O Mustang Azul...

Bruno Filho

É uma reflexão de minha vida, fato que ocorreu num passado distante, marcou minha infância e que como tantos outros foi formador de caráter, construtor de lembranças, numa fase da vida das pessoas aonde todas as coisas boas como que numa pirâmide transformam você num eterno sonhador, daqueles que acreditam que tudo pode acontecer.

O ano de 1970 corria recheado de fatos novos, a ditadura campeando solta, mas omitida das grandes classes sociais, permeada por musicas de ordem, propagandas de incentivo, mas afastada daqueles que viviam um dia a dia afastado de Universidades ou cargos públicos e que tinham apenas como objetivo trabalhar e desfrutar de pequenos passeios. Além do que, não havia informação.

Nasci corintiano. Todos que me conhecem sabem disso, e fui um privilegiado, pois meu amado pai era jornalista esportivo, diretor de futebol no Corinthians e Assessor de Imprensa do clube. Então…ali era a minha segunda casa. Frequentava os treinamentos dentro do gramado surrado do Parque São Jorge, entrava e sai dos vestiários como se fosse um profissional.

Do alto dos meus 13 anos, chutava bolas para os craques da época, cruzava bolas para a área, longe da austeridade de hoje em dia. Esse rigor prussiano de tirar uma gota de sangue de um jogador depois de um treino para saber se ele está apto a jogar ou não. Ali era diferente…todo mundo a vontade. O futebol era diferente, era menos chato e mais espetácular.

Meu companheioro inseparável…José Sergio Presti, para quem não sabe Zé Sérgio, um dos 3 maiores ponteiros esquerdos do mundo de todos os tempos ao lado de Edú e Pepe. Jogou no São Paulo e no Santos, além de Seleção Brasileira e Japão. Porém naquela época ele era apenas o “Pontinha”, apelido que recebeu dos amigos como eu. Tinha apenas 13 anos e um oculos com fundo de garrafa.

O “Pontinha” é 4 dias mais velho do que eu, primo de Rivelino, também usufruia das benesses de treinar com os jogadores. Eu e o “Pontinha” cansamos de trabalhar como gandula dessa gente toda. O Zé foi em frente, craque esforçado. Eu parei, craque preguiçoso. Não vem ao caso. Uma certa manhã…final de treino e o saudoso Muniz vem como uma novidade…

Diz ele: ” Hoje voce vai embora para casa com o Rivelino, eu não posso te levar pois tenho reunião aqui…” Rivelino, a “Patada Atomica”, campeão do mundo com a Seleção Brasileira. Corri para o telefone e rapidamente avisei minha mãe, pedi que chamasse todos os meus amigos para este grande evento. E foi o que aconteceu. Dona Vilma, minha amada mãe, avisou o bairro da Aclimação inteiro.

Tudo esquematizado, lá vou eu, entro num Mustang Azul, zero kilometro, com estofamentos de couro branco, ao lado do “Pontinha” e do motorista Rivelino me dirijo para o cenario da gloria. Os 15 kilometros que separam a Penha da Aclimação para mim foram eternos. Chego na minha rua, Pais de andrade, e uma multidão aguardava o momento triunfal.

Imaginem o que representou este momento para um menino de 13 anos de idade. Nunca mais me esqueci e não poderia. O tempo passou rápido demais. Acho que o Mustang Azul nem existe mais. O “Pontinha” já se aposentou. Meu idolo já se aposentou também, hoje tá gorducho, perdeu alguns cabelos, mas não perdeu a majestade.

O saudoso Muniz se foi…Dona Vilma de foi…eu envelheci, é só fazerem as contas…o numero 78 da rua não existe mais. A única coisa que não se foi é a lembrança, essa é imortal, e também o amor pelo Corinthians imortal da mesma forma. Sou adepto da frase que diz: Triste daquele que não tem lembranças…eu graças a Deus as tenho.

Observação: Rivelino, um dos 5 maiores jogadores de todos os tempos segundo a FIFA. Rivelino, o ídolo que inspirou Diego Maradona a jogar. Rivelino que fez a Rainha Elizabeth levantar-se e aplaudí-lo de pé. Rivelino que antes de qualquer partida entre Santos e Corinthians escutava de Pelé a segunite frase.: Não inventa moda não…ve se me respeita ! e saia rindo.

Bruno Filho, jornalista e radialista: muito obrigado Deus, por ter me permitido viver esse dia.