bolsonarismo é nula.
Ninguém ali está interessado no que Olavo tem a dizer sobre o tradicionalismo de René Guénon. Se for para escolher um pensador tradicionalista, o bolsonarismo está muito mais para Julius Evola, próximo do fascismo e da SS, de quem Steve Bannon é admirador confesso. Em termos de ideias, Olavo importa mais como divulgador da direita radical americana do que por seu próprio pensamento.
O olavismo para Bolsonaro é uma máquina de populismo virtual, um substituto para o partido autoritário que falta ao bolsonarismo.
Na falta de um equivalente brasileiro da União Cívica Húngara (Fidesz) ou do polonês Lei e Justiça (Prawo i Sprawiedliwość), o bolsonarismo sustenta sua mobilização anti-institucional com a militância olavista.
Mas não tenham dúvida de que a ideia é formar um partido. Eduardo Bolsonaro quer construir uma nova legenda “puro-sangue”, 100% radical, diferente do acampamento do baixo clero que é o PSL. O núcleo inicial do partido seriam os olavistas.
Resta pouca dúvida: Jair Bolsonaro, seus filhos e os olavistas têm um projeto de populismo autoritário. O governo não funciona como governo normal porque não é esse o projeto.
Mas cresce a impressão de que o bolsonarismo deu um passo maior que a perna quando brigou com os militares. Confiaram demais na capacidade de suas redes virtuais mobilizarem gente na rua. As duas últimas manifestações que convocaram fracassaram.
E se o bolsonarismo não tiver apoio dos militares, não vai ter aliado com medo de exigir nem adversário com medo de bater.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Celso Rocha de Barros