O Nosso dilema é bem maior!

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Gilvan Freire

Tratemos das eleições de 2014 na Paraíba e no Brasil, mas sempre com um pé atrás e o outro na frente, pois há um buraco negro no caminho e ninguém será capaz de prever como serão as eleições e qual o clima social dominante à época. Tudo seria mais claro se o povo não tivesse ido às ruas demonstrar sua indignação contra o mau funcionamento das instituições políticas: os partidos, as casas legislativas e os diversos níveis de governos. Todos estão exauridos em sua capacidade de dá respostas às demandas da população, e o povo enfezou-se com um sistema político que age sem controle social e prioriza apenas os representantes, em detrimento dos representados. Trata-se de uma democracia velhaca, jovem mas caduca, inerte, improdutiva, decadente, que coloca os eleitores em posição subalterna diante da elite dirigente. Uma democracia que ofende, que agride o eleitor.

Mas, se é para matar a democracia envelhecida precocemente pelos maus costumes herdados de outros tempos iguais, melhor que se matem os dirigentes a fim que a democracia se oxigene e se reoriente, para que o voto popular não seja tão inútil como é hoje. A energia do voto representa o esforço que a sociedade faz para ter uma gestão pública competente, selecionando o que considera serem os melhores gerentes para cuidar da máquina estatal nesse intrincado sistema de poderes e seu complexo funcionamento.

Contudo, se o voto é usurpado e a energia não é canalizada adequadamente, o sistema de poderes termina por favorecer mais aos usurpadores e menos ao povo. E vem a crise, porque a sociedade descobre que seu esforço está sendo destinado para fins indevidos e os benefícios desviados de seu caminho democrático. Não há pagamento pelo esforço, não há retribuição pelo resultado, não há consideração pela confiança depositada, não há prestação de contas devida. O choque de hoje é isso.

Mas o problema não é só constatar o mau funcionamento do sistema. É descobrir os porquês. Pela experiência histórica, o sistema democrático é extraordinariamente funcional. Está testado a séculos, milênios até, e tem sido apenas aperfeiçoado. Logo, não está nele o problema. No caso brasileiro, a crise é de representação. Ou seja, nas pessoas que a sociedade escolhe para mover o sistema. Hoje, são uma lástima, como já foram noutros tempos. Então, qual o remédio? O remédio é mexer nesses intermediários entre o povo e o sistema. É preciso isso. O povo mesmo está execrando seus representantes, mas eles continuam ocupando os cargos de representação, sem crédito, sem confiança e sem prestação de contas. Como mudar, quando?

Em 2014, haverá um juízo final entre o povo e seus representantes no sistema democrático, que está deficiente por causa deles. O que deverá acontecer? Provavelmente, nada. Os intermediários serão os mesmo e suas instituições associativas (os partidos) os de sempre. Talvez não seja o mesmo de antes apenas o eleitor, mas o voto pode mudar muito pouco de direção. Essa, sim, é a maior crise do sistema: a impossibilidade de encontrar saídas. Ou se encontrará uma saída?