Rubens Nóbrega

Não sei se o Eleitoral, o Estadual ou o Federal, mas algum Ministério Público há de tomar as dores da consciência mais cidadã para impedir ou anular mais um ato de governo com fartura de indícios de irregularidades e prejuízos aos cofres públicos.
O MP deve no mínimo abrir investigação para apurar mais uma milionária compra sem licitação feita pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Saúde, para adquirir cartilhas contra a dengue. Envolve recursos da ordem de R$ 3,5 milhões.
O negócio teria sido intermediado pelo empresário ou lobista Pietro Harley, que tem seu nome ligado a aquisições anteriores de publicação semelhante. Ele é acusado também de ter manejado dinheiro para suposto Caixa 2 de campanha do governador.
Há exatamente um ano, representando firma chamada Soluções AP, Pietro Harley vendeu à mesma Secretaria mais de 20 mil exemplares da plaqueta intitulada “Olimpíadas de Combate a Dengue”. Na época, faturou R$ 1.003.068,00.
Dessa vez, o fornecedor é a Editora DCL – Difusão Cultural do Livro Ltda. Mas o comprador é o mesmo: um governo comandado por Ricardo Coutinho, a quem Pietro Harley prestaria serviços desde quando o monarca era o alcaide da Filipéia.
MS fornece material de graça

Comprar cartilha contra a dengue seria compreensível e aceitável não fosse por um detalhe, lembrado anteontem da tribuna da Câmara Federal pelo deputado Manoel Júnior: o Estado poderia obter todo esse material de graça, do Ministério da Saúde.
O detalhe fundamenta a mais justa indignação do contribuinte consciente que se sinta lesado nesse episódio porque, além da cartilha, o Ministério da Saúde disponibiliza o kit publicitário mais completo que possa existir para orientar o combate à dengue.
A campanha federal, sob o título ‘Sempre é hora de combater a dengue’, oferece, entre outros impressos, adesivos, cartazes e painéis para rodoviárias, aeroportos etc.; banners, bonés e camisetas e artes para serem aplicadas em sacolas de supermercado.
O MS também produziu folders, sendo um específico para professores de escola pública, mais outdoor, faixas para adornar paredes de repartições, metrôs e textos curtos que podem vir nas contas de água, de luz, contracheques, extratos bancários…
Como se não bastasse, o Ministério conta ainda com filmes da melhor qualidade que bem poderiam substituir a publicidade com cara de propaganda eleitoral que o governador manda rodar no mais nobre e caro horário da televisão brasileira.
Harrison, a 1ª consequência

Lembram quando a candidata do governador a prefeita da Capital disse que o apoio de Cássio a Cícero Lucena teria “consequências”? Pois bem, a saída de Harrison Targino da Secretaria Estadual de Educação pode ter sido a primeira consequência.
Só não digo que foi mesmo porque a anunciada exoneração do advogado e professor Harrison Targino do cargo pode ter sido motivada por ele ter se recusado a autorizar a compra do kit escândalo contra a dengue pela Secretaria da Educação.
Desde ontem circulam informações de que em razão de sua postura o secretário passou a ser fritado em fogo brando, depois foi retirado da frigideira, escorreram-lhe o óleo e puseram na geladeira. A integridade do homem não aguentou o choque térmico.
Independentemente do que realmente possa ter acontecido para o Doutor Harrison “pedir o boné e pegar descendo”, como diria o filósofo João Costa, o fato é que sua saída do Ricardus I tem lhe rendido elogios até de adversários políticos.
O deputado Manoel Júnior, por exemplo, parabenizou o secretário por ter “refutado tal operação na véspera da eleição”, acrescentando que a compra das cartilhas contra a dengue ascenderia, na verdade, a mais de R$ 12 milhões.
Mais consequências no palanque

O senador Cássio Cunha Lima vem subindo nos palanques de Cícero e de outros candidatos a prefeito com tanto entusiasmo que suas participações o expõem mais como um candidato a governador em plena campanha do que simplesmente um líder apoiador.
Mas o que chama mesmo a atenção é a performance de showman e assédio de popstar que marcam as passagens de Cássio por comícios de correligionários e aliados em toda a Paraíba. De Bananeiras a Cajazeiras, do Pilar a Cruz das Armas, ele atrai multidões que o tratam como se fosse celebridade do mundo artístico e não do meio político.
Em momentos assim, não falta quem compare todo o frenesi em torno de Cássio à frieza e não raras hostilidades com que o governador Ricardo Coutinho é recebido em algumas atividades de campanha nas quais arrisca fazer uma presença.
Recentemente, em Bayeux, o monarca foi virtualmente ‘aberturado’ por uma irada senhora que acusou o imperador de estar cometendo uma “covardia” com Sara e Domiciano Cabral pelo fato de Sua Majestade estar apoiando o Doutor Expedito.
Quem testemunhou a cena contou-me que os guarda-costas reais tiveram que entrar em ação para livrar o rei das garras da ousada e indignada súdita. Mas não foi fácil, porque a mulher estava possessa.
A ex-prefeita e o deputado, todos sabem, apoiaram e votaram em Ricardo desde o primeiro turno das eleições de 2010. Expedito, então um maranhista de quatro costados, teria se convertido ao ricardismo somente há pouco mais de um ano.