O novo Cássio é uma seda

Rubens Nóbrega

Relatos colhidos ao longo do tempo sobre temperamento e comportamento de Cássio Cunha Lima não batem com o modelito com que o senador desfila atualmente, de homem contido nos gestos e comedido nas palavras.

Um novo Cássio deve ter estreado na cena política paraibana sem que eu tenha percebido, talvez preso ao passado recente do velho Cássio, que não levava desaforo pra casa nem se encolhia diante de hostilidades de adversários.

Se o velho Cássio não admitia diatribes de ‘inimigos’, imagine, então, aguentar calado reprimendas ou ameaças veladas de aliados, ainda mais aliados eventuais, feito a candidata de Ricardo Coutinho a prefeito da Capital.

Mas ele não deu um pio sequer, mesmo sabendo que Estelizabel classificara de ‘lástima’ a atitude do senador de ter vindo a João Pessoa gravar para o guia eleitoral de Cícero Lucena, velho amigo e correligionário do novo Cássio.

Sim, porque deve ter sido o novo e não o velho Cássio que ficou calado depois de saber que candidata do governador dissera publicamente, com todas as letras, que o senador vir aqui e pedir voto para Cícero teria ‘consequências’.

Bem, deve ser amadurecimento político, dirão cassistas mais ponderados, acrescentando que “Cássio tem compromisso com a governabilidade e está bastante crescidinho para cair em provocações baratas” ou algo do gênero.

É muito provável ainda que mentores intelectuais do cassismo recorram a um velho filósofo espanhol para enquadrar a falta de reação do líder à advertência ricardista naquela máxima segunda a qual “o homem é ele e suas circunstâncias”.

Os mortais sem acesso à intimidade dos poderosos podem traduzir as tais circunstâncias por inconveniência de uma resposta na lata agora, de um enfrentamento pra já, de um troco que ensaie rompimento pra daqui a pouco.

Coisas do novo Cássio. Coisa de quem, para além da clássica lição de Ortega y Gasset, deve ter aprendido também a domar impulsos, a segurar o ímpeto, a contar até cinco antes de tuitar ou verbalizar uma ‘rodrigada’.

Explicando: no glossário cassista, ‘rodrigada’ é como os fanáticos do velho Cássio definem reações mais iradas do líder. Vem de Rodrigues, complemento materno do nome do senador e provável origem do seu jeito, digamos, temperamental de ser.

Razoável admitir também, de outro lado, que o novo Cássio abafou o velho Cássio por conta do pragmatismo que toma conta dos políticos mais experientes e faz deles, inapelavelmente, pessoas mais serenas, mais pacientes e reflexivas.

Ou, então, o novo Cássio seria simplesmente o velho seguindo ao pé da letra a sábia lição do poeta Ronaldo Cunha Lima: “É hora de conter a revolta, contar os dias e esperar a volta”.
Playcenters escolares

Em matéria de novidades para o ensino oferecido pela Prefeitura de João Pessoa, a bola da vez é a compra e distribuição em larga escala, aos alunos da escola pública, de computadores em forma de prancheta que funcionam ao toque dos dedos.

Cícero, do PSDB, promete um tablete pra cada estudante, para cada professor, sem mencionar qualquer proposta pedagógica que ampare, acompanhe ou amarre o uso do equipamento a propósitos estritamente educacionais.

Temo que essa ‘revolução’ acabe de vez com o velho, bom e educativo dever de casa e, junto com ele, o que resta de leitura dos livros escolares e de escrita nas tarefas e provas, onde os alunos podem evoluir na compreensão e expressão do que aprendem.

Mas, caso mudança tão radical não aconteça pela volta de Cícero à Prefeitura, o risco é o mesmo se Luciano Cartaxo (PT) for eleito e cumprir a sua promessa de alfabetizar a garotada pela via digital, através do mesmo instrumento.

Em suma, se cuidados, planejamentos e discussões sérias não orientarem a iniciativa modernosa, não se admirem se nossas escolas se transformarem em concorridos playcenters ou gigantescos vídeo games.
Saúde de 1º Mundo

Os outros dois carros-chefes da atual campanha são a saúde e a mobilidade urbana, que vão ser coisa de primeiro mundo em João Pessoa a partir de 1º de janeiro de 2013, independentemente de quem for eleito e empossado.

Todos, absolutamente todos, prometem no mínimo o paraíso de qualidade e eficiência nos serviços públicos de saúde. Vai ter hospital especializado em saúde da mulher, da criança, do idoso… Vai ter Upa em cada bairro… E o que mais você pensar.

Quanto à mobilidade urbana, vi que Estelizabel (PSB) está prometendo o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e Luciano, o BRT, sigla em inglês (bus rapid transit) que dá nome aos ônibus de corredores exclusivos.

Podemos ter os dois. Até três, com um monotrilho suspenso no canteiro central da Epitácio pra levar o povo da Praça da Independência ao Busto de Tamandaré, além do bondinho para atender ao circuito turístico de todo o centro histórico da Filipéia.

Só não dá é o transporte de massa da Capital que mais crescerá no Nordeste nos próximos dez anos continuar dependendo eternamente desses ônibus desconfortáveis e lentos que circulam juntos e misturados a milhares de carros pequenos, médios e grandes que congestionam e infernizam o nosso trânsito de cada dia.