O lajão do Núcleo 3 - Rubens Nóbrega

Onde o poder público não vai, não aparece nem dá conta, o povo assume e resolve, como fez esta semana o povo do Núcleo Habitacional III de Sousa, Alto Sertão paraibano.

Cansado de tanta promessa, nenhuma ação ou esperança de solução, o povo de lá arregaçou as mangas, botou a mão na massa, literalmente, e construiu uma passagem molhada para ter o direito de ir e vir a Sousa.

João Fábio, morador do Núcleo, distribuiu mensagem ilustrada com fotografias da obra. O texto, intitulado “População revoltada constrói lajão com recursos próprios”, vai resumido a seguir.

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Com a passagem do período chuvoso, as estradas vicinais do município  de Sousa ficaram só a piorar e um dos maiores problemas é a falta de passagens molhadas, dificultando em muitos casos o tráfego de veículos e pessoas.

Um exemplo é a passagem molhada que a comunidade do Núcleo Habitacional III para ir a Sousa ou vir de Sousa, cidade de que o Núcleo é extensão.

Os nossos “prezados” políticos, claro, em época de campanha, fazem suas visitas, sem deixar também, lógico, de fazer suas promessas. Mas, quando estão no poder… E aí? Cadê cumprir o prometido?
Com esta comunidade não foi diferente, mas os moradores, juntamente com as pessoas amigas e comerciantes da região, tiveram que angariar meios para eles mesmos construírem o lajão do Núcleo III, que dá acesso a Sousa.

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Como diria o filósofo Nilvan Ferreira, “ô Paraíba maravilhosa!”. Mas…
É bonito de ver, João, mas preocupante saber. Porque desse jeito quem dirige a União, o Estado e os municípios, se já não cumpre com suas obrigações, aí é que vai mesmo se sentir desobrigado.

Já pensou, se a moda pega? Aí é que o descaso, o abandono e a falta de compromisso e de seriedade tomarão conta de vez da Paraíba, de Cabedelo a Cajazeiras, de Logradouro a Monteiro.

Eu sei que é difícil agüentar, esperar por serviço ou obra que certos governantes prometem durante a campanha e, passada a eleição, se fazem de esquecidos ou simplesmente fogem do compromisso.

Mas não recomendo essa de o povo substituir a obrigação de fazer que é do governador, do prefeito e de seus secretários. Afinal, se eles já fazem tão pouco com o muito que arrecadam de nós, desobrigá-los é um perigo.

É um perigo, João, porque com a qualidade de político e governo que nós temos, o dinheiro que estava guardado para o lajão é bem capaz de agora ser desviado para financiar ainda mais o vidão que essa galera leva à custa da gente.

Povo ilhado e sofrido

Não se admirem se a população de Sossego, no Curimataú paraibano, de uma hora pra outra seguir o exemplo do Núcleo III de Sousa para resolver um problema secular de falta ou excesso de água.
Por enquanto, na invernada em curso, “a cidade de Sossego está ilhada”, informa o educador e biólogo Franscidavid Belmino, para quem esse isolamento tem causas naturais ou políticas.

Lá, em tempo de muita chuva, “estudantes não vão à escola, profissionais não vão ao trabalho, enfermos não podem ser socorridas…”. Porque o povo de Sossego, uma cidade cercada de rios por todos os lados, tem a maior dificuldade, quando não a impossibilidade, de sair e de entrar do lugar onde mora.

– Pela via de acesso a Cuité, Picuí, Barra de Santa Rosa, Campina Grande e João Pessoa, está o rio Bonsucesso, que quando chove não permite a passagem de carros nem de pessoas. Já pela rodagem que dá acesso a Cubati, é o rio de Nilo que impede o trânsito. E pela terceira via de saída e chegada à cidade, caminho que conduz a Baraúna, encontram-se os rios Cisplatina, Alagamar, Santa Rita e outros – detalha Belmino.

Ele diz que na ilha de Sossego todo mundo torce para não chover, quando deveria torcer para que as autoridades políticas competentes (?) resolvessem essa situação, porque o sofrimento é o mesmo, não importa se é seco ou molhado.

“Se não chove, o povo sofre por falta de água e de produção no campo; se chove, ficamos presos e desprovidos de serviços básicos como educação, saúde, trabalho e outros do cotidiano”, comenta, quer dizer, lamenta.

Todo esse transtorno seria resolvido com a construção de uma ponte, mas, tanto quanto o aperreio do povo de Sossego, a luta e as reivindicações por aquela obra são também seculares.

“Como seculares são também a inoperância e o descaso com que esta causa é tratada por nossos gestores”, constata Belmino, que também distribuiu um vídeo onde documenta e exibe toda a agonia por que passam os ilhéus de Sossego.

Cena da ‘Nova Paraíba’

Vejam a seguir mais uma entre tantas outras aflições que fazem do cotidiano da Paraíba uma trágica rotina sob o Ricardo I.

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Olá, Rubão.
Foi triste. E nos foi uma verdade dolorida constatar que o Hospital de Traumas, tal como descreve Otomar Legório, se tornou um verdadeiro depósito humano.

Dona Socorro, minha mãe, jamais imaginou que o voto que confiantemente depositou no atual governador, que lhe prometeu em campanha uma Nova Paraíba, poderia ter lhe custado a própria vida.

Acometida de um AVC, e após eficientemente atendida pelo Samu – eficientes profissionais, registre-se – a nossa mãe foi levada ao traumatizante Trauma e, depois de um displicente atendimento, despejada em um corredor.

E nossa mãe teria sido mais uma vítima do descaso dessa gente má, ruim e perversa, caso não a tivéssemos removido imediatamente para um hospital particular. O que foi preponderante para seu pronto restabelecimento, e sem seqüelas, graças a Deus.

Tivemos condições de recorrer ao caro hospital particular. Mas, diante da maldade dessa gente, na “Nova Paraíba”, pelo visto, a grande maioria só poderá recorrer ao Pai Criador. Que Ele proteja a todos!

Abraço, Gusto.