O MUNDO DÁ VOLTAS

Gilvan Freire

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Setores importantes do PMDB já vinham defendendo, faz tempo, um alinhamento com a candidatura de Cássio. A razão principal é a pressão das bases e a avalanche de blocos políticos e partidários que se deslocam em todo o Estado para se juntar ao ex-governador, criando um clima de vitória antecipada, coisa que, contudo, está sujeita ainda à maratona da campanha.

Outro componente que embala a candidatura de Cássio é a pressa da população para se livrar de RC, um fenômeno de impopularidade – o líder que não soube construir no regime democrático uma personalidade democrática. De fato, Ricardo Coutinho conseguiu afugentar e desapontar muita gente, a começar de seus amigos pessoais e companheiros de lutas, que hoje querem vê-lo esfolado pelas costas. A indignação dos ex-amigos é tanta que eles admitem abertamente a sua anormalidade psíquica – alguns se consideram inocentes uteis porque não foram capazes de entender que RC buscava o poder a qualquer custo e que precisava fazer mal em massa somente para atingir o estágio de autoafirmação, em face de suas carências de afetividade e de amizade.

Nesse sentido, suas manias de chocar, desassossegar, criar conflitos e crises, e se isolar do convívio com pessoas, inclusive seus auxiliares e aliados políticos, seriam um desvio congênito de personalidade, tido durante algum tempo apenas como sisudez, confundida com carisma. Mas, na medida em que os distúrbios foram se ampliando e cada vez alvejando pessoas muito próximas e colaboradores antigos, entre os mais leais, o diagnóstico de doença foi se confirmando. A campanha, atendendo ao propósito desses ex-colaboradores e de chefes políticos e líderes classistas, vai travar um amplo debate público sobre essas questões.

 

O AVANÇO DE PARTE DO PMDB NA DIREÇÃO DE CÁSSIO atende ao pavor que os próprios líderes peemedebistas têm de RC. E, de outro lado, representa a incursão que Cássio faz pelo interior do Estado, onde seduz simpatizantes e conquista uma grande parcela do eleitorado partidário do PMDB, que não encontra no partido uma postura clara oposicionista ao governo. E, ademais, há um descontentamento com o desprestigio que o governo Dilma e o PT estadual impõem à agremiação, menosprezando Zé Maranhão e subestimando Veneziano, além de terem negado um Ministério a Vital. Esses fatores conjugados reduziram a candidatura do PMDB à menor expressão no Estado nos últimos anos.
Por isso, as conversações entre Cássio e o PMDB se aprofundam. Mas Cássio ainda tem conflitos internos graves para resolver. O maior deles, certamente, é evitar, agindo em sintonia com o ex-cicerista canino Ruy Carneiro, o enxotamento de Cícero da vida pública, passando a ideia de uma traição orquestrada. O outro problema sério é Cássio desconhecer o papel de Zé Maranhão como o maior líder do PMDB, avaliado por todas as pesquisas de intenção de voto como o candidato favorito ao Senado.
Se mal resolvida a crise que envolve Cícero e mal interpretado o significado de Zé Maranhão como líder partidário, esses dois fatores vão se intercambiar e mexer no tabuleiro, alterando substancialmente o processo eleitoral. Ao que se sabe, independentemente de quem seja hoje o favorito ou não, Zé Maranhão está disposto a interferir no cenário, para evitar que o PMDB se acabe à falta de um grito. E isso é o estopim de uma crise bem maior, que mudará o eixo das disputas e levará as eleições para a zona do imprevisível. E Cícero só olha, como se não estivesse consultando seus oráculos.