O Mago do Manaíra - Rubens Nóbrega

Que coisa patética, que coisa triste, meus concidadãos!

O povo paraibano tem sido extremamente generoso ao longo da história, principalmente quando vota e elege medíocres de toda sorte ou falsos brilhantes de quilates variados. Mas não merece ter um governante tão descaradamente empenhado na defesa de um empreendimento privado.

Sim, porque nesse caso da troca do terreno da Acadepol por outro no Geisel (esse duas vezes menor e pelo menos cinco vezes mais barato do que aquele) defender o interesse público seria abrir o negócio à livre concorrência, oferecendo igualdade de oportunidades para todos os empresários ou grupos empresariais potencialmente interessados em construir um novo grande shopping na Capital paraibana.

Na minha vã ingenuidade, cheguei mesmo a acreditar e torcer para que, passada a febre junina, o governador Ricardo Coutinho tivesse um surto de bom senso e, num átimo de humildade, resolvesse pedir de volta a mensagem que enviou à Assembléia em favor do dono do Manaíra Shopping.

Mas quem é rei… Sem perder um milímetro sequer de sua majestade, Sua Excelência voltou ontem a defender com toda a ênfase do mundo e todo o brilho de sua prodigiosa inteligência a transação envolvendo valioso bem público para viabilizar o shopping que Roberto Santiago quer instalar em Mangabeira.

E ainda referiu-se aos deputados possivelmente recalcitrantes em tom de ameaça, tipo “depois não venham me cobrar investimentos em segurança pública”, como se novas instalações para uma academia, central e instituto de polícia científica dependessem exclusivamente da famigerada permuta.

Em nenhum momento vi, ouvi ou li que o governador pelo menos estivesse admitindo a possibilidade de submeter as propaladas e nebulosas compensações a uma licitação pública, da qual poderiam participar outros investidores. Todos, muito provavelmente, igualmente dispostos a oferecer contrapartida mais vantajosa do que aquela oferecida (ou imposta) pelo dono do Manaíra.

Mas… Não. Pelo visto, tem que ser do jeito que Roberto Santiago quer, no lugar que ele escolheu, nas condições que estabeleceu. Dando-se ainda ao luxo de ter ninguém menos que um governador como porta-voz ou advogado dele, além de um batalhão de auxiliares e bajuladores que diariamente sai em defesa da super, hiper, ultra, mega questionável transação.

Para agradar o Mago do Manaíra, o hoje Mago de Miramar e sua entourage não se pejam de insultar a inteligência dos governados. Defendem o Mangabeira Shopping de um modo tal que até parece que Roberto Santiago vai gerar apenas e tão somente empregos e receita para o Estado. E nenhum tostão de lucro pra ele, coitado!

É vergonhoso, deplorável mesmo, tudo isso que está acontecendo na Paraíba. O que está se querendo é privilegiar ainda mais quem já é e já foi tão privilegiado. Que os homens e as mulheres de bem da Pequenina e Heróica não se enganem, não tenham a menor dúvida: eles não são nem de longe os únicos – muito menos os maiores – beneficiários dessa iniciativa.

Por que não?

A Justiça leiloou um terreno na praia do Poço, em Cabedelo, que fazia parte do conjunto de bens apreendidos do patrimônio do mega, hiper, ultra, super traficante Fernandinho Beira-Mar.

Consumado o leilão, que ninguém se admire se a pessoa que arrematou o imóvel propuser ao Governo do Estado trocá-lo pelo terreno da Acadepol, em Mangabeira. Por que não?

Afinal, depois que essa história do incrível troca-troca veio a público, qualquer proprietário de terreno que tenha conhecimento da boquinha pode muito bem questionar:

– Se Roberto Santiago pode, por que eu não poderia? Ou será que na Nova Paraíba do Mago de Miramar negócio bom só rola se for pra beneficiar o Mago do Manaíra?

Panis et circense

A Doutora Rizonete Gomes, Psicóloga Especialista em Dependência Química e Presidente do Conselho Municipal Antidrogas de João Pessoa, resolveu permanecer na Capital durante o feriado de São João. Maridão acompanhando, foi conferir os shows patrocinados pelo governo municipal no centro da cidade.

“Ponto de Cem Réis… Praça D. Adauto. Há muito não via o concurso das quadrilhas. Estacionamos o carro na Lagoa e subimos a Guedes Pereira. Estava bem iluminada, calçada refeita, larga, boa para andar… Mas estava mesmo interessada em comer um milho verde cozinhado ou assado, talvez os dois!”, relatou.

Tão logo chegou à Visconde de Pelotas, o casal foi direto para as barracas, certo de encontrar “o caldeirão fumegante de milho cozinhado e as espigas douradas no fogo de carvão faiscando!”. Qual o quê!

Rizonete e seu companheiro não viram nenhuma panela de milho nem fogo de carvão assando milho. Mas em compensação… O que tinha de isopor vendendo cervejão era uma grandeza.

“Ainda assim, não nos demos por vencidos. Vasculhamos toda a área do Ponto de Cem Réis, mas, quanto mais andávamos, mais filas de isopor oferecendo cerveja a gente encontrava”, disse.

“Numa última tentativa, apelamos para a área pertinho do pavilhão das quadrilhas. Lá, com certeza, devia ter milho assado e cozinhado. No caminho, até um visitante ilustre encontramos, o Prefeito Luciano Agra’, contou.

Ela acredita que o alcaide e equipe foram prestigiar o concurso das quadrilhas. “Encontramos o Prefeito, mas do milho que tanto queríamos não vimos nem a palha!”, recorda Rizonete, que conclui a sua narrativa validando todo o conhecimento que sua função institucional e missão social permitem acumular:

– Não fica difícil entender porque o álcool é a droga que mais se consome no nosso País! – constatou, pesarosa, a presidente do Conselho Antidrogas.

De minha parte, fundado no relato da Doutora Rizonete, ouso lembrar à PMJP que São João é bem mais do que bancar a exibição dos artistas que sempre contrata, alguns bem afinados com os cachês e gosto musical dos contratantes.

Não basta só o circense. Um pouco de panis (na forma de pamonha, canjica e milho assado ou cozido) cai muito bem, também.