O Mundo não Acabou. Mas... Alguns se Foram

Bruno Filho

O ano de 2012, que está terminando, deixa poucas alegrias para alguns e muitas tristezas para outros tantos, saudade de quem nos deixou e lembranças daquilo que fizeram para nos ensinar, alegrar, povoar nossas mentes durante tanto tempo. Personagens marcantes que nos acostumamos a ver e ouvir.

Vou citar alguns, e começo com um estrangeiro que foi o responsavel pelo ato de maior astúcia efetuado no século passado e que parecia impossível: Neil Armstrong, o coronel da Força Aérea Americana que em 1969 foi o primeiro ser humano desse planeta a colocar os pés na Lua. Imortal.

Outro imortal. Esse, brasileiro e centenário. O maior arquiteto que já viveu neste País, responsável por tantos projetos que seu nome mistura-se aos das grandes construções realizadas no Brasil: Oscar Niemeyer, aos 105 anos de idade ainda trabalhava e preocupava-se com o progresso dos negócios.

Na música nomes importantes e de todos os estilos. No samba, Dicró, que além de compositor era um gênio do bom humor, típico representante da “malandragem” carioca. Peri Ribeiro, o eterno filho de Dalva de Oliveira, um dos grandes das nossas canções românticas.

Ficamos também sem Wando, o “brega-chique”, que superlotava shows por todo o Mundo com canções de duplo sentido, éróticas sem vulgaridade e que ilustraram mentes e corações de muita gente. No sertanejo perdemos Tinoco da dupla mais famosa que esse estilo de musica já teve.

Internacionalmente choramos a perda de Withney Houston, uma das maiores vozes do “Soul” americano, jovem ainda, e que marcou gerações com seu filme mais famoso “O Guarda-Costas”. Etta James também se foi, uma das principais vozes do Jazz e do Blues que habitou uma época inteira.

As nossas mini-séries e novelas ficaram mais pobres. O eterno galã Marcos Paulo foi vencido pela doença e não resistiu. Astro de novelas famosas e diretor de outras tantas, realizou o seu último ato este ano. Lembranças de “Minha Doce Namorada” e ” Carinhoso ” contracenando com Regina Duarte.

Ainda entre os atores e atrizes, Sylvia Kristel a protagoniusta de “O Último Tango em Paris”, que marcou a sua carreira e mostrou uma outra face de Marlon Brando, ambos premiadíssimos no cinema. Michel Clark Duncan o simpático “gigante” de “A Espera de Um Milagre” foi embora também.

O jornalismo perdeu dois “monstros sagrados”. Millor Fernandes, ícone da minha geração com seu “Pasquin” lutando com humor negro contra a ditadura, e o mais brilhante jornalista de economia de todos os tempos Joelmir Betting que deixou um dos maiores legados para a imprensa do ramo.

Reservei para o final dois nomes, os quais eu mais senti a perda. Hebe Camargo, a “Rainha da Televisão Brasileira”, que ao longo de 50 anos alegrou as noites modorrentas de segunda-feira com suas gragalhadas fantasticas e a simpatia latente. Não vi Hebe um dia sequer de mau humor. Ela ditava comportamento.

E ele. Um dos meus maiores ídolos em todos os tempos, um gênio da arte, um homem para quem não existem adjetivos suficientes. Alguém que conseguiu ser bom em tudo o que fêz. Foi ator, compositor, cantor, escritor, diretor, produtor, comentarista esportivo e muito mais.

Criou mais de 200 personagens marcantes que todos conhecem até hoje e servem de sinônimo para muitas coisas. Os jogadores de futebol “pernas-de-pau” são os “Coalhadas”. Os garçons atrapalhados e fofoqueiros “Quen-Quen”. Os professores são Raimundos. Malandros ? Azambujas. Ingenuos ? Santelmos. Mulherengos…Nazarenos.

São muitos. Mas como falamos de Nordeste lembro dois Coronéis. O mais antigo Coronel Limoeiro, casado com uma mulher linda e cheio de artimanhas. O mais novo Coronel Pantaleão, o eterno mentiroso contador de histórias e que tinha o “apoio” e a conivência de sua Terta…” É mentira, Terta ?” .

Inesquecíveis. Para encerrar destaco um dos personagens mais inteligentes que pela boca roxa e dentes pontiagudos conseguia falar as verdades mais duras e relembrava os problemas sociais brasileiros com ironia. Bento Carneiro, o “Vampiro Brasileiro”.

“Pinchava” as mais estranhas maldições e ao lado de seu Calunga, usava uma linguagem popular que todos gostariam de poder utilizar. As maldições, seguidas de uma cuspidinha de lado, era tudo o que muita gente queria fazer e não podia. Esse foi Chico Anysio. O maior dos gênios.

No comando da “Escolinha do Professor Raiumundo”, uma criação de Haroldo Barbosa para o rádio em 1952 deu emprego a centenas de comediantes aposentados e excluidos da sociedade, recuperou-os para a vida alem de ter encaminhado todos os seus filhos, irmã, ex-mulheres e afilhados ao mundo artístico. Ninguém se compara a esse cearense.

Todos deixarão uma enorme saudade, mas infelizmente o tempo e a vida são assim mesmo. Implacáveis. Nós nunca esperamos, mas acontece. É uma pena, poderia não ser assim. A vida poderia ser feita de personagens, não de gente com “carne e osso”. Deveria ser feita só de “imortais”.

Bruno Filho, jornalista e radialista, entra ano e sai ano, vão-se os ótimos e em troca aparecem os regulares.

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